A peste negra é uma doença
pulmonar causada pela bactéria Yersinia pestis; recebeu este nome por
ter como um dos sintomas o aparecimento de manchas negras sobre o corpo. A
princípio os sintomas aparecem em torno de 3 a 7 dias, apresentando tipicamente
febre, cefaleia, fadiga, enjoos, vômitos e convulsões.
As
cidades não contavam com redes de esgoto e o lixo era atirado nas ruas. Nessas
circunstâncias eram frequentes as epidemias, que se propagavam rapidamente por
causa das baixas condições de higiene.
No
século XIV, na baixa Idade Média, boa parte da população Europeia morreu vítima
da Peste Negra. Esse era o nome de uma doença que chegou à Europa em 1347. Transmitida pela pulga de ratos que
vieram do Oriente em navios, essa doença tem sua origem no continente asiático,
precisamente na China. Calcula-se que entre 1348 e 1352, um terço da população
europeia tenha sido dizimada pela peste negra.
Assim
como a Aids, a peste negra foi considerada por muitos um castigo divino contra
os hábitos pecaminosos da sociedade. Na época, as cidades medievais agrupavam
desordeiramente uma grande quantidade de pessoas. O lixo e o esgoto corriam a
céu aberto, atraindo insetos e roedores portadores da peste. Os hábitos de
higiene pessoal ofereciam grande risco, pois os banhos não faziam parte da
rotina das pessoas. Além disso, os aglomerados urbanos contribuíram enormemente
para a rápida proliferação da peste. Ao chegar a uma cidade, a doença se
instalava durante um período entre quatro e cinco meses.
Relatos
da época mostram que a doença foi tão grave e fez tantas vítimas que faltavam
caixões e espaços nos cemitérios para enterrar os mortos. Os mais pobres eram
enterrados em valas comuns, apenas enrolados em panos.
O
preconceito com a doença era tão grande que os doentes eram, muitas vezes,
abandonados, pela própria família, nas florestas ou em locais afastados. A
doença foi sendo controlada no final do século XIV, com a adoção de medidas higiênicas
nas cidades medievais.
O escritor italiano Boccaccio disse que as
vítimas normalmente, "almoçavam com seus amigos e jantavam com seus
ancestrais no paraíso”.
Assim
descreve Bocaccio os sintomas:
"Apareciam,
no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas,
algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo;
cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o
aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra
ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros
lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas;
em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o
bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram
a ser mortais".
Retrata,
a seguir, a situação de caos que se instalou na cidade: "Entre tanta
aflição e tanta miséria de nossa cidade, a autoridade das leis, quer divinas
quer humanas desmoronara e dissolvera-se. Ministros e executores das leis,
tanto quanto outros homens, todos estavam mortos, ou doentes, ou haviam perdido
os seus familiares e assim não podiam exercer nenhuma função. Em consequência
de tal situação permitia-se a todos fazer aquilo que melhor lhes
aprouvesse".
As consequências
sociais, demográficas, econômicas, culturais e religiosas dessa grande
calamidade que se abateu sobre os povos da Ásia e da Europa, foram imensas. As
cidades e os campos ficaram despovoados; famílias inteiras se extinguiram;
casas e propriedades rurais ficaram vazias e abandonadas, sem herdeiros legais;
a produção agrícola e industrial reduziu-se enormemente; houve escassez de
alimentos e de bens de consumo; a nobreza se empobreceu; reduziram-se os
efetivos militares e houve ascensão da burguesia que explorava o comércio. O
poder da Igreja se enfraqueceu com a redução numérica do clero e houve
sensíveis mudanças nos costumes e no comportamento das pessoas. “DECAMERON,
CONSIDERADO PELA CRÍTICA ESPECIALIZADA, COMO O MARCO INAUGURAL DA MODERNA
NOVELA OCIDENTAL, FOI ESCRITO POR GIOVANNI BOCCACCIO, ENTRE OS ANOS DE 1348 E
1353 ― PORTANTO, NA VIGÊNCIA DA MAIOR TRAGÉDIA DEMOGRÁFICA QUE A EUROPA
CONHECEU, NA IDADE MÉDIA”.
A
peste negra foi a maior, mas não a última das epidemias. A doença perseverou
sob a forma endêmica por muitos anos e outras epidemias menores, localizadas,
foram registradas nos séculos seguintes. Citam-se como surtos mais importantes
a peste de Milão, no século XVI (190.000 mortes), a peste de Nápoles, em 1656,
a peste de Londres em 1655 (70.000 mortes), a de Viena em 1713 e a de Marselha
em 1720.
Entre
1894 e 1912 houve uma outra pandemia que teve início na Índia (11 milhões de
mortes), estendendo-se à China, de onde trasladou-se para a costa do Pacífico,
nos Estados Unidos.
No
Brasil, a peste entrou pelo porto de Santos em 1899 e propagou-se a outras
cidades litorâneas. A partir de 1906 foi banida dos centros urbanos,
persistindo pequenos focos endêmicos residuais na zona rural.
Uma
das últimas epidemias de peste bubônica ocorreu na Argélia em 1944, tendo
inspirado a Albert Camus, prêmio Nobel de literatura, o romance "A
peste".
O
terrível flagelo da peste inspirou a imaginação criativa de pintores famosos.
Os quadros mais notáveis são: "A peste em Atenas", do pintor belga
Michael Sweerts (1624-1664), "A peste em Nápoles", de Domenico
Gargiulo (1612-1679), "O triunfo da morte", do pintor belga Pieter
Breugel (1510-1569), e "São Roque", de Bartolomeo Mantegna (1450-1523).
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