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Sessão da Câmara Municipal

domingo, 18 de junho de 2017

José de Alencar Romancista, jornalista, advogado e político brasileiro



Biografia de José de Alencar

José de Alencar (1829-1877) foi um romancista, dramaturgo, jornalista, advogado e político brasileiro. Foi um dos maiores representantes da corrente literária indianista. Destacou-se na carreira literária com a publicação do romance "O Guarani", em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro, onde alcançou enorme sucesso. Seu romance "O Guarani" serviu de inspiração ao músico Carlos Gomes que compôs a ópera O Guarani. Foi escolhido por Machado de Assis para patrono da Cadeira nº23 da Academia Brasileira de Letras.
José de Alencar consolidou o romance brasileiro ao escrever movido por sentimento de missão patriótica. O regionalismo presente em suas obras abriu caminho para outros sertanistas preocupados em mostrar o Brasil rural.
José de Alencar criou uma literatura nacionalista onde se evidencia uma maneira de sentir e pensar tipicamente brasileiras. Suas obras são especialmente bem sucedidas quando o autor transporta a tradição indígena para a ficção. Tão grande foi a preocupação de José de Alencar em retratar sua terra e seu povo que muitas das páginas de seus romances relatam mitos, lendas, tradições, festas religiosas, usos e costumes observados pessoalmente por ele com o intuito de cada vez mais abrasileirar seus textos.
José de Alencar (1829-1877) nasceu no sítio Alagadiço Novo, Messejana, Fortaleza, Ceará, no dia 1 de maio de 1829. Filho de José Martiniano de Alencar, senador do império e de Ana Josefina, em 1838 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Com 10 anos de idade ingressou no Colégio de Instrução Elementar. Com 14 anos foi para São Paulo, onde terminou o curso secundário e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Em 1847 escreveu seu primeiro romance "Os Contrabandistas" (obra inacabada). Em 1850 concluiu o curso de Direito, mas pouco exerceu a profissão. Ingressou no Correio Mercantil em 1854, na seção "Ao Correr da Pena", onde escreveu os acontecimentos sociais, as estreias de peças teatrais, os novos livros e as questões políticas. Em 1856 passou a ser o redator chefe do "Diário do Rio", onde publicou seu primeiro romance "Cinco Minutos". No 1 de janeiro de 1857 começou a publicar o romance "O Guarani", em forma de folhetim, que alcançou enorme sucesso e logo foi editado em livro.
Em 1858 abandonou o jornalismo para ser Chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, onde chegou a Consultor. Recebeu o título de Conselheiro. Nessa mesma época passa a lecionar Direito Mercantil. Foi eleito deputado pelo Estado do Ceará em 1861, pelo partido Conservador, sendo reeleito em quatro legislaturas. Na visita a sua terra Natal se encanta com a lenda de "Iracema" e a transforma em livro.
Famoso, a ponto de ser aclamado por Machado de Assis como "o chefe da literatura nacional". José de Alencar morreu aos 48 anos no Rio de Janeiro vítima da tuberculose, deixando seis filhos, inclusive Mário de Alencar, que seguiria a carreira de letras do pai.
José de Alencar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de dezembro de 1877.

Obras de José de Alencar

Cinco Minutos, romance, 1856;
Cartas Sobre a Confederação dos Tamoios, crítica, 1856;
O Guarani, romance, 1857;
Verso e Reverso, teatro, 1857;
A Viuvinha, romance, 1860;
Lucíola, romance, 1862;
As Minas de Prata, romance, 1862-1864-1865;
Diva, romance, 1864;
Iracema, romance, 1865;
Cartas de Erasmo, crítica, 1865;
O Juízo de Deus, crítica, 1867;
O Gaúcho, romance, 1870;
A Pata da Gazela, romance, 1870;
O Tronco do Ipê, romance, 1871;
Sonhos d'Ouro, romance, 1872;
Til, romance, 1872;
Alfarrábios, romance, 1873;
A Guerra dos Mascate, romance, 1873-1874;
Ao Correr da Pena, crônica, 1874;
Senhora, romance, 1875;
O Sertanejo, romance, 1875.

Mas José de Alencar foi também poeta, embora sua obra seja menos conhecida. Além de peças de teatro em versos e poemas longos, também escreveu sonetos e outros textos mais breves, alguns reproduzidos em seguida:


          A VALSA

          I

ESTRUGE a orquestra, ressoa
A valsa alegre e brilhante.
Abre roda o bando; voa
O turbilhão deslumbrante.

Pelo braço do amante que a estremece,
Linda virgem se embala docemente:
São noivos. Flui do casto amor primeiro
No sorriso a delícia rubescente.

Mas ela pára. Chega um cavalheiro
E a arrebata na valsa que a fascina;
Delira o pé gentil; erguida a fímbria
Da perna ostenta a carnação divina.

Foge do moço a cor ao rosto, e a vida
Como se a alma do corpo se partira.
Não crê, duvida ainda, alonga os olhos;
Antes morrera, ou nunca mais a vira.

II

O ritornello festivo
Na sala a música solta;
E o par no abraço lascivo
Gira, passa, foge e volta.

Sente fel no sorriso contraído
O moço que de amor sorria há pouco:
Amargo escárnio verte o lábio trémulo;
A turba ouviu, pensando ouvir um louco.

"Nobre dama da Itália a formosura
No esplendor da nudez despia à vista,
Vivo modelo de brilhante quadro
Que enlevada sonhara alma de artista."

"Mas génio era o pintor; a tela frágil
Página eterna de sublime história;
O pudor se imolava a tanto orgulho,
Mas vivia a beleza unida à glória."

"Hoje se entrega em douda valsa a dama
Ao cavalheiro, e deste àquele passa.
Tateia mão profana o lindo talhe
Como se amolda um corpo em gesso ou massa."

"Nem a mão é do génio, nem ó toque
Acende o estro que o poeta inspira,
Só desflora a beleza a branca luva
Do saltarello que na sala gira."

"Prejuízos! Tem sede uma alma exausta
De fortes emoções. Deliba a virgem
De ignoto gozo em êxtase a primícia.
Que a preme o noivo, cisma na vertigem.. .

"O folguedo inocente a festa anima;

Frui a vida a travessa juventude;

Estátua mesmo nua é dama ilustre,
Quando a beleza veste-lhe a virtude."

III

Desgrenha-se a valsa agora
Radiante de harmonia.
"— Mais uma volta, senhora," —
À donzela o par dizia.

" — Mais uma volta! Repetiu o amante.
A fadiga o prazer brincando arrostra;

Mais sedutora a valsa é no abandono
Do cansaço que os frouxos membros prostra."

"Vede! As cores acendem; arfa o seio;

No lábio freme o hábito ofegante;

Mole a fronte reclina; os olhos languem;

Nerva o desejo o corpo palpitante."





"Nunca viste render-se a castidade
Soluçando num beijo o amor estreme?
Não; não viste! O mistério puro e santo
Foge Q raio da luz;, de ver-se teme."

"Pois o baile o desvenda. Ei-lo sem pejo
Da turba aos olhos ávidos s'ofrece.
Ceva-se a vista ardente nos contornos
Do talhe qu'em requebros transparece."

“Cobrem rendas e seda as formas tépidas?
Velam sombras também o níveo leito;
O que aos olhos se oculta sente o tato
Dos corpos que conchega o enlace estreito."

"Valsai, valsai, bacantes! No delírio
Ao corso do prazer siga o tripúdio.
O mundo é vário, aplaude a mais formosa,
Nem receia a loureira um vão repúdio."

"Finda a valsa. O elegante cavalheiro   -       '
Leva a dama ao marido, à mãe a filha;

Esposa e virgem, ambas profanadas
Desbota a face em que a volúpia brilha."


IV

Da valsa o eco expirante
Geme ainda pela sala;
A virgem busca o amante;
Não o vê; ouve-lhe a fala.

"Eras luz; ficaste em treva;
Inda botão, já murchaste;
Seca flor que o vento leva,
No pó, no lodo, roscaste.

"Amei; era amor profundo;
Não foi por ti que o senti.
Anjo meu, fugiste ao mundo!. ..
Mulher.. . eu nunca te vi."

V

Da história o fim referem que foi este:
Casa a moça com rico pretendente;
Tem de homem a figura, a alma no bolso
Carece de mulher que represente.

Dizem que são felizes; acredito.
Joga ele o voltarete; a mulher dança;
De primeira valsista ganhou fama,
Estrompa sete pares e não cansa.

A dez apaixonados corresponde;
Lembrança do passado não lhe pesa,
Mas, vaidade ou costume, inda provoca
O seu antigo amante que a despreza.

1860


TIJUCA

   (A D. HELENA COCKRANE)

SALVE, rochedos agrestes!
Salve, Tijuca louçã!
Quando, ao raiar da manhã,
As alvas névoas tu vestes,
Como és formosa, montanha,
Ao sol que a face te banha!

Vós, Senhora, que habitais
Aqui, na mansão florida,
Sabeis como é doce a vida
Neste remanso da paz.
Que dias gozei serenos,
Sob estes climas amenos!

Traz a brisa aqui, na asas,
Da celeste eflorescência
Doce pólen de existência,
Coado por entre as gazas
Deste azul sempre luzente,
Que aveluda um céu ridente.

Aqui a rosa floresce
Nos campos, porém mais bela
Vem nas faces da donzela,
Donde nativa parece.

Ai, que rosas de carinhos,
Têm perfumes sem espinhos!
Nesta serra alcantilada,
Que o cimo às nuvens remonta,
Como que o éden esponta
À alma na terra exilada;
E os anjos dos vales seus
Ficam mais perto de Deus.

Calmo e doce paraíso!
Não dar-me o Senhor poder
Sempre em teu seio viver!...
Me fora a vida sorriso,
E a delícia do teu ermo
Me sanara o corpo enfermo.

Adeus, ó serra gentil,
Adeus, Tijuca risonha!
Ausente; contigo sonha
Quem te viu encantos mil.
Adeus, formosa montanha,
Ai, que saudade tamanha!...

(28 de fevereiro 1864.)





EPITÁFIO DE UMA FLOR

   (A UM amor-perfeito QUE SECARA EM UM ÁLBUM)

SOLITÁRIA nesta folha
Por que te deixaram, flor?
És tu lembrança de amor,
,Que assim também já murchou?

?Tudo passa neste mundo,
'Um só dia vive a flor;
E como à rosa, no amor
Da tarde o vento espalhou.

Dorme aqui, dorme esquecida,
Seca múmia de uma flor:
Tu'alma — o perfeito amor —
Para sempre ao céu voou.


SE EU FORA POETA

    (A D. GEORGIANA)

Quando a lua, surgindo no horizonte,
Vem de luz orvalhar-te a linda face;

Em que cismas se enleia, doce virgem,
Tu'alma pura como a flor que nasce!
Bebes, filha do céu, nos brandos lumes
De teu olhar a mágica doçura?
Ou do seio de Deus um anjo desce
Ao teu seio no raio que fulgura?

Foi ontem. Carinhosa e terna a lua
Beijava o teu semblante; e as brancas vestes
Acetinando, a fronte te perlava
D'aljôfares de luz, joias celestes.

Tu sorrias. De vaidade estreme
Te deixavas toucar dos véus fulgentes.
Quanto eras bela assim de luz cingida,
Modesta virgem, nem sequer pressentes.

Calou-se a noite. No silêncio augusto
Fugiu a soluçar a onda trépida.
E a brisa, longe, perpassando a medo,
Sussurrou na floresta leve e crépida.

Pelos montes-que a lua prateava
Teu vago olhar correu fagueira a vista.
Tudo admiravas, tudo, o céu e à terra,
Eu resumia em ti um Deus artista.

"— Ah quem me dera" murmurou teu lábio,
"Ser poeta, cantar a natureza
E dizer quanto eu sinto contemplando
Desta noite suave a alma beleza!"

Oh! não deves dizer, cândida virgem!
Não diz a flor como o perfume estila,
A pérola não diz como se forma,
Nem fala a estrela que no céu cintila.

Quanto cismas no casto devaneio,
Vaza tua alma nesse olhar divino;
É sublime poema o teu sorriso,
No gesto meigo tens da graça um hino.

Deu-te Deus a poesia como os raios
Deu ao sol, porque ao mundo a luz desfira;
Teu poder é maior: crias poetas.
Cumpre o teu fado, virgem loura, inspira!

Março de 1864.

ZELOS
TENHO ciúme
Do ar que gira
E que respira
O teu perfume.
Tenho ciúme
Da luz que bebe
Nos olhos d'Hebe
O brando lume.
Tenho ciúme
Desse retiro
Que ouve o suspiro
Do teu queixume.
Tenho ciúme
Da flor, senhora,
Que em ti adora
Celeste nume.
Tenho ciúme
De quanto existe
Que me fez triste
E me consome.
Cidade do Rio, 25 de fevereiro de 1889.

DECEPÇÃO
ADEUS! Para sempre adeus!
Vou-me de ti; fica em paz.
Volva o riso aos olhos teus,
Não te verei nunca mais.
Adeus! Para sempre adeus!
Nem que teu semblante puro
Perpasse ante os olhos meus,
Não te verei: eu te juro.
Adeus! Para sempre adeus!
De minh'alma a luz cegaste;
A virgem dos sonhos meus
Tu brincando a trucidaste.
Adeus! Para sempre adeus!
Encantos que me enlevaram
Tua beleza, perdeu-os,
Que olhos d'outrem profanaram.
Adeus! Para sempre adeus!
Foste um anjo, uma visão.
Agora aos olhos ateus
Sombra és tu de uma ilusão.
Para sempre adeus! Repousa
Quem fui no que sou em paz.
Lê nesta fronte que é lousa:
"Morreu sua alma. Aqui jaz".

NORMA

          (A LAGRANOE)
TODA a harmonia sublime
Tem uma tecla, uma fibra,
Uma palavra que a exprime,
Corda suave que vibra.
Canta o poeta na lira,
Na praia a vaga suspira,
Gemendo soluça o vento
Dos mares na solidão;
Mas a ti por instrumento
Deu-te Deus o coração.
Nessa harpa do sentimento
Todas as vozes são hinos,
Transforma-se o pensamento
Em mil poemas divinos.
Quando tua alma celeste
Formas do génio reveste,
Há no canto um drama vivo,
Cada som cria uma ideia,
E com teu gesto incisivo
Escreves uma epopeia.
GILDA
          (A LAGRANGE)
Eu TENHO visto sorrisos
Brilhar num rosto gentil;
Tenho ouvido as melodias
Do céu em noite de abril.
Mas sorrisos-melodia,
Que brincam numa volata,
Ou melodias-sorriso
Como o teu lábio desata;
Sorrisos que são gorjeios.
Melodias que têm cor,
Som e luz cristalizados
Em um êxtase de amor;
Pérolas que se desfiam
No trinado que cintila,
Eflúvios que se congelam
Numa flor ou voz que trila;
Ondas de pura harmonia,
Que borbulham num arpejo,
Notas que a boca desfolha
Soltas nas asas de um beijo,
Destes sorrisos sonoros,
Que os olhos podem ouvir,
Que sem olhos podem ver-se,
Só tu os; sabes sorrir.

"Dl TE SCORDARMI"
     (A CHARTON)
SOLTA do lábio inspirado
Essa palavra sublime!
Tanto amor como ela exprime
Nunca mulher o sentiu:
Nunca! Teu lábio mentiu.
Quando a voz num grito d'alma
Convulsa te parte o seio,
Hesito, e eu mesmo creio
Nessa divina mentira
Que o génio d'arte te inspira.
Mas se contemplo outra imagem
Esquecida por momento,
Como pode o pensamento
Conceber tanta paixão
Em corpo sem coração?...

OLHOS NEGROS
EU TENHO meus olhos negros
Desta minh'alma o condão,
É por eles que inda vivo
E que morro de paixão.
São negros, negros, tão lindos!
Porém que maus que eles são!
Muito maus! Nunca me dizem
O que bem sabem dizer;
Não me dão uma esperança
E nem ma deixam perder;
Andam sempre me enganando,
Têm gosto em ver-me sofrer.
Por mais terno que os suplique,
Não se condoem de mim;
Às vezes fitam-me a furto,
Porém nunca dizem sim.
Ah! olhos negros tão maus,
Nunca vi outros assim.
Não quero mais estes olhos!
Amo agora umas estrelas
Que brilham num céu de anil;
Sem receio de ofendê-las,
Bebo a luz dos olhos seus;
Só vivo agora de vê-las.

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