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Sessão da Câmara Municipal

sexta-feira, 10 de março de 2017

Peste negra

Boccaccio disse que as vítimas normalmente, "almoçavam com seus amigos e jantavam com seus ancestrais no paraíso”.
       A peste negra é uma doença pulmonar causada pela bactéria Yersinia pestis; recebeu este nome por ter como um dos sintomas o aparecimento de manchas negras sobre o corpo. A princípio os sintomas aparecem em torno de 3 a 7 dias, apresentando tipicamente febre, cefaleia, fadiga, enjoos, vômitos e convulsões.
As cidades não contavam com redes de esgoto e o lixo era atirado nas ruas. Nessas circunstâncias eram frequentes as epidemias, que se propagavam rapidamente por causa das baixas condições de higiene.
No século XIV, na baixa Idade Média, boa parte da população Europeia morreu vítima da Peste Negra. Esse era o nome de uma doença que chegou à Europa em 1347. Transmitida pela pulga de ratos que vieram do Oriente em navios, essa doença tem sua origem no continente asiático, precisamente na China. Calcula-se que entre 1348 e 1352, um terço da população europeia tenha sido dizimada pela peste negra.
Assim como a Aids, a peste negra foi considerada por muitos um castigo divino contra os hábitos pecaminosos da sociedade. Na época, as cidades medievais agrupavam desordeiramente uma grande quantidade de pessoas. O lixo e o esgoto corriam a céu aberto, atraindo insetos e roedores portadores da peste. Os hábitos de higiene pessoal ofereciam grande risco, pois os banhos não faziam parte da rotina das pessoas. Além disso, os aglomerados urbanos contribuíram enormemente para a rápida proliferação da peste. Ao chegar a uma cidade, a doença se instalava durante um período entre quatro e cinco meses.
Relatos da época mostram que a doença foi tão grave e fez tantas vítimas que faltavam caixões e espaços nos cemitérios para enterrar os mortos. Os mais pobres eram enterrados em valas comuns, apenas enrolados em panos.
O preconceito com a doença era tão grande que os doentes eram, muitas vezes, abandonados, pela própria família, nas florestas ou em locais afastados. A doença foi sendo controlada no final do século XIV, com a adoção de medidas higiênicas nas cidades medievais.
O escritor italiano Boccaccio disse que as vítimas normalmente, "almoçavam com seus amigos e jantavam com seus ancestrais no paraíso”.
Assim descreve Bocaccio os sintomas:
"Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais".
Retrata, a seguir, a situação de caos que se instalou na cidade: "Entre tanta aflição e tanta miséria de nossa cidade, a autoridade das leis, quer divinas quer humanas desmoronara e dissolvera-se. Ministros e executores das leis, tanto quanto outros homens, todos estavam mortos, ou doentes, ou haviam perdido os seus familiares e assim não podiam exercer nenhuma função. Em consequência de tal situação permitia-se a todos fazer aquilo que melhor lhes aprouvesse".
As consequências sociais, demográficas, econômicas, culturais e religiosas dessa grande calamidade que se abateu sobre os povos da Ásia e da Europa, foram imensas. As cidades e os campos ficaram despovoados; famílias inteiras se extinguiram; casas e propriedades rurais ficaram vazias e abandonadas, sem herdeiros legais; a produção agrícola e industrial reduziu-se enormemente; houve escassez de alimentos e de bens de consumo; a nobreza se empobreceu; reduziram-se os efetivos militares e houve ascensão da burguesia que explorava o comércio. O poder da Igreja se enfraqueceu com a redução numérica do clero e houve sensíveis mudanças nos costumes e no comportamento das pessoas. “DECAMERON, CONSIDERADO PELA CRÍTICA ESPECIALIZADA, COMO O MARCO INAUGURAL DA MODERNA NOVELA OCIDENTAL, FOI ESCRITO POR GIOVANNI BOCCACCIO, ENTRE OS ANOS DE 1348 E 1353 ― PORTANTO, NA VIGÊNCIA DA MAIOR TRAGÉDIA DEMOGRÁFICA QUE A EUROPA CONHECEU, NA IDADE MÉDIA”.
A peste negra foi a maior, mas não a última das epidemias. A doença perseverou sob a forma endêmica por muitos anos e outras epidemias menores, localizadas, foram registradas nos séculos seguintes. Citam-se como surtos mais importantes a peste de Milão, no século XVI (190.000 mortes), a peste de Nápoles, em 1656, a peste de Londres em 1655 (70.000 mortes), a de Viena em 1713 e a de Marselha em 1720.
Entre 1894 e 1912 houve uma outra pandemia que teve início na Índia (11 milhões de mortes), estendendo-se à China, de onde trasladou-se para a costa do Pacífico, nos Estados Unidos.
No Brasil, a peste entrou pelo porto de Santos em 1899 e propagou-se a outras cidades litorâneas. A partir de 1906 foi banida dos centros urbanos, persistindo pequenos focos endêmicos residuais na zona rural.
Uma das últimas epidemias de peste bubônica ocorreu na Argélia em 1944, tendo inspirado a Albert Camus, prêmio Nobel de literatura, o romance "A peste".
O terrível flagelo da peste inspirou a imaginação criativa de pintores famosos. Os quadros mais notáveis são: "A peste em Atenas", do pintor belga Michael Sweerts (1624-1664), "A peste em Nápoles", de Domenico Gargiulo (1612-1679), "O triunfo da morte", do pintor belga Pieter Breugel (1510-1569), e "São Roque", de Bartolomeo Mantegna (1450-1523).



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