A vírgula é um dos elementos que causam mais confusão na língua portuguesa. Pouca gente sabe ao certo onde deve e onde não deve usá-la.
Quando a oração está em ordem direta (seus termos se sucedem na seguinte progressão: sujeito → verbo → complementos do verbo (objetos) → adjunto adverbial), isto é, sem inversões ou intercalações, o uso da vírgula é, de modo geral, desnecessário. Assim:
1. Não se usa vírgula: Não se usa vírgula separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se diretamente entre si:
a) entre sujeito e predicado.
Qualquer uma das crianças = sujeito / poderia ter feito isso = predicado.
a) entre sujeito e predicado.
Qualquer uma das crianças = sujeito / poderia ter feito isso = predicado.
b) entre o verbo e seus objetos.
As aulas custaram = V.T.D.I / sacrifícios = O.D. / dos alunos = O.I.
As aulas custaram = V.T.D.I / sacrifícios = O.D. / dos alunos = O.I.
Entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto adnominal.
2. Usa-se a vírgula: Para marcar intercalação:
a) do adjunto adverbial: A Mata Atlântica, devido à sua exuberância, tem sido muito explorada.
a) do adjunto adverbial: A Mata Atlântica, devido à sua exuberância, tem sido muito explorada.
b) da conjunção: As alunas são quietas e tímidas. Estão tentando, no entanto, organizar a apresentação do final de ano.
c) das expressões explicativas ou corretivas: O Corinthians já está pronto para ser campeão, isto é, já possui todas as vantagens necessárias para tal.
Para marcar inversão:
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): Cinco noites depois, eles chegam ensopados em casa.
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): Cinco noites depois, eles chegam ensopados em casa.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Às mães, nada foi dito.
c) do nome de lugar anteposto às datas: São Paulo, 16 de abril de 1952.
Usa-se vírgula para separar entre si elementos coordenados (dispostos em enumeração):
Era uma bela modelo segura, bonita, elegante.
Levamos uvas, maças, peras e pêssegos para enfeitar a mesa do jantar.
Levamos uvas, maças, peras e pêssegos para enfeitar a mesa do jantar.
Usa-se a vírgula para marcar elipse (omissão) do verbo:
Eles querem comida; nós, arte.
Usa-se a vírgula para isolar:
– o aposto:
Thiago, considerado o melhor atacante do campeonato, não jogará a próxima partida.
Thiago, considerado o melhor atacante do campeonato, não jogará a próxima partida.
– o vocativo:
Ei, Vânia, venha ver o que eu fiz!
Ei, Vânia, venha ver o que eu fiz!
A vírgula do vocativo — Exemplos de vocativo no início, no meio e no fim da frase
Qual o erro no trecho abaixo?
Oi amiga. Tudo bem?
Acertou quem reparou que falta a vírgula entre “Oi” e “amiga”.
Trecho correto: Oi, amiga. Tudo bem?
Um dos erros de português mais vistos nas redes sociais é a falta da vírgula do vocativo.
Vocativo é aquele elemento (palavra ou locução) com que nos dirigimos ao ouvinte ou ao leitor chamando-o. O vocativo pode estar no início, no meio ou no fim da frase.
Exemplos:
- Paula, vamos ao cinema?
- Obrigado, professora.
- Bom dia, Juliana.
- Boa noite, meu filho.
- Boa tarde, Maria.
- Olá, professor.
- Olá, pessoal.
- Tudo bem, meu irmão?
- Parabéns, meu filho!
- Feliz aniversário, meu amor!
- Querido amigo, desejo-lhe boa viagem,
- Oi, amiga.
- Oi, querida.
- Oi, meu amor.
- Oi, pessoal!
- Oi, gente!
- Traga logo, meu filho, o livro que você me prometeu.
- Na vida, querida, não se pode ter tudo.
- Espere, Roberto, que eu já estou chegando.
A vírgula que separa o vocativo do restante da oração é obrigatória.
Sem a vírgula do vocativo, o significado pode ser alterado.
Sem a vírgula do vocativo, o significado pode ser alterado.
Veja estas frases:
- Você viu o professor Luís?
- Vou lhes contar outro caso pessoal.
- Ouça meu amigo.
- Você conhece Maria?
- Não é meu amigo?
- Não é mesmo William Bonner?
Agora, com vírgula:
- Você viu o professor, Luís?
- Vou lhes contar outro caso, pessoal.
- Ouça, meu amigo.
- Você conhece, Maria?
- Não é, meu amigo?
- Não é mesmo, William Bonner?
O sentido é bem diferente, não? Por isso, não podemos menosprezar a importância da vírgula do vocativo. Ela é obrigatória.
1. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ELEMENTOS QUE VOCÊ PODERIA LISTAR
Veja esta frase:
Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados em uma lista:
Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original:
Note que antes de “e Augusto” não vai vírgula. Como regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há um caso específico que eu explico daqui a pouco. Um outro exemplo:
2. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR EXPLICAÇÕES QUE ESTÃO NO MEIO DA FRASE
Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por vírgula. Exemplos:
Dá-se uma explicação sobre quem é Mário. Se tivéssemos que classificar sintaticamente o trecho, seria um aposto.
O trecho destacado explica algo sobre “Eu e você”, portanto deve vir entre vírgulas. A classificação do trecho seria oração adjetiva explicativa
3. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR O LUGAR, O TEMPO OU O MODO QUE VIER NO INÍCIO DA FRASE.
Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica tempo, lugar, modo e outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Em outras palavras, separa-se o adjunto adverbial antecipado. Exemplos:
“Lá fora” é uma expressão que indica “lugar”. Um adjunto adverbial de lugar.
“Semana passada” indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.
“De um modo geral” é sinônimo de “geralmente”, adjunto adverbial de modo, por isso vai vírgula.
4. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ORAÇÕES INDEPENDENTES
Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto. Nós já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas assindéticas, mas também há outros casos. Vamos ver os exemplos:
Nesse exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são coordenadas assindéticas.
Capiche? Antes de todas essas palavras aí, chamadas de conjunções adversativas, vai vírgula. Pra quem gosta de saber os nomes (se é que tem alguém), elas se chamam orações coordenadas sindéticas adversativas. (medo!)
Agora só faltam mais duas coisinhas:
Quando se usa vírgula antes de “e”?
Vimos aí em cima que, como regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Tem só um caso em que vai vírgula, que é quando a frase depois do “e” fala de uma pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim:
Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo:
Mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.
Existem casos em que a vírgula é opcional?
Existe um caso. Lembra do item 3, aí em cima? Se a expressão de tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que você quer dar para a frase. Exemplos:
Note que esse último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a vírgula a frase também fica correta? Mesmo não sendo apenas uma palavra, dificilmente algum professor dará errado se você omitir a vírgula.
Não se usa a vírgula!
Com as regras acima, pode ter certeza de que você vai acertar 99% dos casos em que precisará da vírgula. Um erro muito comum que vejo é gente separando sujeito e predicado com vírgula. Isso é errado, e você pode ser preso se for pego usando!
Jeito errado:
Jeito certo:
EXERCÍCIO SOBRE VÍRGULA E PONTUAÇÃO
O seu Alfredo estava já no fim da vida e escreveu seu testamento. Infelizmente, ele esqueceu da pontuação, e o texto ficou assim:
Reescreva o testamento 4 vezes, de forma que em cada uma delas você deve dar a herança pra alguém diferente. Você pode usar qualquer sinal de pontuação, mas não pode mudar as palavras.
É um exercício legal e tem várias formas de resolver. Escrevam suas tentativas aí nos comentários.
1. Não se usa vírgula:
Não se usa vírgula separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se diretamente entre si:
a) entre sujeito e predicado.
Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado
Sujeito predicado
b) entre o verbo e seus objetos.
O trabalho custou sacrifício aos realizadores.
V.T.D.I. O.D. O.I.
V.T.D.I. O.D. O.I.
c) Entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto adnominal.
2. Usa-se a vírgula:
⇒ Para marcar intercalação:
a) do adjunto adverbial
O café, em razão da sua abundância, vem caindo de preço.
b) da conjunção:
Estão produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas:
As indústrias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir mão dos lucros altos.
⇒ Para marcar inversão:
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo:
Aos pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
c) do nome de lugar anteposto às datas:
Recife, 15 de maio de 1982.
⇒ Usa-se vírgula para separar entre si elementos coordenados (dispostos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.
⇒ Usa-se a vírgula para marcar elipse (omissão) do verbo:
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.
⇒ Usa-se a vírgula para isolar:
- o aposto:
São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um trânsito caótico.
- o vocativo:
Ora, Thiago, não diga bobagem.
Por Marina Cabral
Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
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