A constituição brasileira protege a vida humana sem
distinções. Ela considera que a vida se inicia na fecundação do espermatozoide
no óvulo, passando, a partir desse momento, a garantir ao embrião todos os
direitos civis. O Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu capítulo I,
intitulado Do Direito à Vida e à Saúde, também protege o embrião desde a
concepção. O “ECA” cita especificamente, que devem existir condições para
efetivar o nascimento
De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), mais de 8,7 milhões de brasileiras com idade
entre 18 e 49 anos já fizeram ao menos um aborto na vida. Destes, 1,1 milhão de
abortos foram provocados.
O Código Penal prevê prisão de um a três anos para quem
aborta de propósito. Só há três casos em que o aborto provocado é legal: quando
não há meio de salvar a vida da mãe, quando a gravidez resulta de estupro e
quando o feto é anencéfalo.
Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida em
potencial. No caso do anencéfalo, não existe vida possível. “O feto anencéfalo
é biologicamente vivo, por ser formado por células vivas, e juridicamente
morto, não gozando de proteção estatal” — Marco Aurélio Mello.
O aborto tem cor e renda. No Nordeste, por exemplo, o
percentual de mulheres sem instrução que fizeram aborto provocado (37% do total
de abortos) é sete vezes maior que o de mulheres com ensino superior completo
(5%).
Em março de 2007 o instituto de pesquisas Datafolha, do
jornal Folha de S. Paulo, realizou uma pesquisa que revelou que 65% dos
brasileiros acreditam que a atual legislação sobre o aborto não deve ser
alterada no país, enquanto que 16% disseram que deveria ser expandida para
permitir a prática por outros motivos, 10% que o aborto deveria ser
descriminalizado e 5% declararam não terem certeza de sua posição sobre o
assunto. A última pesquisa sobre o assunto foi em dezembro de 2010, e também
realizada pelo instituto de pesquisas Vox Populi, o estudo estatístico revelou
aumento da rejeição ao aborto, 82% dos brasileiros acreditam que a atual
legislação sobre o aborto não deve ser alterada, enquanto que 14% disseram que
deveria ser descriminalizado e 4% declararam não terem certeza de sua posição
sobre o assunto.
No início de 2012, um grupo de
juristas elaborou um anteprojeto para o novo Código Penal brasileiro em que o
aborto se torna legal em outras situações além dos três casos já permitidos,
estupro, risco de vida à mulher e feto anencefálico. As mudanças ainda não
foram para votação e serão transformadas em projeto de lei. Apesar de aumentar os casos em que
a mulher pode abortar, os juristas decidiram por manter proibida a interrupção
voluntária da gravidez sem causa explícita. Além de alterar a legislação
sobre o aborto no país, o projeto prevê a alteração da lei sobre a eutanásia.
Os casos em que o aborto
seria permitido são, além dos casos já previstos em lei:
2.
Quando o feto for anencéfalo ou tiver grave doença de
formação que o tornará inviável, caso ainda em análise pelo STF. Por escolha da gestante, mas com a confirmação do médico de que a
mulher não tem condições mentais de arcar com a gravidez.
NÃO HÁ CRIME DE ABORTO SE:
I – houver risco à vida ou à saúde da gestante. II – a gravidez resulta de violação da dignidade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida;
III –
comprovada a anencefalia ou quando o feto padecer de graves e incuráveis
anomalias que inviabilizem a vida independente, em ambos os casos atestado
por dois médicos.
IV –
por vontade da gestante até a 12ª semana da gestação, quando o médico ou
psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições de arcar com a
maternidade.
—Art.
128 aprovado por juristas.
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Caso
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Pena atual
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Nova pena
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Mulher que aborta ilegalmente
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1 a 3 anos de detenção
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Seis meses a 2 anos de detenção
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Quem provoca o aborto ilegalmente
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3 a 10 anos de detenção
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4 a 10 anos de detenção
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A QUESTÃO DO ABORTO
Que a pessoa tenha dinheiro para pagar, o aborto é permitido no Brasil. Se a mulher for pobre, porém, precisa provar que foi estuprada ou estar à beira da morte para ter acesso a ele. Como consequência, milhões de adolescentes e mães de família que engravidaram sem querer recorrem ao abortamento clandestino, anualmente. A técnica desses abortamentos geralmente se baseia no princípio da infecção: a curiosa introduz uma sonda de plástico ou agulha de tricô através do orifício existente no colo do útero e fura a bolsa de líquido na qual se acha imerso o embrião. Pelo orifício, as bactérias da vagina invadem rapidamente o embrião desprotegido. A infecção faz o útero contrair e eliminar seu conteúdo. O procedimento é doloroso e sujeito a complicações sérias, porque nem sempre o útero consegue livrar-se de todos os tecidos embrionários. As membranas que revestem a bolsa líquida são especialmente difíceis de eliminar. Sua persistência na cavidade uterina serve de caldo de cultura para as bactérias que subiram pela vagina, provoca hemorragia, febre e toxemia. A natureza clandestina do procedimento dificulta a procura por socorro médico, logo que a febre se instala. Nessa situação, a insegurança da paciente em relação à atitude da família, o medo das perguntas no hospital, dos comentários da vizinhança e a própria ignorância a respeito da gravidade do quadro colaboram para que o tratamento não seja instituído com a urgência que o caso requer. A septicemia resultante da presença de restos infectados na cavidade uterina é causa de morte frequente entre as mulheres brasileiras em idade fértil. Para ter ideia, embora os números sejam difíceis de estimar, se contarmos apenas os casos de adolescentes atendidas pelo SUS para tratamento das complicações de abortamentos no período de 1993 a 1998, o número ultrapassou 50 mil. Entre elas, 3.000 meninas de dez a quatorze anos. Embora cada um de nós tenha posição pessoal a respeito do aborto, é possível caracterizar três linhas mestras do pensamento coletivo em relação ao tema. Há os que são contra a interrupção da gravidez em qualquer fase, porque imaginam que a alma se instale no momento em que o espermatozoide penetrou no óvulo. Segundo eles, a partir desse estágio microscópico, o produto conceptual deve ser sagrado. Interromper seu desenvolvimento aos dez dias da concepção constituiria crime tão grave quanto tirar a vida de alguém aos 30 anos depois do nascimento. Para os que pensam assim, a mulher grávida é responsável pelo estado em que se encontra e deve arcar com as consequências de trazer o filho ao mundo, não importa em que circunstâncias. No segundo grupo, predomina o raciocínio biológico segundo o qual o feto, até a 12ª semana de gestação, é portador de um sistema nervoso tão primitivo que não existe possibilidade de apresentar o mínimo resquício de atividade mental ou consciência. Para eles, abortamentos praticados até os três meses de gravidez deveriam ser autorizados, pela mesma razão que as leis permitem a retirada do coração de um doador acidentado cujo cérebro se tornou incapaz de recuperar a consciência. Finalmente, o terceiro grupo atribui à fragilidade da condição humana e à habilidade da natureza em esconder das mulheres o momento da ovulação, a necessidade de adotar uma atitude pragmática: se os abortamentos acontecerão de qualquer maneira, proibidos ou não, melhor que sejam realizados por médicos, bem no início da gravidez. Conciliar posições díspares como essas é tarefa impossível. A simples menção do assunto provoca reações tão emocionais quanto imobilizantes. Então, alheios à tragédia das mulheres que morrem no campo e nas periferias das cidades brasileiras, optamos por deixar tudo como está. E não se fala mais no assunto. A questão do aborto está mal posta. Não é verdade que alguns sejam a favor e outros contrários a ele. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer. Não há princípios morais ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de tantas meninas e mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a respeito do instante em que a alma se instala num agrupamento de células embrionárias, quando quem está morrendo são as filhas dos outros. Os legisladores precisam abandonar a imobilidade e encarar o aborto como um problema grave de saúde pública, que exige solução urgente.
Drauzio Varella:
Publicado (18/04/2011) fonte:
http://drauziovarella.com.br/mulher-2/gravidez/a-questao-do-aborto/
Drauzio Varella:
Publicado (18/04/2011) fonte:
http://drauziovarella.com.br/mulher-2/gravidez/a-questao-do-aborto/
Art. 128 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de
Dezembro de 1940
Art. 128 - Não se pune
o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto
necessário
I -
se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro:
II -
se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
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