Trabalhando

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Sessão da Câmara Municipal

domingo, 21 de abril de 2013

PRIMO BISINELLA - UM HOMEM DETERMINADO A VENCER



Biografia:

Nome: Primo Bisinella
Profissão: Empresário (aposentado);
Escolaridade: autodidata (alfabetizado);
Nascimento: 03/03/1926 (Erechim);
Filiação: pai – Antonio Bisinella, mãe - Joana Bisinella Longo;
Irmãos: Genáro, Isidoro, João, Sabino, Setembrino, Giovani, Maria, Barbara, Melania, Gisella, Palma e Giselle.
Cônjuge: Edelina Longo Bisinella, filha de: Affonso Longo e Pierina Lazari Longo (O casamento entre o Senhor Primo Bisinella e Dona Edelina, foi realizado na data de 15 de novembro de 1952, na cidade de Apucarana/PR, pelo Padre, hoje, Bispo na cidade de Cascavel/PR, Dom Armando Sírio);
Filhos: Ademir (falecido), Ivete, Cacilda, Elizete, Leonice, Luiz Affonso Bisinella e Tânia;
Netos: Tainá, Jéferson, Julia, Carlos, Ana, Gisella, Maria Clara, Joana, Ana Barbara e Bruno;
Bisnetos: Maria Eduarda e Ana Júlia.



História e Vida:

            O Senhor Primo Bisinella, narra a sua chegada, em Nova Londrina:

          O meu pai, Antonio Bisinella, Italiano de Treviso, província de Vicenza, tinha cinco (5) anos de idade, quando chegou ao Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Foi agricultor, músico, maestro e fundador da Banda Santa Cecília (A banda mais antiga do Rio Grande do Sul/RS). A música era a sua paixão, seu entretenimento.
          O meu irmão Isidoro, gaúcho de Nova Pádua, saiu da cidade de Videira/SC., onde trabalhávamos no ramo de comércio de Armazém (Secos & Molhados), e se instalou no povoado intitulado de Nova Londrina, em 1951, atraído pelo grande desenvolvimento da região noroeste do Estado do Paraná.
          O Isidoro me enviou uma foto do Mandiocão (Nome que ele batizou aquele lugar). Havia uma clareira, provavelmente, feita por índios, e semearam ramas de mandioca ali, que, germinaram e nasceram grandes árvores misturadas ao mato. O Veit, foi quem tirou a foto com o meu irmão, em cima de uma dessas árvores de mandioca.
          Quando cheguei, fiquei impressionado, admirado, pois eu não conhecia o sistema do sertanista, e, aqui, vim conhecer. Eu cheguei ao povoado de Nova Londrina no final de 1951, juntamente, com o Senhor Laudelino (pai da Vicentina), Valdomiro Ciesca (pai da Maria). O meu irmão Sabino veio depois com uma turma, e foram para o Sessenta e Quatro (64), onde se estabeleceram. Ali, era conhecido como “O Lugar dos Apertados”, lugar de muita confusão, muita briga... Tinha muito jagunço nessa região toda.
          Naquele tempo conheci muita gente: os Carlessos; os Pasas; os Lagoanos; o meu amigo José Fioravante Montanher; meu amigo-irmão – Leonardo Spadini - o grande líder cooperativista do Paraná e do Brasil e Fundador da Copagra de Nova Londrina; Silvestre Dresch; Leopoldo Lauro Bender; Armando Chiamulera; Maria Mulata – primeira moradora de Nova Londrina; e, muita gente que veio de todos os rincões do País e do mundo, atraídos pelo progresso do Estado e da região noroeste.
          A minha vinda para o Paraná, que eu chamo de meu Paraná, a princípio, era para abrir a terra e plantar o café. Esse era o entusiasmo da época. A Imobiliária Nova Londrina Ltda., dava muita facilidade para que a gente comprasse a terra.
          O que marcou mais a minha vida em Nova Londrina, não foi a história do café, porque, depois, o café desapareceu com a erradicação (fomos pagos para arrancar o café que plantamos), e nós tivemos que nos jogar em outro mundo de trabalho. A minha vida era o comércio, daí, eu comecei a andar pelas estradas, tropeando, a negociar burros, cavalos, ferramentas... Eu cheguei a comprar cem dúzias de machados para revender, pois, havia O MACHADEIRO (peão que trabalhava com o machado). No início do desbravamento dessa região não havia outra ferramenta para derrubar a mata, era necessário o machado e o homem do braço forte.
          Eu me lembro do Seu Vicente Soares Leite... Tinha lá no sítio dele, na Sangra Seca, um jumento, e, quando nós escutávamos o relinchado do bicho, sabíamos que ia chover, e a chuva vinha... Era o nosso relógio meteorológico. Eu me lembro também que, o primeiro batizado de uma Igreja Evangélica (Crente), de Nova Londrina, foi no Rio Tigre, em 1952, tinha muita gente do povoado, da região e até de Londrina. O primeiro pão que eu comi aqui foi feito pela mãe dos Ghering e a mulher do falecido Carlos, pois, naquela época, não tinha padeiro e nem pão no povoado. E, foram elas que me fizeram à primeira fornada de pão, em Nova Londrina.
          O Pe. José Bevilácqua tinha vindo de Barão de Cotegipe/RS, era sistemático, bravo, mas, chamou a atenção do povo quando começou a tratar de lagartos com feijão, arroz, e resto de comida (batia no prato e os lagartos vinham comer), os bichos passaram a acampar debaixo da casa dele, na casa paroquial. Era seu criamento de estimação. Era engraçado ver aquilo.
          Depois eu passei a trabalhar na Copagra (o meu filho Luiz, nasceu ali, na cooperativa), onde trabalhei por vinte e dois (22) anos. Trabalhei em tudo ali dentro, carregando saco, cimento, pedra, tijolo, etc., e, por fim, fui o gerente do Supermercado da Copagra, por 12 ou 15 anos. Ali, foi a maior luta da minha vida. Aprendi muito com o professor e grande crânio – Leonardo Spadini. Trabalhei e convivi com muita gente boa da Copagra: Sr. Luiz Paviani, Sady Paviani, Teobaldo Werlang, Bruno Veit, Dr. Olivier Grendene (médico que andou muito nos carreadores da região, a cavalo, para curar os doentes).
          Eu conheci isso aqui em mata virgem e me deparei muitas vezes com o rastro da onça... De Maringá pra cá era tudo carreador, estrada boiadeira, e hoje, vejo Nova Londrina com prédios que ajudei a construir. Pra mim, isso é um marco em minha vida, pois eu não imaginava que aquele lugarzinho tão pequeno iria se transformar numa cidade bem estruturada como é hoje. Eu tenho muita saudade daquele tempo e dos meus amigos.


O Rastro da Onça


          No início, era tudo mata fechada. A onça roubou uma carne de nosso rancho. As propriedades não tinham cercas, era tudo a céu aberto. As vacas eram mortas, matadas a tiros; não tinha mangueiras, não tinha cavalos e não tinha laços. Matava o gado à carabina, no meio da mata fechada. 
          Na boca da noite (igual agora, assim...) o gado se reunia, tinha medo da onça. O Foleto, açougueiro (irmão da Dona Esther) ia lá, dava um tiro na testa da vaca e a matava. 
          Aqui, foi que vim a conhecer a carne gorda “dois dedos de graxas”. Quando eu viajei pra Santa Catarina e disse que havia esse tipo de carne, quase apanhei, pois lá, o povo pensava que era mentira minha. 
          Numa dessas tardinhas, eu fui pegar cinco quilos de costela lá no “Foleto”, eu e o Artemio, meu sobrinho (filho da minha irmã, que veio pra Loanda), pra nós assarmos no outro dia e colocamos a carne num prego, dependurada, nos fundos do Rancho, porque não tinha geladeira, pra tomar a fresca da noite.  
          Noutro dia, eu fui lá no fundo, tinha uma privadinha, apertada, mal me cabia, e via pela fresta e não via mais a carne dependura no rancho. Eu falei: poxa lá vida, o cachorro roubou a carne! Eu saí e chamei meu sobrinho, falecido, Artemio (morto em Londrina). Eu lhe perguntei se tinha guardado a carne, e, ele me disse que não. Eu lhe disse que a carne não estava mais lá, e ele me falou “hahahahahahahaha” os cachorros, provavelmente, roubaram a carne. 
          Eu então fui ao açougue para comprar mais costela e o Foleto me disse assim: “Você já comeu aquela carne que levou daqui? ”. Eu lhe disse que não, que a carne tinha sido roubada. E ele me responde, dizendo: “Aqui não tem ladrão! ”. Eu lhe disse, então: Foram os cachorros! Ele me respondeu: “Aqui não tem cachorros! ”. Mas, eu insisti para que me desse logo à carne, pois eu queria ir embora. E ele não acreditando, disse-me: “Então, vamos lá ver”. Chegamos lá, onde estava dependurada a carne e nos deparamos com a pata da onça cravada nas paredes do Rancho, e saímos, seguindo o rastro da onça pelo carreiro, por onde ela arrastou a carne, e podemos ver na areia as suas pegadas e, chegamos lá no bosque, onde ela estava comendo a nossa carne e a matamos.

         Mensagem  para posteridade:                                 
      “Afinal, valeu todo o meu sacrifício e todo o meu esforço, pois, eu e a minha esposa criamos a nossa família com fartura, união e trabalho. Colocamos a família sempre em primeiro lugar”.

          Seu Primo, faleceu na data de 04 de abril de 2019.

Mural de fotos:















Obs.:

 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR. PROIBIDO COPIAR, DIVULGAR SEM A PERMISSÃO POR ESCRITO DO AUTOR - OSMAR SOARES FERNANDES.

Um comentário:

Unknown disse...

Conheci quase todos os personagens citados. A história é realmente essa. A vida era como é contado aqui. As onças existiam de fato e impunham medo.

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