Trabalhando

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Sessão da Câmara Municipal

sábado, 27 de março de 2021

Aqui se faz, aqui se paga

 


          Bastião viu um senhor apanhar restos de comida no cesto de lixo, e se aproximou dele. Era um senhor idoso, por volta de 70 anos. Aquilo, partiu o seu coração, mexeu, de certa forma, com o seu brio, ficou sem chão, quando percebeu que conhecia aquele idoso, de algum lugar; que, aquele homem não lhe era estranho. Percebeu, que, ao vê-lo, bem de pertinho, o velho se envergonhou, disfarçou, e, abaixou a cabeça, tentou se esconder. Mas, como a vida prega peças, que só o destino revela. Bastião o reconheceu e lhe disse:

          - Seu Zé, há quanto tempo não lhe via! O senhor era tão rico, fazendeiro de mão cheia, meu patrão; e, agora, tá nessa situação miserável; desgraçada?! O que houve?

          O velho envergonhado, fitou-lhe com os seus pequenos olhos verdes e lacrimejantes, e lhe respondeu:

          - Pois é, Bastião, bastou eu ficar velho e imprestável, que, os meus filhos, aqueles, que eu mais amei no mundo, jogassem-me numa prisão, como um trapo de chão; abandonado; não tiveram dó, nem piedade. Não aguentei a solidão, a saudade de viver livre, andar por aí... e, aqui, estou. Tomaram todo o meu dinheiro, meu patrimônio e me fizeram prisioneiro, refém, dentro da minha própria casa, no meu quarto. Eu não podia sequer, tomar um ar fresco... e me puseram de castigo, como se eu fosse um moleque; pior, como se eu fosse um bandido; um moribundo; e me tornei isso aqui, que você tá vendo. Eu me sinto melhor assim, pois, mendigo livre é mendigo rico e rico preso é rico pobre. Ando como fugitivo me escondendo deles.

          - E a sua aposentadoria?

          - Eles deram um jeito de me passar a perna e se apossaram de tudo. Tô sem nada mesmo. Pegaram meu cartão, minha senha; e é isso, tô na miséria.

          O ex-empregado, entristecido, emocionado, por ver seu ex-patrão nessa situação deplorável, tomou uma decisão...

          Cinco anos depois, parou um carro de luxo... e um mendigo, sentado na calçada, limpinha, todo esfarrapado, ao ver o homem descer do carrão, disse:

          - Me dá uma esmolinha aí, pelo amor de Deus!

          O homem, muito elegante, olhou pra ele e disse:

          - O que você está fazendo aí, amigo, nessas condições desumanas? Levanta-te e venha comigo... entra no carro!

          Agora, foi a vez do seu Zé salvar o seu ex-empregado. E no trajeto, dentro do carro, disse ao amigo, que, naquele dia, naquela lixeira, ele tinha sido o enviado de Deus, o seu anjo da guarda. Que a sua atitude, de ter ido à polícia e denunciado os seus filhos, por maus-tratos, salvou a sua vida, recuperou a sua fazenda, sua aposentadoria, toda a sua grana e estava riquíssimo de novo, e disse-lhe:

          - Bastião, eu lhe digo que, hoje, recuperei meus bens e meu dinheiro, minha aposentadoria, mas, quando fui mendigo, reconheci, que a liberdade e o amor são as maiores riquezas que alguém pode ter na vida. Obrigado, porque descobri que você é o meu maior amigo e me tirou da miséria.

          Bastião, adoentado, disse ao ex-mendigo:

          - Patrão, o mundo é mesmo engraçado, né? Quando lhe vi naquela situação, não acreditei, não era possível, um homem tão rico, tão bom, naquelas condições... Agora, fui eu quem levou uma paulada da vida, igualzinho o senhor, fiquei velho, doente e fui jogado fora de casa como um cachorro sem dono. Perdi tudo também, e nem aposentadoria eu tenho; e a única coisa que me sobrou foi a coragem de virar pedinte, foi o que fiz.

          Zé, levou o amigo ao hospital, tratou dele com o maior amor, respeito e amizade, e comprou todos os remédios; e hoje, os dois moram na fazenda, lado a lado, e Bastião, virou gerente da fazenda, agora tá rico também. Ficou aí o ditado: “Aqui se faz, aqui se paga”.

 



Prof. Osmar Fernandes em 27/03/2021
Código do texto: T7217093

 


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