Trabalhando

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Sessão da Câmara Municipal

domingo, 22 de dezembro de 2013

O Pássaro Cativo



Armas, num galho de árvore, o alçapão; 
E, em breve, uma avezinha descuidada, 
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada, 
             A gaiola dourada; 
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo: 
Porque é que, tendo tudo, há de ficar 
             O passarinho mudo, 
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os pássaros não falam. 
Só gorjeando a sua dor exalam, 
Sem que os homens os possam entender; 
             Se os pássaros falassem, 
Talvez os teus ouvidos escutassem 
Este cativo pássaro dizer:

            Não quero o teu alpiste! 
Gosto mais do alimento que procuro 
Na mata livre em que a voar me viste; 
Tenho água fresca num recanto escuro 
             Da selva em que nasci; 
          Da mata entre os verdores, 
             Tenho frutos e flores, 
             Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola! 
Pois nenhuma riqueza me consola 
De haver perdido aquilo que perdi ... 
Prefiro o ninho humilde, construído 
De folhas secas, plácido, e escondido 
Entre os galhos das árvores amigas ... 
     Solta-me ao vento e ao sol! 
Com que direito à escravidão me obrigas? 
Quero saudar as pompas do arrebol! 
             Quero, ao cair da tarde, 
Entoar minhas tristíssimas cantigas! 
Por que me prendes? Solta-me covarde! 
Deus me deu por gaiola a imensidade: 
Não me roubes a minha liberdade ... 
             Quero voar! voar!...
Estas cousas o pássaro diria, 
             Se pudesse falar. 
E a tua alma, criança, tremeria, 
             Vendo tanta aflição: 
E a tua mão tremendo, lhe abriria 
             A porta da prisão...

Autor: Olavo Bilac
Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ

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