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Evangelhos Apócrifos
Caverna dos Tesouros
Adão e Eva |
Nome hebraico ou grego |
אדם e חוה |
Pais |
Deus |
Filhos |
Abel, Caim, Sete além de outros filhos e filhas não citados. |
Anos de vida |
930 anos (Adão) |
Livros |
Gênesis Cap. 1 a 3 ,,Outros: Alcorão 2:30-39, 7:11-25, 15:26-44, 17:61-65, 20:115-124, 38:71-85 , Livro de Mórmon : 2 Néfi cap.2, Pérola de Grande Valor : Livro de Moisés cap. 2 a 5 , Livro de Abraão Cap. 3 a 4 . |
Portal Bíblia |
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Criação do Mundo
Capítulo 1
COM A GRAÇA de nosso Senhor Jesus, o Messias, iniciamos o livro sobre
o desenvolvimento das estirpes, isto é, a "caverna dos tesouros". O
livro foi composto pelo senhor Santo Efrém.
2 Senhor! Ampara-me com a tua força! Amém.
3 No princípio, no primeiro dia, no domingo santo, o primogênito de
todos os dias, Deus criou o céu e a terra, a água, o ar e a Luz, isto é,
os Anjos e os Arcanjos, os Tronos, os Príncipes, as Dominações e as
Potestades, os Querubins e Serafins, as ordenações e coortes dos
Espíritos, e além disso, as trevas, a luz, a noite, o dia, os ventos e
as tempestades. Tudo isso foi criado no primeiro dia.
4 Naquele domingo, pairou sobre as águas o Espírito Santo, uma das
Pessoas da Unidade Trina. E em virtude do seu flutuar sobre a superfície
da água, esta foi abençoada, de modo a tornar-se geradora. Toda a
natureza da água ficou cálida e fervente, e assim foi composto o
fermento da Criação.
5 Assim como uma ave transmite o calor às suas crias estendendo sobre
elas as suas asas protetoras, de sorte que o calor que elas emanam
sobre os ovos possa formar os filhotes assim também, pela força do
Espírito Santo, o fermento da Criação foi unido à água, no momento em
que Ele, o Parácleto, pairou sobre ela.
6 No segundo dia, Deus criou o céu inferior, e chamou o de
firmamento. Isso revela que este não tem a mesma natureza do céu
superior, e que a sua aparência difere da do céu acima dele, isto é, do
céu superior, de fogo. Aquele segundo céu é feito de luz, e este que se
encontra abaixo dele é composto de substância concreta; chama-se
firmamento porque possui uma natureza espessa, aquosa.
7 E Deus, no segundo dia separou as águas das águas isto é, as águas
superiores das águas inferiores. E no segundo dia, elas levantaram-se
para o alto do céu como uma densa massa de névoa; subiu e localizou-se
acima do firmamento, no espaço. Mas não se movia nem se derramava para
lado algum.
8 No terceiro dia, Deus ordenou às águas abaixo do firmamento que se
ajuntassem num lugar, e que aparecesse a parte seca. Quando então a
cobertura da água foi retirada da superfície da terra, revelou-se que
esta não era consistente e firme, mas sim que possuía uma natureza úmida
e flácida.
9 A água então agregou-se nos mares, mas também debaixo da terra, e
sobre a terra, e acima da terra. E Deus criou no seio dela corredores,
veios e canais, para o fluxo das águas, e também para os vapores que
emanam da terra, a partir desses veios e cursos; criou também os calores
e os frios, para o melhor benefício da terra. Pois, na sua
profundidade, a terra é como uma esponja, porque se apóia sobre as
águas.
10 No mesmo terceiro dia, Deus ordenou à terra que fizesse brotar
ervas por baixo dela. E assim, no seu seio, ela ficou prenhe de árvores,
sementes, plantas e raízes. No terceiro dia, Deus criou o sol, a lua e
as estrelas.
11 E quando o calor do sol se estendeu sobre a superfície da terra,
esta endureceu a sua moleza, pois foi-lhe retirada a umidade e a fluidez
das águas. Quando esquentou o pó da terra, esta fez brotar árvores,
plantas, sementes e raízes, que no terceiro dia foram engendradas no seu
selo.
12 No quinto dia, Deus deu ordens às águas, e estas produziram toda
espécie de peixes possíveis e frutos do mar, as baleias, o Leviatã e
outros animais de aparência horrorosa, bem como os pássaros do ar e as
aves aquáticas.
13 No mesmo quinto dia, Deus criou da terra todo o gado, os animais
selvagens e os animais predadores, cada um segundo a sua espécie.
14 No sexto dia, na sexta-feira, Deus formou Adão do pó da terra, e Eva da sua costela.
15 No sétimo dia, Deus descansou do seu trabalho, e assim esse dia foi chamado Sabbath.
Capítulo 2
A Criação do Homem
1 A criação de Adão ocorreu da seguinte maneira:
2 Quando no sexto dia, sexta-feira, reinava a paz sobre todas as
ordenações das Potestades, Deus disse: "Vamos! Façamos o homem à nossa
imagem e semelhança!" Com isso Ele dava a existência às excelsas
Pessoas.
3 Quando os Anjos escutaram essa palavra, encheram-se de medo e
tremor, e disseram entre si: "Hoje veremos um grande prodígio, a forma
de Deus, nosso criador". E eles viram a mão direita de Deus estender-se e
alongar-se, e tudo o que foi criado abrangeu-se na sua direita.
4 Então eles viram como Ele, de toda a terra, tomou uma pitada de pó,
de todas as águas uma gotícula, de todos os ventos um pequeno sopro, e
de todo o fogo um diminuto halo de calor. E os anjos viram como esses
quatro débeis elementos, frio, calor, secura e umidade, foram
depositados no côncavo da sua mão. Então Deus plasmou Adão.
5 Mas com que outro objetivo teria Deus criado Adão desses quatro
elementos, a não ser para que todas as coisas do mundo lhe fossem
submetidas?
6 Tomou um grãozinho de terra, para que todos os seres que procedem
do pó servissem a Adão; uma gota de água, para que tudo o que existe nos
mares e nos rios se lhe fosse apropriado; um sopro de vento, para que
todas as coisas do ar lhe fossem entregues; e um halo de calor, para que
todas as naturezas e forças ígneas estivessem a seu serviço.
7 E Deus plasmou Adão com as suas mãos santas, segundo a sua imagem e
semelhança. Quando os Anjos constataram o seu aspecto magnífico,
ficaram tocados pela beleza da sua figura. Pois viram que a imagem do
seu semblante era luminosa como o brilho do sol, a luz dos seus olhos
irradiava raios como a luz solar, e o brilho do seu corpo era como o do
cristal.
8 Ele se alongou e pôs-se de pé no centro da terra. E colocou os seus
pés naquele mesmo lugar em que foi erguida a cruz do nosso Salvador:
daí é que Adão foi criado em Jerusalém. Ali é que ele se revestiu das
vestes da realeza; ali foi-lhe colocada a coroa real sobre a cabeça. Ali
ele foi constituído rei, sacerdote e profeta; ali Deus fê-lo
assentar-se sobre o trono da sua glória. Ali Deus deu-lhe o domínio
sobre toda a Criação.
9 Lá reuniram-se todos os animais selvagens, bem como o gado e as
aves, e apresentaram-se diante de Adão; então ele deu um nome a cada um e
eles curvaram a cabeça diante dele. Todas as espécies respeitavam-no e
serviam-no.
10 Os Anjos e as Potestades ouviram a voz de Deus, quando falou a
ele: "Adão! Eu te constituí rei, sacerdote e profeta, bem como senhor,
chefe e guia de todos os seres vivos e de toda a Criação. Todas as
criaturas deverão servir-te como coisa tua; dei-te o domínio sobre tudo o
que foi por mim criado".
11 Ao ouvirem essas palavras, os Anjos todos puseram-se de joelhos e o adoraram.
Capítulo 3
Adão e Eva no Paraíso
1 Quando o Chefe da ordem inferior viu a grandeza que foi conferida a
Adão, teve inveja dele a partir daquele dia, não quis reverenciá-lo, e
falou assim aos seus potentados: "Não o adoreis, nem vos submetais a ele
corno os anjos o fizeram! Convém a ele adorar a mim, que persisto na
luz e no espírito; não convém a mim adorar o barro, adorar aquele que
foi formado de um grãozinho de pó".
2 Assim propôs o Orgulhoso e tornou-se insubmisso; dessa forma, ele
afastou-se de Deus, por seu livre-arbítrio. Então ele foi expulso e
caiu, ele com todas as suas hostes. A sua queda ocorreu no sexto dia, na
segunda hora. Foram-lhe tiradas as vestes da sua glória. O seu nome
passou a ser Satanás, porque se apartou; e Scheda, porque foi
precipitado; e Daiwa, porque perdeu as vestes da sua glória.
3 A partir daquele dia, até hoje, eles ficaram nus e despidos, com
uma aparência horripilante. Enquanto Satã era expulso do céu, Adão era
exaltado, sendo levado ao Paraíso num carro de fogo. Aos louvores dos
Anjos, às glorificações dos Querubins, aos benditos dos Serafins, Adão
deu entrada no Paraíso, sob júbilo e cânticos honoríficos.
4 Quando ele chegou lá no alto, foi-lhe determinado de qual árvore
não poderia comer os frutos. A sua ascensão ao Paraíso ocorreu na
terceira hora de sexta-feira.
5 Deus então infundiu-lhe um sono, e ele adormeceu. Em seguida, Deus
tomou uma das suas costelas do lado do fígado, e com ela formou Eva.
Quando, ao acordar, Adão viu Eva, alegrou-se grandemente com ela. Adão e
Eva permaneceram por três horas no Paraíso, revestidos de glória e de
esplendor.
6 O Paraíso porém situava-se lá no alto, três pés acima das mais
altas montanhas, segundo a medida do Espírito. E o profeta Moisés disse:
"Deus plantou o Paraíso no meio do Éden, e nele colocou Adão, que Ele
havia plasmado". Mas o Éden é a santa Igreja, e a Igreja é a
misericórdia de Deus, que Ele guardava preparada para estendê-la a todos
os homens.
7 Porquanto Deus soubesse, na sua sabedoria paternal, o que Satã
planejava contra Adão, antecipou-se e acolheu Adão no seio da sua
misericórdia, segundo d'Ele fala o piedoso Davi no salmo: "O Senhor! Tu
te tornaste uma morada para nós, para todo o sempre". Isto é:
"Permitiste que morássemos na tua misericórdia".
8 E quando ele suplicava a Deus pela libertação dos homens, dizia:
"Recorda-te da tua Igreja, que de antemão fundaste!" Isso quer dizer:
Recorda-te da tua misericórdia, que havias preparado, para esparzi-la
sobre a nossa fraca geração. O Éden é a santa Igreja, e o Paraíso é o
lugar da paz e a herança da vida, que Deus preparou para todos os homens
santos.
Capítulo 4
A Tentação do Paraíso
1 Sendo Adão sacerdote, rei e profeta, Deus estabeleceu-o nas alturas
do Paraíso, para servir com honra, como o sacerdote na santa Igreja, e
de que piedoso Moisés dá testemunho: "Que ele a edifique", a saber, com o
serviço sacerdotal e louvores, "e que o guarde", isto é, o Mandamento
que lhe foi transmitido pela misericórdia divina. E Deus deixou Adão e
Eva morarem no Paraíso.
2 Verdadeira é essa palavra, e anunciadora da verdade: Aquela Árvore
da Vida no meio do Paraíso era o prenúncio da cruz da Salvação, a Árvore
da Vida propriamente dita, e esta foi erigida no meio da terra.
3 Quando Satã viu que Adão e Eva viviam em esplendor no Paraíso, ele,
o Rebelde, ficou dilacerado e morto de inveja. Então introduziu-se na
serpente, e nela morou; voou com ela pelo espaço até os limites do
Paraíso.
4 Por que introduziu-se na serpente e nela se escondeu? Porque ele
sabia que o seu aspecto era horripilante. Se Eva tivesse visto a sua
aparência, teria dele fugido imediatamente. Quando alguém deseja ensinar
o grego a um pássaro, busca um espelho grande e coloca-o entre si e a
ave; começa então a falar com ela. Tão logo a ave escuta a sua voz,
volta-se para trás, e vê a sua própria imagem no espelho; e fica
satisfeita de ver a suposta companheira falando com ela.
5 Presta naturalmente atenção e escuta as palavras daquele que está a
falar com ela; observa e apura o ouvido, e assim aprende a falar grego.
Assim fez Satã, introduzindo-se na serpente e morando nela; aguardou o
momento certo, e quando viu que Eva estava sozinha, chamou-a pelo nome.
6 Quando esta se voltou, viu nele a sua própria imagem; e ele
dirigiu-lhe a palavra e enganou-a com as suas palavras mentirosas, pois a
natureza da mulher é fraca. Quando ouviu da sua boca as coisas sobre a
árvore, correu imediatamente para ela e colheu o fruto da desobediência,
da árvore da transgressão do Mandamento, e comeu-o.
7 Imediatamente apareceram nuas as suas vergonhas, e ela viu a feiúra
da sua nudez. Então ela fugiu nua e foi esconder-se sob uma outra
árvore, e cobriu a sua nudez com as folhas dessa árvore. Em seguida ela
chamou Adão, e este foi até junto dela; então ofereceu-lhe a mesma
fruta, e ele também comeu-a.
8 Depois de haver comido, as suas vergonhas também ficaram nuas.
Então fizeram para si aventais de folhas de figueira. E ficaram por três
horas vestidos com os aventais da vergonha.
9 Ao meio-dia, receberam a sentença definitiva. E Deus teceu para
eles roupas de cascas arrancadas das árvores, exatamente de fibras das
árvores; pois nas plantas do Paraíso havia fibras delicadas, mais
delicadas do que o linho e as vestes reais de seda. E Ele cobriu-os com
esse tecido fino, que era como uma capa a encobrir um corpo de dor.
Capítulo 5
A Expulsão do Paraíso
1 Na terceira hora, eles deram entrada no Paraíso; por três horas
gozaram suas delícias; por três horas ficaram nuas as suas vergonhas, e
na hora nona aconteceu a sua expulsão.
2 Depois que saíram do Paraíso em grande tristeza, Deus falou com
Adão, consolou-o e disse: "Não te aflijas; Adão. Eu haverei de
restabelecer a tua herança. Considera que é grande o amor por ti! Por
tua causa eu amaldiçoei toda a terra; mas a ti eu preservei da maldição.
Encerrei as pernas da serpente na sua barriga, e dei-lhe como alimento o
pó da terra, e coloquei sobre Eva o jugo da submissão.
3 "Com certeza, tu transgrediste o meu Mandamento. Assim, deves sair;
mas não fiques aflito! Depois de cumpridos os tempos que estabeleci
para vós, em que deveis ficar fora, como estranhos sobre o mundo
maldito, eu enviarei o meu Filho. Ele virá para trazer-te a Salvação;
habitará numa virgem e se revestirá de um corpo. Por seu intermédio
ocorrerá a tua libertação e o teu retorno.
4 "Mas ordena aos teus filhos que depois da tua morte unjam o teu
corpo com mirra e aloés e o depositem na Caverna! Nela permito-vos morar
pelo tempo em que devereis viver fora dos limites do Paraíso, na terra
que se situa no exterior. E aquele que restar naqueles dias, levará
consigo o teu corpo e o depositará no centro da terra, num lugar que eu
lhe mostrarei. Pois lá acontecerá a Salvação para ti e para todos os
teus filhos."
5 E Deus revelou a Adão todo o futuro, e que o Filho haveria de
sofrer em seu lugar. Depois que Adão e Eva saíram do Paraíso, foram
fechadas as suas portas, e um Querubim postou-se diante delas com uma
espada de dois gumes. Adão e Eva desceram do monte do Paraíso;
encontraram uma caverna no alto de uma colina, entraram nela, e lá se
esconderam. Adão e Eva eram virgens.
6 Quando Adão sentiu desejo de conhecer Eva, foi buscar nos limites
do Paraíso ouro, mirra e incenso, colocou-os na caverna, abençoando-a e
consagrando-a, para que fosse a casa de oração para si e seus filhos, e
chamou-a a "Caverna dos Tesouros". Depois disso, Adão e Eva desceram
daquela colina santa até os seus limites inferiores, e lá Adão conheceu a
sua mulher Eva.
7 Esta concebeu e deu à luz Caim, juntamente com sua irmã Lebuda.
Depois engravidou mais uma vez, e deu à luz Abel e sua irmã Celimat.
Quando os filhos já estavam crescidos, disse Adão a Eva: "Caim deverá
casar-se com Celimat, que nasceu junto com Abel, e Abel, com Lebuda,
nascida com Caim!"
8 Então Caim falou para sua mãe Eva: "Eu me casarei com a minha irmã,
e Abel deve casar-se com a sua". Lebuda era realmente bonita. Quando
Adão escutou essas palavras ficou grandemente irado e disse: "Se casares
com a irmã que nasceu contigo, será uma transgressão do Mandamento.
9 "Tomai convosco frutos das árvores e jovens ovelhas, subi ao cume
da colina santa; entrai na Caverna dos Tesouros, e oferecei lá o vosso
sacrifício! Grai então na presença de Deus, e uni-vos depois às vossa
mulheres."
10 Depois que Adão, o primeiro sacerdote, subiu ao cume da colina com
os seus filhos Caim e Abel, Satã entrou em Caim, insinuando-lhe que
matasse o seu irmão Abel, por causa de Lebuda, mas também porque o seu
sacrifício não fora aceito, mas repudiado por Deus, enquanto que o
sacrifício de Abel foi aceito. E em Caim recrudesceu a inveja de seu
irmão.
11 Quando desceram à planície, Caim levantou-se contra o seu irmão
Abel e matou-o, golpeando-o com uma pedra de piquete. Imediatamente caiu
sobre ele uma sentença de morte. Viveu na angústia todos os dias da sua
vida, e Deus expulsou-o para as terras de Nod. Então ele tomou sua irmã
consigo e foi morar naquela região.
Capítulo 6
A Morte de Adão
1 Adão e Eva prantearam Abel durante cem anos. Depois Adão conheceu
Eva mais uma vez, e ela deu à luz Seth, que foi um homem bonito,
agigantado, perfeito como Adão. Ele foi o pai de todos os gigantes que
antecederam o dilúvio.
2 De Seth nasceu Enos. Enos gerou Cainan, e Cainan gerou Mahalaleel.
Estes são os Patriarcas que nasceram no dias de Adão. Adão viveu nove
centos e trinta anos, até os cento e trinta e cinco anos de Mahalaleel.
3 Aproximou-se então o dia da sua morte. Vieram até ele seu filho
Seth, acompanhado de Enos, Cainan e Mahalaleel: foram abençoados por
ele, que também rezou por eles. Então ordenou ao seu filho Seth,
dizendo-lhe: "Meu filho Seth presta atenção ao que vou dizer! No teu
último dia deverá transmitir esta ordem a Enos este a Cainan, e Cainan
Mahalaleel! Esta ordem dever passar a todas as gerações!
4 "Quando eu estiver mor to, deverão embalsamar-me com canela e
aloés, e deposita o meu corpo na Caverna dos Tesouros! Aquele dentre
todo os vossos descendentes que estiver vivo naqueles dias, deverá, ao
afastar-se destas terras da proximidade do Paraíso, levar consigo o meu
corpo depositá-lo no centro da terra. Pois lá acontecerá a minha
redenção, para mim e para todo os meus descendentes.
5 E tu, meu filho Seth, sejas o guia dos filhos do teu povo
conduze-os no temor de Deus de maneira pura e santa! Mantém os teus
descendentes afastados dos descendentes do assassino Caim!"
6 Ao ter-se notícia da morte próxima de Adão, foram ter com ele todos
os seus descendentes, seu filho Seth com Enos, Cainan e Mahalale e
todos eles, suas mulheres, filhos e filhas. Ele então abençoou a todos, e
rezou por eles.
7 No ano novecentos e trinta, contados a partir da Criação, Adão
despediu-se deste mundo, aos quatorze dias de Nisan, à hora nona, numa
sexta-feira. Na mesma hora em que o Filho do Homem, na cruz, entregou o
seu Espírito ao Pai, também o nosso pai Adão devolveu a sua alma ao
Criador, e separou-se deste mundo.
8 Quando Adão morreu, o seu filho Seth ungiu-o com mirra, canela e
aloés, segundo o que lhe havia ordenado. Tendo sido ele o primeiro morto
sobre a terra, foi grande o luto por ele. A sua morte foi pranteada
durante cento e quarenta dias; depois disso, o seu corpo foi levado e
sepultado na Caverna dos Tesouros.
9 Após ter sido inumado Adão, as famílias e os troncos dos filhos de
Seth separaram-se dos filhos do assassino Caim. Seth tomou o seu
primogênito Enos, com Cainan, Mahalaleel, suas mulheres e filhos, e
conduziu-os ao alto da Montanha Sagrada, para onde fora levado Adão.
10 Caim, porém, e seus descendentes permaneceram embaixo, na planície, onde Caim matara Abel.
Capítulo 7
Seth e a sua Geração
1 Seth era então o guia dos filhos do seu povo, e conduziu-os na
retidão e santidade. Por causa de sua retidão e santidade, receberam um
nome que era mais honroso do que todos os outros nomes; foram chamados
"filhos de Deus", tanto eles como suas mulheres e filhos.
2 Assim, eles permaneceram sobre aquela montanha, em toda a pureza,
santidade e temor de Deus. Eles subiram lá no alto a fim de louvar a
Deus, nos limites do Paraíso, em vez das hostes dos Demônios que foram
precipitados do céu.
3 Lá eles permaneciam na paz e no ócio, e não tinham nenhum outro
trabalho e ocupação a não ser louvar e bendizer a Deus, juntamente com
as coortes dos Anjos; pois eles ouviam constantemente a voz deles,
quando entoavam hinos de louvor no Paraíso. Este não se situava muito
acima deles, apenas cerca de trinta pés, segundo a medida do Espírito.
4 Eles não tinham lá qualquer trabalho ou preocupação, e não
precisavam nem semear nem colher; alimentavam-se daqueles frutos amáveis
das belas árvores de toda a espécie, e deliciavam-se com o agradável
perfume que emanava do Paraíso. Eram santos, porque foram santificados;
suas mulheres eram honradas, seus filhos puros e suas filhas castas e
honestas.
5 Entre eles não havia tumultos, nem inveja, nem rancor, nem
inimizade; entre suas mulheres e filhas não existia nenhum desejo
impuro, nem palavras lascivas. Nem entre eles se ouviam quaisquer
blasfêmias ou mentiras. O seu único juramento era: "Pelo sangue inocente
de Abel!"
6 Todos os dias, pela manhã bem cedo, subiam ao alto da montanha, com
suas mulheres e filhos, para orar na presença de Deus. Ficavam então
abençoados pelo corpo do seu pai Adão; levantavam os olhos, olhavam para
o Paraíso e louvavam a Deus. Assim faziam todos os dias de sua vida.
7 Seth viveu novecentos e doze anos; depois adoeceu para a morte.
Foram então para junto dele seu filho Enos, com Cainan, Mahalaleel,
Jared e Enoque, acompanhados de todas as suas mulheres e filhos. Foram
abençoados por ele; orou por eles, transmitiu-lhes encargos e adjurou-os
com as seguintes palavras: "Conjuro-vos pelo sangue inocente de Abel, a
que nenhum de vós descerá desta montanha santa para junto dos filhos do
assassino Caim; bem conheceis a nossa inimizade com eles, desde o dia
em que ele matou Abel".
8 Então, ele abençoou o seu filho Enos, transmitindo-lhe a
incumbência em relação ao corpo de Adão; constituiu-o guia dos filhos do
seu povo, enquanto adjurava-o pelo sangue inocente de Abel a que os
conduzisse na pureza e santidade, para que eles permanecessem
constantemente fiéis ao corpo de Adão, jamais dele se afastando.
9 Após isso, Seth morreu com a idade de novecentos e doze anos, aos
vinte e sete dias do mês abençoado de Ab, numa segunda-feira, na
terceira hora, contando Enoque vinte anos.
10 Seu primogênito Enos embalsamou o seu corpo e depositou-o na
Caverna dos Tesouros, junto ao seu pai Adão. Foi pranteado durante
quarenta dias.
Capítulo 8
A Morte de Caim
1 Enos assumiu diante de Deus o serviço na Caverna dos Tesouros;
tomou-se o guia do seu povo e seus filhos e observou todos os
Mandamentos que lhe foram transmitidos por seu pai Seth. Assim, ele
conduziu os filhos do seu povo com toda pureza e santidade, exortando-os
à constância na oração.
2 Nos dias de Enos, no seu oitocentésimo vigésimo ano, Lamech, o
cego, matou o assassino Caim nos campos de Nod. Sua morte ocorreu da
seguinte maneira: Lamech guiava-se pelo seu filho, um menino, e esse
menino dirigia-lhe o braço em direção da caça, toda vez que descobria
alguma. Foi quando ouviu-se a voz de Caim, que perambulava pelo mato,
pois em parte alguma ele tinha paz.
3 Lamech, porém, cego, tomou-o por uma fera que perambulava pelos
matos. Então levantou o braço, preparou seu. arco, retesou-o e disparou
naquela direção. Acertou Caim entre os olhos, e este caiu e morreu.
Contudo Lamech julgava haver acertado uma fera, e disse ao menino:
"Vamos até lá para ver que animal acertamos!'
4 Quando chegaram e verificaram o ocorrido, disse-lhe o rapaz que o
guiava: "Ai, meu senhor! Tu mataste Caim." Então ele fez um gesto,
batendo as suas mãos uma contra a outra, e com isso acertou o menino,
que morreu na hora.
5 Enos viveu novecentos e cinco anos; depois adoeceu de morte. Então
chegaram junto dele o seu primogênito Cainan, com Mahalaleel, Jared,
Enoque e Matusalém, acompanhados das suas mulheres e filhos.
6 Todos foram abençoados por ele; orou por eles e adjurou-os dizendo:
"Eu vos conjuro, pelo sangue inocente de Abel, a que nenhum de vós
desça deste monte santo para a planície, na área dos filhos do assassino
Caim, e que não vos mistureis com eles. Guardai-vos disso! Bem
conheceis a inimizade que temos com eles, desde o dia em que ele matou
Abel."
7 Então ele abençoou o seu filho Cainan, transmitiu-lhe as
incumbências relativas ao corpo de Adão, para que servisse na sua
presença todos os dias da sua vida e guiasse os filhos do seu povo na
pureza e santidade. Enos morreu com a idade de novecentos e cinco anos,
no terceiro dia do primeiro Ticbri, num Sabbath, quando Matusalém
contava cinqüenta em três anos.
8 Então o seu primogênito Cainan embalsamou-o e enterrou-o na Caverna
dos Tesouros, junto de Adão e do seu pai Seth. E foi pranteado durante
quarenta dias.
Capítulo 9
Cainan e Mahalaleel
1 Cainan assumiu na presença de Deus o serviço da Caverna dos
Tesouros. Ele era um homem honrado e prudente, conduziu os filhos do seu
povo no temor de Deus, e cumpriu todas as recomendações do seu pai
Enos. Cainan viveu novecentos e vinte anos; depois adoeceu de morte.
2 Então chegaram junto dele todos os Patriarcas, seu filho Maco anos,
no segundo dia de Nisan, num domingo, na hora terça, quando Noé contava
trinta e quatro anos. O seu primogênito Jared embalsamou-o e sepultou-o
na Caverna dos Tesouros. Foi pranteado por quarenta dias.
6 Então Jared assumiu o serviço de Deus. Ele era um homem íntegro e
perfeito em todas as virtudes, constante-mente voltado para a oração,
tanto de dia quanto de noite. Por causa da sua excelente direção do
povo, Deus deu-lhe uma vida mais longa do que a dos seus antecessores.
7 Aos quinhentos anos de Jared, os descendentes de Seth quebraram o
juramento com que os seus pais os adjuraram, e começaram a descer da
montanha para os lugares da maldade dos filhos do assassino Cromo.
8 Assim deu-se a queda dos filhos de Seth. Quando Jared havia
completado quarenta anos, encerrava-se o primeiro milênio, que abrangia
de Adão até Jared.
Capítulo 10
Deterioração da Humanidade
1 Naqueles dias surgiram os cúmplices do pecado e os discípulos de
Satanás; este era o seu mestre e introduziu-se neles, habitou neles, e
neles espalhou os efeitos do erro, pelos quais se operou a queda dos
filhos de Seth.
2 Jubal e Tubalcaim, dois irmãos e filhos de Lamech, o cego, o que
havia matado Caim, praticavam toda espécie de música. Jubal construiu
flautas, citaras e pífaros. E os demônios introduziram-se neles, e ali
se instalaram.
3 Quando eram sopradas, as flautas davam voz aos demônios; e quando
eles tangiam as cítaras, os demônios cantavam por elas. E Tubalcaim
construiu címbalos, matracas e tambores. E assim recrudescia a
depravação dos filhos de Caim, bem como a sua devassidão, e de outra
coisa não se ocupavam a não ser da luxúria.
4 Não se submetiam mais a dever algum, e não tinham nem chefe nem
guia. Em contrapartida reinava o comer, o beber, a intemperança, a
bebedeira, a dança, a cantoria, a risota demoníaca e as gargalhadas que
davam prazer ao diabo, bem como o vozerio insano dos homens guinchando
atrás das mulheres.
5 E com isso alegrava-se sobremaneira Satanás, por ter encontrado a
maneira de espalhar os efeitos da desordem; por meio disso conseguiu
atrair os filhos de Seth para baixo da Montanha Sagrada. Enquanto que lá
no alto eles serviam a Deus, em contraste com aquela horda de decaídos,
e eram amados por Deus, honrados pelos Anjos e chamados filhos de Deus,
segundo deles fala o piedoso Davi nos salmos: "Eu disse que sois
deuses, e todos em conjunto filhos do Altíssimo".
Capítulo 11
Cainitas e Sethitas Depravados
1 E reinava a impudicícia entre os filhos de Caim; as mulheres
corriam atrás dos homens sem a menor vergonha e misturavam-se com eles
numa orgia selvagem; praticavam a fornicação abertamente, sem pudor
algum. Dois, até três homens caíam em cima de uma mulher; e da mesma
forma as mulheres corriam atrás dos homens, pois lá naquele lugar
estavam reunidos todos os demônios.
2 Os espíritos impuros meteram-se dentro das mulheres, e as mais
velhas entre elas eram ainda mais assanhadas que as, jovens. Os pais e
os filhos conspurcavam suas mães e suas irmãs; os filhos não reconheciam
os seus pais, e os pais não distinguiam os seus filhos. Satanás
tornou-se o chefe desse antro.
3 Sopravam as flautas em meio ao vozerio, tocavam as cítaras sob o
influxo dos demônios, percutiam os tambores e as matracas, em
colaboração com os espíritos maus. E o ruído das gargalhadas elevava-se
nos ares, e foi ouvido no alto da Montanha Sagrada. Quando os filhos de
Seth escutaram aquele poderoso vozerio e aquelas gargalhadas, vindos do
campo dos filhos de Caim, cem dentre eles, homens fortes e vigorosos,
reuniram-se e tomaram a resolução de descer até a área dos filhos de
Caim.
4 Jared, ao ter conhecimento dessa decisão, ficou grandemente
perturbado e esconjurou-os dizendo: "Adjuro-vos, pelo sangue inocente de
Abel, a que nenhum de vós desça desta Montanha Sagrada. Lembrai-vos dos
juramentos aos quais nos ligaram os nossos pais Seth, Enos, Cainan e
Mahalaleel!"
5 Então Enoque também dirigiu-lhes a palavra: "Ouvi, ó filhos de
Seth! Todo aquele que transgredir a ordem de Jared e violar os
juramentos dos nossos Pais, descendo desta montanha, nunca mais poderá
retomar a ela!"
6 Mas eles não quiseram ouvir nem a ordem de Jared, nem as palavras
de Enoque, mas tiveram audácia de desobedecer ao mandamento. Dessa
forma, cem homens, varonis e fortes, desceram da montanha.
7 Lá embaixo viram as filhas de Caim, que eram de bonita aparência, e
que descobriam as suas vergonhas sem o mínimo pudor. Então os filhos de
Seth atiraram-se à perdição, por meio da fornicação com as filhas de
Caim.
8 Mas depois disso pretendiam ainda voltar à Montanha Sagrada, apesar
de decaídos por terem-na abandonado. Nesse momento, porém, diante de
seus olhos, os rochedos do monte sagrado revestiram-se de fogo.
9 Depois de se haverem conspurcado com a imundícia da luxúria, Deus
não permitiu mais que voltassem ao lugar sagrado. E uma vez mais, muitos
outros tiveram o atrevimento de seguir-lhes o exemplo, e desceram a
montanha; também eles caíram.
Capítulo 12
Jared e Enoque
1 Jared viveu novecentos e sessenta anos; depois aproximou-se o dia
do seu falecimento. Então foram ter com ele todos os chefes de família,
seu primogênito Enoque, Matusalém, Lamech e Noé, com todas as suas
mulheres e filhos.
2 Ele abençoou a todos, orou por eles, e disse: "Eu vos conjuro, pelo
sangue inocente de Abel, que não havereis de descer desta montanha
santa. Todavia, eu sei que Deus não vos deixará ficar mais por muito
tempo neste lugar sagrado. Vós havereis de transgredir o mandamento dos
vossos Pais; sereis afastados para as terras estrangeiras e não vos será
mais permitido habitar nas proximidades do Paraíso.
3 "Recomendo-vos porém todo o zelo para que aquele dentre vós que
[for o último a] sair deste lugar santo leve consigo o corpo do nosso
pai Adão, juntamente com aqueles objetos de culto que se encontram na
Caverna dos Tesouros, para que sejam transportados para aquele lugar que
foi determinado por Deus, e ali sejam depositados. Tu, meu filho
Enoque, não te afastes nunca do corpo de Adão, e serve a Deus de maneira
pura e santa todos os dias da tua vida!"
4 Jared morreu com a idade de novecentos e sessenta anos, aos trinta
dias de Ijjar, numa sexta-feira à noite, quando Noé contava trezentos e
sessenta e seis anos. Então seu filho Enoque embalsamou-o e sepultou-o
na Caverna dos Tesouros. E guardaram luto por ele durante quarenta dias.
Então Enoque assumiu o ministério de Deus na Caverna dos Tesouros.
5 Mas os filhos de Seth desviaram-se do caminho reto e desejaram
descer. Então Enoque, Matusalém, Lamech e Noé afligiram-se por eles. E
Enoque serviu diante de Deus durante cinqüenta anos, até o tricentésimo
quinto ano de Noé.
6 Quando Enoque percebeu que Deus queria chamá-lo a si, convocou
Matusalém, Lamech e Noé, e falou-lhes: "Eu sei que Deus está irado com
esta geração, e que recairá sobre ela uma sentença sem piedade. Vós sois
os cabeças e os remanescentes dessa geração, pois nesta montanha não
nascerá mais nenhum outro homem para ser o guia do seu Povo. Mas tende
todo empenho para servirdes diante de Deus em pureza e santidade!"
7 Depois que Enoque pronunciara essas palavras, Deus transportou-o
para as regiões da Vida, nas belas moradas que se encontram no Paraíso,
na terra que se situa acima da morte.
Capítulo 13
Noé
1 De todos os filhos de Seth, sobraram na montanha gloriosa somente
esses três Patriarcas, Matusalém, Lamech e Noé; os demais haviam descido
para as terras dos filhos de Caim.
2 Quando Noé viu que os pecados da sua raça eram grandes, conservou
sua alma na virgindade durante quinhentos anos. Então Deus falou com ele
e disse: "Casa-te com Haikal, a filha de Namos, irmão de Matusalém, e
neta de Enoque!
3 E Deus fez-lhe uma revelação a respeito do dilúvio, que tencionava
mandar, e disse: "Quando forem transcorridos cento e trinta anos,
provocares um dilúvio. Constrói para ti uma arca para salvar os filho da
tua casa! Mas faze-a lá em baixo, na terra dos filhos de Caim! Todavia,
a madeira de verá ser colhida na montanha santa!
4 "Deve ser edificada da seguinte maneira: o seu comprimento será de
trezentos côvados, segundo a medida do: teus côvados, a sua largura de
cinqüenta côvados, e sua altura de trinta. Do seu topo abatê-las um
côvado! Faze três compartimentos no seu interior; o de baixo será para
os animais selvagens e para o gado, o do meio para os pássaros e o de
cima para os filhos da tua casa!
5 "Constrói também no seu interior uma câmara para os utensílios e
uma para depósito dos alimentos! Faze também um sino de ébano imune ao
caruncho! O seu comprimento deverá ser de três côvados e sua largura de
um e meio! De dentro dele deverá pender um martelo! Tocarás esse sino
três vezes durante o dia, uma de manhã para que se reúnam os operários
da construção da arca, uma ao meio-dia para o seu almoço, e outra à
tarde para que se dirijam ao seu descanso!
6 "Ao ouvirem o som do sino, tão logo por ti tocado, perguntarão: Que
foi que fizeste?' Responde-lhes: Deus prepara-se para mandar um dilúvio
de águas'." E Noé fez segundo Deus lhe ordenara.
7 Então, no espaço de cem anos, nasceram-lhe três filhos, Sem, Cam e
Jafet, e escolheu para eles mulheres dentre as filhas de Matusalém.
Lamech viveu setecentos e setenta anos, e morreu deixando seu pai
Matusalém, ainda vivo, quarenta anos antes do dilúvio, aos vinte e um
dias de Elul, numa quinta-feira, quando Sem, o primogênito de Noé,
contava sessenta e oito anos de idade. Então seu primogênito, Noé,
embalsamou-o, sepultou-o na Caverna dos Tesouros; e foi pranteado
durante quarenta dias.
Capítulo 14
Os Gigantes
1 A partir de então, somente Matusalém e Enoque permaneceram sobre o
monte, porquanto todos os demais filhos de Seth abandonaram as
fronteiras do Paraíso e desceram para a planície, para junto dos filhos
de Caim. Os filhos homens de Seth então misturaram-se com as filhas de
Caim. Elas engravidaram e deram à luz homens avantajados, uma raça de
gigantes, semelhantes a torres.
2 Por esse motivo, escribas antigos incorreram em erro quando
escreveram que os Anjos desceram do céu, uniram-se às filhas dos homens,
que por essa união geraram aqueles gigantes. Isso não é verdade;
falaram disso sem terem conhecimento. Vede bem, meus irmãos, ao lerdes
isso, e ficai cientes de que algo assim não está na natureza de seres
espirituais!
3 E nem isso está na natureza dos demônios impuros, que praticam
malefícios e se comprazem com o adultério. Não existem entre eles os
gêneros masculino e feminino; e desde a sua queda, o número deles não
aumentou nem em um sequer. Pudessem os demônios unir-se sexualmente com
as mulheres, não teriam deixado inviolada nenhuma virgem em toda a raça
humana.
Capítulo 15
A Incumbência de Noé
1 Matusalém viveu novecentos e sessenta e nove anos; aproximou-se então o dia do seu falecimento. Chegaram para junto dele Noé,
Sem, Cam e Jafet, com suas mulheres. Pois de todos os descendentes de
Seth que não haviam descido da montanha restavam somente essas oito
pessoas; e até a chegada do dilúvio, não lhes nasceu mais nenhum filho.
2 Reuniram-se ao redor de Matusalém e foram por ele abençoados;
abraçou a cada um e beijou-os com muitas lágrimas, enquanto deplorava a
queda dos filhos de Seth. Então orou por eles e disse-lhes: "De todas as
famílias e gerações dos nossos Pais sobraram apenas oito pessoas. Que o
Senhor, Deus dos nossos Pais, vos abençoe!
3 "O Deus, que por si só criou os nossos Pais Adão e Eva — e eles
foram fecundos e multiplicaram-se, e assim foi por eles enchida toda a
terra santa das imediações do Paraíso — faça-vos também fecundos e
numerosos, e seja toda a terra preenchida por vós, e possais ser salvos
do terrível Julgamento da Ira que cairá sobre essa geração provocadora!
4 "Que Ele esteja convosco e vos proteja! Que o dom que Deus outorgou
ao nosso Pai Adão vos acompanhe ao sairdes deste lugar santo! E que a
bênção tríplice que Deus conferiu ao vosso Pai Adão, a saber, a Realeza,
o Sacerdócio e a Profecia seja o fermento que permanecerá infundido na
vossa estirpe e na estirpe dos vossos filhos.
5 "Ouve bem, Noé, tu, e predileto do Senhor! Eu me separo agora deste
mundo, como todos os meus Pais. Apenas vós sereis salvos, tu e teus
filhos, tua mulher e as mulheres deles. Cumpre tudo o que hoje te
ordeno! Deus mandará vir um dilúvio.
6 "Quando eu morrer, unge o meu corpo e sepulta-o na Caverna dos
Tesouros, junto dos meus Pais! Toma contigo a tua mulher, os teus filhos
e as mulheres dos teus filhos, e desce desta Montanha Sagrada! Leve
contigo o corpo do nosso Pai Adão, juntamente com esses três objetos
sagrados, o ouro, e incenso e a mirra; deposita o corpo de Adão no meio
da Arca e sobre ele os objetos!
7 "Tu e teus filhos ficarão na Arca do lado do nascente tua mulher e
as mulheres dói teus filhos ficarão do lado do poente! Vossas mulheres
não deverão procurar-vos, nem vós: a elas! Não comereis nem bebereis com
elas, nem com ela: vos deitareis, até o dia em que sairdes da Arca!
Pois essa geração provocou a ira de Deus, É é indigna de permanecer nas
proximidades do Paraíso e dos Anjos.
8 "Quando tiverem baixado as águas do dilúvio, saí da Arca e habitai
aquela terra; mas, tu, Noé, bem-amado do Senhor não deverás afastar-te
da Arca e do corpo do nosso Pai Adão! Mas serve a Deus dentro da Arca,
de maneira pura e santa, todos os dias da tua vida!
9 "Aqueles objetos sagrados deverão ser depositados no Oriente!
Ordena ao teu primogênito Sem que, após a tua morte, leve consigo o
corpo do nosso Pai Adão e o transporte ao centro da terra! Lá deixe
permanecer um homem da sua descendência, para ali prestar serviço! Este
deverá permanecer casto durante todos os dias da sua vida, não poderá
tomar mulher nem derramar sangue; e nem lá poderá haver casa de moradia!
10 "Lá ele também não poderá oferecer sacrifícios de animais
selvagens ou de pássaros, mas oferecerá a Deus pão e vinho! Pois ali
realizar-se-á a salvação de Adão e de todos os seus filhos. O Anjo do
Senhor o precederá e mostrar-lhe-á a salvação de Adão e de todos os seus
filhos. O Anjo do Senhor o precederá e mostrar-lhe-á o lugar que
representa o ponto central da terra.
11 "E aquele que entra para o serviço do corpo de Adão deverá
vestir-se de peles de animais; não poderá aparar os cabelos da sua
cabeça, nem cortar as suas unhas; deverá também permanecer solitário,
por ser um servidor do Deus Altíssimo."
Capítulo 16
A Partida de Noé
1 Quando Matusalém acabou de dar essas incumbências a Noé, faleceu
com lágrimas nos olhos e tristeza no coração. Ao morrer, no décimo
quarto dia de Adar, num domingo, ele contava novecentos e sessenta e
nove anos de idade, no septuagésimo nono ano de vida de Sem, filho de
Noé.
2 Então seu neto Noé ungiu o corpo de Matusalém com mirra, canela e
aloés; depois Noé e seus filhos sepultaram-no na Caverna dos Tesouros, e
prantearam-no durante quarenta dias. Passados os dias de luto por ele,
Noé penetrou na Caverna dos Tesouros e abraçou e beijou os corpos santos
de Seth, Enos, Cainan, Mahalaleel, Jared, e do seu pai Lamech, enquanto
seus olhos derramavam lágrimas de grande dor.
3 Então Noé tomou o corpo de nosso Pai Adão, bem como o de Eva; seu
primogênito Sem carregou o ouro, Cam a mirra e Japhet o incenso; e assim
abandonaram a Caverna dos Tesouros.
4 Ao descerem da Montanha Sagrada, prorromperam num choro convulsivo,
por verem-se privados do lugar sagrado e da morada dos seus Pais.
Ergueram os seus olhos para o Paraíso, choraram com dor, deploraram com
tristeza, dizendo: "Descansa em paz, ó tu, Paraíso santo, morada do
nosso Pai Adão, que te perdeu ao ser privado da glória por contaminar-se
de pecado!
5 "Vê, inclusive na sua morte ele é expulso das tuas fronteiras, e
juntamente com seus filhos, exilado no estrangeiro, na terra cheia de
vícios, sendo os seus descendentes empurrados de cá para lá, na dor, na
doença, no trabalho, no cansaço e na desgraça. Descansa em paz, ó
Caverna dos Tesouros!
6 "Descansa em paz, ó morada e herança dos nossos Pais! Descansai em
paz, O, vós, amigos e bem-amados do Deus vivo! Rezai pelo resto, os que
sobraram de todos os vossos descendentes! Rogai por nós em vossa prece, ó
vós, nossos intercessores junto a Deus!
7 "Descansa em paz, Seth, tu, o cabeça dos Pais! Descansa em paz,
Enos, guia da retidão! Descansai em paz Cainan, Mahalaleel, Jared,
Matusalém, Lamech e Enoque, servos de Deus! Implorai com pena de nós!
8 "Descansa em paz, tu, Montanha Sagrada! Descansa em paz, ó porto e
abrigo dos Anjos! O Pais, rogai por nós em dor, pois que ficaremos
privados do vosso convívio! E nós haveremos de lamentar-nos com grande
tristeza, por sermos atirados a uma terra estéril, onde teremos de
conviver com os animais selvagens."
9 Enquanto desciam da montanha santa, beijavam suas rochas e
abraçavam suas belas árvores. Assim, enquanto derramavam lágrimas
amargas, com grande dor e profundamente contristados, chegaram à
planície.
10 Então Noé entrou na Arca e depositou o corpo de Adão no meio dela,
e sobre ele as oferendas sagradas. Naquele mesmo ano em que Noé deu
entrada na Arca, encerrava-se o segundo milênio; este abrangia o período
a partir da descendência de Adão até o dilúvio, segundo nos
transmitiram aqueles setenta escribas sábios.
Capítulo 17
O Dilúvio
1 Em uma sexta-feira, no décimo sétimo dia do mês abençoado de Ijjar,
Noé entrou na Arca. Pela manhã entraram no compartimento inferior os
animais selvagens e os animais domésticos; ao meio-dia, os pássaros e
todos os insetos, no compartimento do meio; e à tarde, Noé e seus filhos
se dirigiram à parte oriental da Arca e sua mulher com as mulheres dos
seus filhos para a parte ocidental.
2 O corpo de Adão foi colocado entre eles, porque todos ali
representavam os mistérios da Igreja, pois, nas igrejas, as mulheres
ficam do lado do poente e os homens do lado do nascente, para que os
homens não vejam o rosto das mulheres e as mulheres não vejam o rosto
dos homens.
3 Assim, na Arca, os homens ocupavam a parte oriental, e as mulheres a
parte ocidental. E assim como o púlpito se erige no meio, o corpo de
Adão também foi colocado no meio.
4 E da mesma forma como nas igrejas reina a paz entre os homens e as
mulheres, assim também reinava a paz na Arca, entre os animais
selvagens, os pássaros e os demais seres vivos.
5 Assim como lá, reis, sacerdotes, pobres e mendigos permanecem em pé
de igualdade, em unidade e paz, da mesma forma na Arca leões, panteras e
outros animais ferozes viviam em perfeita paz com os animais
domésticos, os fortes com os inferiores e fracos, o leão com o boi, o
urso com o cordeiro, o filhote do leão com o bezerro, a cobra com a
pomba, o gavião com o pardal.
6 Quando Noé com os seus filhos, sua mulher e as mulheres dos seus
filhos haviam entrado na Arca, no décimo sétimo dia de Ijjar, à tarde,
foram fechadas as portas, e Noé juntamente com seus filhos
encontraram-se numa triste prisão.
7 Uma vez cerradas às portas da Arca, abriram-se às comportas do céu,
rasgaram-se os abismos e irrompeu a massa oceânica das grandes águas
que circundam a terra. Abertas as comportas do céu, escancarados os
abismos da terra, foram soltos os ventos, romperam as tempestades e o
oceano rugia e transbordava.
8 Então os filhos de Seth, contaminados pela imundície da luxúria,
correram para a Arca e suplicaram a Noé que lhes abrisse as portas.
E quando viram o volume das águas que os cercavam e que prorrompiam
de todos os lados, foram tomados de terrível angústia e procuraram subir
à montanha do Paraíso; mas não conseguiram.
9 A Arca estava fechada e lacrada, e na sua cobertura estava postado
um Anjo do Senhor, como timoneiro. E enquanto as ondas rugiam ao seu
encontro, e eles começavam a submergir na massa revolta e terrível,
cumpria-se a seu respeito a palavra de Davi: "Eu disse: Vós sois deuses,
todos filhos do Altíssimo; mas por terdes feito isso e desejado a
fornicação com as filhas de Caim, assim vós também, como aqueles, sereis
destruídos e morrereis da mesma forma que eles morreram".
Capítulo 18
Fim do Dilúvio
1 A Arca, pela grande força da água, foi levantada acima da terra.
Então afogaram-se todos os homens, bem como os animais selvagens, os
pássaros, o gado e os insetos; de modo geral, tudo o que se encontrava
sobre a terra pereceu. E as águas do dilúvio elevaram-se vinte e cinco
côvados acima de todos os cumes das altas montanhas, segundo a medida do
Espírito. As torrentes avançaram e a água levou a Arca para o alto, até
alcançar as imediações do Paraíso.
2 Quando as águas foram abençoadas e purificadas pelo Paraíso,
volveram atrás, beijaram as rochas do Paraíso e partiram para a
devastação de toda a terra. E a Arca flutuou pelas asas do vento sobre
as águas, do Oriente para o Ocidente, do Norte para o Sul, descrevendo
assim uma cruz sobre as ondas. A Arca pairou cento e cinqüenta dias
sobre a água, e no sétimo mês, ou seja, no décimo sétimo dia de Tischri,
chegou a um lugar de pouso, sobre o monte Cardo.
3 Então Deus ordenou que as águas se separassem. As águas superiores
voltaram ao seu lugar no alto do céu, de onde procederam; as águas que
romperam das profundezas da terra dirigiram-se para os abismos
inferiores; e as águas do oceano a ele tornaram.
4 Sobre a terra ficaram apenas aquelas águas que desde o princípio
lhe foram destinadas, por aceno divino, para a sua necessidade; as
outras, até o décimo mês, Schebat, tinham baixado gradativamente.
5 No primeiro dia de Schebat, começaram a aparecer os cumes das
montanhas mais altas, e passados quarenta dias, aos dez de Adar, Noé
abriu a janela oriental da Arca e despediu um corvo, para que lhe
trouxesse notícias. Ele voou e não mais voltou.
6 Quando as águas diminuíram um pouco mais sobre a terra, ele soltou
uma pomba; mas esta não encontrou nenhum lugar de pouso, e voltou para
junto de Noé, na Arca. Depois de sete dias, ele despediu mais uma vez a
pomba; e ela voltou, trazendo no bico um ramo de oliveira.
7 Essa pomba representa para nós os dois Testamentos. No primeiro, o
Espírito que falava pelos Profetas, junto àquele povo que provocou a ira
de Deus, não encontrou pousada;mas no segundo, Ele baixou
tranqüilamente sobre os povos, através das águas do Batismo.
Capítulo 19
A Aliança com Noé
1 No seiscentésimo ano de vida de Noé, no primeiro dia de Nisan,
haviam secado as águas na superfície de toda a terra. No segundo mês, ou
seja em Ijjar, no mesmo em que Noé tinha entrado da Arca, no décimo
sé-timo dia, num domingo santo, deixaram a Arca ele, sua mulher, seus
filhos e suas mulheres.
2 Quando deram entrada na Arca, entraram separadamente, Noé com os
seus filhos, sua mulher com as mulheres dos seus filhos. E os homens não
conheceram suas mulheres, até saírem da Arca. Naquele mesmo dia
abandonaram a Arca todos os animais selvagens, os animais domésticos,
todos os pássaros e os restantes seres vivos.
3 Depois de haverem descido da Arca, Noé começou a cultivar a terra.
Construíram também uma cidade e chamaram-na Temanon, por causa das oito
pessoas que saíram da Arca. Depois Noé erigiu um altar e ofereceu sobre
ele ao Senhor um sacrifício de animal puros e pássaros, e Deus acolheu o
seu sacrifício. E Ele estabeleceu com Noé uma Aliança por todos os
tempos, e jurou "Nunca mais permitirei que aconteça um dilúvio".
4 Da seguinte forma Eli estabeleceu a Aliança com Noé afastou do arco
a flecha da ira, nas nuvens, desprendeu dele a corda da indignação e
estendeu-o sobre as nuvens; e nele não mais havia nem flecha nem corda;
pois quando antigamente esse arco estava retesado no firmamento contra a
geração dos filhos do assassino Caim, estes viram a flecha da ira,
assestada à corda da indignação.
Capítulo 20
A Maldição de Cam
1 Após o dilúvio, e após terem saído da Arca, eles semearam,
plantaram uma vinha e espremeram o vinho novo; aproximou-se então Noé e
bebeu dele; depois que tomou, ficou embriagado. Enquanto dormia,
descobriram-se as suas vergonhas; então o seu filho Cam viu a nudez do
pai, não a cobriu, mas riu-se e fez troça.
2 Saiu e foi chamar os seus irmãos, para que eles também rissem do
seu pai. Porém, quando Sem e Japhet ouviram isso, ficaram muito
perturbados; tomaram de um manto e entraram, caminhando de costas,
procurando esconder o rosto para não verem a nudez do seu pai. Jogaram o
manto sobre ele e o cobriram.
3 Quando Noé acordou do sono do vinho, sua mulher contou-lhe tudo o
que havia acontecido; mas ele mesmo já sabia o que se tinha passado.
Então irou-se profundamente contra o seu filho Cam e disse: "Maldito
seja Canaã! Que ele seja o servo dos servos dos seus irmãos!"
4 Por que motivo, pela culpa de Cam, justamente Canaã foi
amaldiçoado? Quando ele era um rapaz crescido e chegara ao uso da razão,
Satã introduziu-se nele e passou a ser o seu mestre no pecado. Ele
renovou a obra da casa de Caim, confeccionou flautas e cítaras.
5 Então os diabos e demônios entraram nelas e lá se estabeleceram;
tão logo o vento soprava dentro delas, os demônios cantavam e emitiam a
sua voz forte. E quando as cítaras eram tangidas, os diabos atuavam por
meio delas.
6 Noé, ao tomar conhecimento dessas práticas de Canaã, entristeceu-se
profundamente, pois que se renovavam as obras da perversidade pelas
quais ocorrera a queda dos filhos de Seth, pois pela cantoria, dança e
pelo assanhamento dos filhos de Caim, Satã levou os "Filhos de Deus" à
perdição. E, pela música das flautas avolumaram-se os pecados da geração
antiga, a ponto de Deus irar-se e mandar o dilúvio.
7 Agora Canaã, por ter tido o atrevimento de fazer isso, foi
amaldiçoado, e a sua descendência passou a ser a serva dos servos;
trata-se dos egípcios, etíopes e mysios. E por ter sido Cam atrevido e
zombeteiro em relação ao seu pai, foi denominado e conhecido até hoje
como "o impudico".
8 Noé, porém, por intermédio do sono da sua embriaguez, indica a cruz
do Messias, como dele fala o piedoso Davi no salmo: "O Senhor despertou
como alguém que dormia, como um homem que lançou pela boca o seu
vinho."
9 Ousam dizer os hereges que "Deus foi crucificado". Mas Davi nesse
passo chama-o "Senhor", como também diz o apóstolo Pedro: "Deus
constituiu-o Senhor e Messias", referindo-se a esse Jesus, que vós
crucificastes. Não diz "Deus", mas "Senhor", com o que está a mencionar a
unidade hipostática, que se juntam numa única filiação.
10 Mas Noé, ao despertar do seu sono, amaldiçoou Canaã e rebaixou os
seus descendentes à condição de servos; depois dispersou-os entre os
povos. E quando Nosso Senhor ressuscitou da morada dos mortos, Ele
amaldiçoou os judeus e espalhou os seus descendentes entre os povos.
11 Mas, como dito, os descendentes de Canaã foram os egípcios; eles
foram disseminados por toda a terra para servir como servos dos servos.
12 E o que significava a servidão da servidão? Esses egípcios serão
escorraçados por toda a terra, e carregarão fardos no pescoço. Os
outros, aos quais foi imposto o jugo da submissão, não andam a pé, ao
serem mandados em viagem pelos seus amos, e não carregam fardos no
pescoço, mas montam a cavalo com honra, semelhantemente aos seus
senhores.
13 Mas os descendentes de Cam são os egípcios que carregam fardos e
que ao viajar andam a pé, e com isso seu pescoço se curva sob o peso.
Assim, eles são enxotados das portas dos filhos dos seus irmãos.
14 Esse castigo foi imposto aos descendentes de Cam por causa da
insensatez de Canaã, tornando-se dessa forma os servos dos servos.
Capítulo 21
O Testamento de Noé
1 Depois de sair da Arca, Noé viveu mais trezentos e cinqüenta anos;
depois ele adoeceu para morrer, e reuniram-se junto dele Sem, Cam,
Japhet. Arpachsad e Salé.
2 Então Noé chamou perto de si o seu filho primogênito Sem, e
falou-lhe em segredo: "Escuta bem, meu filho, o que agora vou dizer-te!
Quando eu estiver morto, entra na Arca em que fostes salvos e retira de
lá o corpo do nosso Pai Adão! Mas não deverás ser visto por homem algum.
3 "Toma contigo pão e vinho, como provisão de viagem Em seguida, leva
contigo Melchizedek, o filho de Malach pois, de todos os teus
descendentes, ele foi por Deus escolhido para servir, na sus presença,
ao corpo do nosso Pai Adão!
4 "Depois parte e deposita o no ponto central da terra, e faze com
que Melchizedek habite! O Anjo do Senhor ir adiante de vós, para
mostrar-vos o caminho que devereis seguir bem como o lugar onde devei
ser colocado o corpo de Adão, a saber, no ponto central da terra.
5 "Lá se concentram quatro extremidades, pois quando Deus criou a
terra, emanou d'Ele a sua força, e a terra brotou dessa força
prolongando-se em quatro direções, como polias e colunas. Mas nesse
ponto a sua força se fixou e permaneceu em repouso. Ali realizar-se-á a
redenção de Adão e de todos os seus filhos. Essa história foi
transmitida geração após geração, desde Adão até nós.
6 "Adão passou essa incumbência a Seth, Seth a Enos, este a Cainan,
este a Mahalaleel, este a Jared, este a Enoque, este a Matusalém, este a
Lamech e Lamech a mim; e assim, transmito-te hoje essa mesma
incumbência. Essa história nunca mais será contada entre os vossos
descendentes. Tu, porém, aviate e deposita secretamente o corpo de Adão
lá onde Deus te indicar, até o dia da Redenção!"
7 Após Noé ter transmitido tudo isso ao seu filho Sem, morreu com a
idade de novecentos e cinqüenta anos, no segundo dia de Ijjar, em um
domingo.
Capítulo 22
Inumação de Adão por Sem no Gólgota
1 Depois da morte de Noé, Sem cumpriu o que o seu pai lhe ordenara.
Penetrou de noite na Arca, retirou o corpo de Adão, depois lacrou-a de
novo com o selo de seu pai, sem que fosse percebido por ninguém.
2 A seguir, chamou Cam e Japhet e disse-lhes: "Irmãos! Meu pai
ordenou-me que eu partisse para as terras além do mar, para ver a
situação da terra e dos rios, e tomasse depois para junto de vós. Minha
mulher e os filhos da minha casa ficarão convosco, sob vossos cuidados!"
3 Responderam-lhe então os seus irmãos: "Leva contigo um bom número
de homens! Pois a região é infértil e desabitada; também existem lá
animais selvagens". Respondeu-lhes Sem: "O Anjo do Senhor irá comigo e
proteger-me-á de todo o mal".
4 Disseram então os seus irmãos: "Assim sendo, vai em paz! Que o
Senhor, Deus dos nossos Pais, esteja contigo!" Então Sem disse a Malach,
filho de Arpachsad e pai de Melchizedek, bem como à sua mãe Jozadak:
"Dai-me Melchizedek, para que me acompanhe e me sirva de companhia ao
longo da viagem!"
5 Disseram-lhe então os pais Malach e Jozadak: "Fique ele contigo, e
vai em paz!" Então Sem ordenou aos seus irmãos dizendo-lhes: "Irmãos!
Quando o meu pai morreu, obrigou-me por juramento a que nem eu nem
qualquer um dos vossos descendentes penetrasse na Arca, e foi selada com
o seu selo". E disse-lhes ainda: "Homem algum poderá dela
aproximar-se".
6 Em seguida, Sem tomou o corpo de Adão e, juntamente com
Melchizedek, abandonou o seu povo, de noite. Então apareceu-lhes o Anjo
do Senhor, que foi à frente deles; o caminho lhes era muito leve, porque
o Anjo do Senhor dava-lhes forças, até chegarem àquele lugar.
7 Chegados ao Gólgota, o ponto central da terra, o Anjo indicou o
lugar a Sem. Quando este depositou o corpo do nosso Pai Adão no alto
desse lugar, o chão abriu-se em quatro direções, na forma de uma cruz;
nele Sem e Melchizedek colocaram o corpo de Adão.
8 Tão logo ali o depositaram, os quatro lados do chão moveram-se e
cobriram o corpo do nosso Pai Adão; então fecharam-se as portas da
terra exterior. E esse lugar foi chamado "Calvário", porque ali fora
depositada a cabeça de todos os homens; "Gólgota", porque era redondo;
"Aterro", porque sobre ele foi pisada a cabeça da serpente má, Satã; e
"Sábata", porque ali seriam reunidos todos os povos.
9 Disse então Sem a Melchizedek: "Tu és o servidor do Deus Altíssimo,
pois Deus escolheu unicamente a ti para prestares serviço na sua
presença neste lugar. Permanece aqui para sempre, e por toda a tua vida
não te afastes deste lugar!
10 "E também não tomes mulher! Não cortes teus cabelos! Não derrames
sangue aqui! Não sacrifiques nem animais selvagens, nem pássaros, mas
oferece constantemente pão e vinho! E não construas nenhuma casa neste
lugar! O Anjo do Senhor descerá sempre e cuidará de ti."
11 Então Sem abraçou Melchizedek, beijando-o e abençoando-o; depois
disso, voltou para junto dos seus irmãos. Então os pais de Melchizedek,
Malach e Jozadak, perguntaram: "Onde está o menino?" ele respondeu-lhes:
"Morreu durante a viagem, e eu o enterrei". Então eles o prantearam com
muitas lágrimas.
Capítulo 23
A Geração de Sem
1 Sem viveu seiscentos anos; depois morreu. Seu filho Arpachsad, com
Salé e Heber, sepultaram-no. Arpachsad havia gerado Salé com a idade de
trinta e cinco anos; o total da sua vida alcançou quatrocentos e trinta
anos.
2 Ele morreu e foi enterrado por seu filho Salé e Heber e Peleg na
cidade de Arpachsad, que ele havia edificado em seu nome. Salé gerou
Heber, na idade de trinta anos; o total da sua vida alcançou
quatrocentos e trinta anos.
3 Quando morreu, o seu filho Heber, com Peleg e Regu, sepultaram-no
na cidade de Selichon, que ele edificara em seu nome. Heber, com a idade
de trinta e quatro anos, gerou Peleg; a sua vida inteira alcançou
quatrocentos e sessenta e quatro anos. Ele morreu e foi enterrado pelo
seu filho Peleg, Regu e Serug, na cidade de Heberin, que ele havia
edificado em seu nome. Peleg, com a idade de trinta anos, gerou Regu; a
sua vida inteira chegou a duzentos e trinta e nove anos; e depois
morreu.
4 Nos dias de Peleg, todas as estirpes e descendência dos filhos de
Noé transferiram-se do Oriente e assentaram-se numa planície na região
de Senaar; lá habitaram e tinham unidade de palavras e língua. Desde
Adão, todos eles falavam a mesma língua, a saber, a língua siríaca, que é
o aramaico; pois essa é a rainha de todas as línguas.
5 Erram os escribas antigos quando dizem que o hebraico foi a
primeira das línguas, e com isso misturaram o erro da ignorância aos
seus escritos, pois todas as línguas do mundo procederam do siríaco, e
todas as palavras dos livros relacionam-se com essa língua.
6 Na escrita dos sírios, o lado esquerdo prolonga o direito, e da
direita de Deus aproximam-se todos os filhos da esquerda, os gregos, os
romanos e os hebreus; a direita aqui prolonga a esquerda.
7 Nos dias de Peleg foi construída a torre em Babel; lá
confundiram-se as suas línguas, e dali foram espalhados por toda a
terra. Esse lugar chamou-se Babel, porque lá foram confundidas as
línguas. Depois da separação das línguas, Peleg morreu em grande
tristeza, com lágrimas nos olhos e dor no coração, porque nos seus dias a
terra ficou dividida.
8 Foi enterrado por seu filho Regu, Serug e Nachor, na cidade de Pelegin, por ele edificada em seu nome.
9 Havia então sobre a terra setenta e duas línguas e setenta e duas
cabeças de estirpe, e cada nação de língua diferente escolheu para si um
cabeça como rei. A linhagem de Japhet abrangia trinta e sete povos e
reinos: Gomer, Javan, Madai, Tubal, Mesech e Tiras, bem como todos os
reinos dos alaneus; todos esses são descendentes de Japhet.
10 Filhos de Cam são Cus, Misraim, Put e Canaã, com todos os seus
descendentes. Os filhos de Sem são Elam, Assur, Arpachsad, Lud e Aram,
com todos os seus descendentes. Os filhos de Japhet ocupam os confins do
Oriente, do monte Nod, nos limites orientais, até o Tigre, e, pelos
limites do Norte, da Báctria ao Gadir.
11 Os filhos de Sem habitam desde o Pars, no Oriente, até o mar, no
Ocidente; a eles pertence o ponto central da terra; possuem o reino e a
realeza. Os filhos de Cam ocupam toda a parte Sul, e ainda uma pequena
parte do Oeste.
12 Regu viveu duzentos e trinta anos, e gerou Serug. Nos dias de
Serug, no seu centésimo trigésimo ano, reinou o primeiro rei sobre a
terra, Nirnrod, o gigante, que imperou durante sessenta e nove anos; a
capital do seu reino foi Babel.
13 Ele viu no céu algo que se parecia com uma coroa; mandou então
chamar o tecelão Sisan, e este teceu-lhe uma semelhante e a colocou
sobre a sua cabeça. Por isso se diz que a coroa lhe veio do céu. Nos
dias de Regu, chegou ao término o terceiro milênio.
Capítulo 24
Início do Culto dos ídolos
1 Nos seus dias, os misreus, isto é, os egípcios, elegeram para si o
seu primeiro rei, chamado Puntos; reinou sessenta e oito anos sobre
eles. Nos dias de Regu reinou também um rei em Sabá, Ophir e Chavila. Em
Sabá reinaram sessenta das filhas de Sabá, e durante muitos anos
reinaram mulheres em Sabá, até o reinado do filho de Davi, Salomão.
2 Sobre os filhos de Ophir reinou o rei Leforão, que construiu Ophir
em pedras de ouro; pois todas as pedras de Ophir são de ouro. Sobre os
filhos de Chavila reinou Chavil, construtor de Chavila. Regu morreu com a
idade de duzentos e trinta e nove anos; foi enterrado por seu filho
Serug, mais Nachor e Tharé, na cidade de Orgin, que ele erigira em seu
nome.
3 Serug viveu trinta anos, e então gerou Nachor; sua vida inteira
alcançou duzentos e trinta anos. Nos dias de Serug sobreveio no mundo o
receio em face dos ídolos; pois nos seus dias, os homens começaram a
fabricar imagens para si.
4 Mas a introdução dos ídolos no mundo começou porque os homens
estavam espalhados por toda parte, e não possuíam nem mestres nem
legisladores, nem qualquer outro que lhes mostrasse o caminho da
verdade, por onde deviam caminhar.
Por isso é que caíram em erros audaciosos.
5 Alguns deles, no seu desvio, adoravam o sol, outros a lua e as
estrelas, outros a terra e os animais selvagens, os pássaros, os
insetos, as árvores, as rochas, os animais marinhos, as águas e os
ventos. Por essa forma, Satã cegou os seus olhos, fazendo com que
errassem nas trevas do engano, por não terem esperança na Ressurreição.
6 Quando alguém deles morria, fabricavam uma imagem que se parecesse
com ele e colocavam-na sobre a sua sepultura, para que não se
desvanecesse dos seus olhos a sua lembrança. Quando o erro se havia
disseminado sobre toda a terra, esta estava repleta de ídolos de toda
espécie, masculinos e femininos.
7 Serug faleceu com a idade de duzentos e trinta anos, e foi
sepultado por seu pai Nachor, Tharé e Abraão, na cidade de Saregin, que
em seu nome havia construído. Nachor gerou Tharé, na idade de vinte e
nove anos. Nos dias de Nachor, no seu septuagésimo ano, quando Deus viu
que os homens adoravam os ídolos, aconteceu um grande terremoto. Todos
cambaleavam, caíam e perdiam o juízo; mas outra coisa não fizeram a não
ser aumentar a sua iniqüidade.
8 Nachor morreu aos cento e quarenta e sete anos de idade; foi
enterrado por seu filho Tharé e por Abraão. Tharé, aos setenta e cinco
anos, gerou Abraão.
Capítulo 25
O Surgimento das Imagens dos Ídolos
1 Nos dias de Thares, aos seus noventa anos, surgiram as poções e
magias sobre a terra, na cidade de Ur, que Horon, filho de Ebers, havia
construído. Nessa cidade morava um homem muito rico, que morrera naquele
tempo, e seu filho então fez dele uma imagem em ouro, colocou-a sobre a
sua sepultura e postou ali um jovem para que a vigiasse.
2 Então Satã introduziu-se na estátua e habitou nela e começou a
falar com o jovem através da imagem do pai. Entretanto, vieram os
ladrões e levaram embora tudo o que o — jovem guardava; então ele
atirou-se sobre a sepultura do pai e começou a chorar.
3 Então Satã, falando com ele, disse: "Não chores na minha presença,
mas vai, traze o teu filhinho e imola-o para mim em sacrifício! Ser-te-á
então restituído tudo o que te foi tirado".
4 Ele então fez tudo conforme Satã lhe dissera; sacrificou o seu
filhinho e banhou-se no seu sangue. Então Satã saiu imediatamente
daquela imagem e entrou no jovem e começou a ensinar-lhe poções, magias,
passes, a arte dos caldeus, fados, sortilégios e destinos.
5 Naquele tempo, os homens começaram a sacrificar os seus filhos aos
demônios e a invocar os ídolos, pois os malignos entravam em todas as
imagens e lá habitavam.
6 Aos cem anos de Nachor, ao ver Deus que os homens sacrificavam os
seus filhos aos demônios e que adoravam os ídolos, abriu os
reservatórios dos ventos e a porta das tempestades. Então um ciclone
invadiu toda a terra, quebrou as imagens e os lugares de sacrifício dos
demônios, ajuntou os ídolos, as imagens e os altares, acumulando-os em
grandes outeiros até os dias de hoje.
7 Os mestres denominam esse ciclone o "dilúvio de vento". Há pessoas
todavia que deliram, dizendo que esses outeiros surgiram nos dias do
dilúvio; quem assim diz, erra longe da verdade, pois antes do dilúvio
não existiam ídolos sobre a terra, e ele não foi mandado por causa de
deuses falsos, mas por causa da impudicícia das filhas de Caim.
8 De outro lado, naquele tempo não existiam homens naquela terra,
sendo ela vazia e deserta; pois os nossos Pais já anteriormente haviam
sido expulsos para o estrangeiro, por não serem dignos de permanecer nas
proximidades do Paraíso. Eles foram levados pela Arca às montanhas de
Kardo, e a partir de lá espalharam-se por toda a terra.
9 Esses outeiros porém surgiram por causa dos ídolos, e debaixo deles
escondem-se todas as imagens de falsos deuses daquele tempo. Também os
demônios, que habitavam os ídolos, estão nesses outeiros; não há nenhum
outeiro que não contenha demônios.
Capítulo 26
Surgimento do Culto do Fogo
1 Nos dias do gigante Nimrod, apareceu um fogo que saía da terra.
Então Nimrod desceu, viu o fogo e invocou-o; e estabeleceu sacerdotes
para lá prestarem serviço e esparzir incenso. Desde aquele tempo, os
persas começaram a venerar o fogo, até os dias de hoje.
2 O Reisisan encontrou uma fonte em Derogin; construiu um cavalo
branco e colocou-o sobre ela, e todo aquele que ali se banhava adorava o
cavalo. Desde esse tempo, os persas começaram a venerar esse cavalo.
3 Nimrod foi a Jokdora, que vem a ser Nod. Quando chegou junto ao
mar, encontrou ali Jetã, filho de Noé. Ele desceu e banhou-se nesse mar;
depois ofereceu um sacrifício e adorou Jetã.
4 Então disse-lhe Jetã: "Tu és rei, e a mim veneras?" Respondeu-lhe
então Nimrod: "Por tua causa eu vim até aqui". Então Jonton ensinou a
Nimrod a sabedoria e a ciência dos oráculos, e disse-lhe: "Não tomes
mais a mim!"
5 Quando ele voltou para o Leste e começou a utilizar esse oráculo,
muitos se admiraram. Idascher, o sacerdote, servia junto àquele fogo que
nasceu da terra. Viu como agora Nimrod se ocupava com aquelas altas e
velhas artes. Então ele suplicou ao demônio, que apareceu junto àquele
fogo, lhe ensinasse a sabedoria de Nimrod.
6 E como os demônios soem desgraçar pelo pecado todos os que deles se
aproximam, disse o maligno a esse sacerdote: "Nenhum homem pode
tomar-se sacerdote ou mago a não ser que antes se deite com sua mãe, com
sua filha e com sua irmã". O sacerdote Idascher assim o fez.
7 A partir desse momento, os sacerdotes, os magos e os persas
começaram a fornicar com suas mães, irmãs e filhas. Esse mago Idascher
começou por perscrutar as constelações, bem como os fados, destinos,
acasos, e todas essas coisas das práticas dos caldeus.
8 Todo esse ensinamento do erro pertence aos demônios, e todo aquele
que o põe em prática será castigado com eles. Mas nenhum mestre ortodoxo
se opôs àqueles oráculos de Nimrod, porque foi-lhe ensinado por Jetã;
eles mesmos o utilizavam. Os persas chamavam-no oráculo, os romanos
astronomia.
9 A astrologia, porém, praticada pelos magos é bruxaria, ensino do
erro e dos demônios. Há todavia pessoas que dizem existir na realidade a
sorte, o destino, mas estão equivocadas.
10 Nirnrod edificou no Leste cidades-fortes: BabeI, Nínive, Resen,
Selêucia, Atesiphon e Aserbadschan; construiu também três fortalezas.
Capítulo 27
Abraão
1 Tharé, pai de Abrão, viveu duzentos e cinqüenta anos; depois
morreu. Abrão e Lot sepultaram-no em Haran. Ali Deus falou com Abrão e
disse-lhe: "Abandona a terra e a casa da tua família e vai para a terra
que eu te indicarei!"
2 Então ele tomou os filhos da sua casa, sua mulher Sarai e o filho
do seu irmão, Lot, e subiu para a região dos amoritas. Contava setenta e
cinco anos, quando se encaminhou para o oeste do rio Eufrates.
3 Oitenta anos tinha ele quando perseguiu os reis e resgatou o seu
sobrinho Lot. Naquele tempo todavia ele não tinha filhos, porque Sarai
era estéril.
4 Quando ele voltou do combate com os reis, os desígnios de Deus
chamaram-no, e ele se dirigiu ao alto do monte Jebus. Lá o rei de Salém,
Melchizedek, o sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao seu encontro. Quando
Abrão viu Melchizedek. correu para junto dele, caiu sobre a sua face e
venerou-o: depois ergueu-se do chão, abraçou-o e beijou-o; em seguida
foi por ele abençoado.
5 Depois que Melchizedek abençoou Abrão, este deu-lhe a décima parte
de tudo o que possuía, para que lhe permitisse participar dos santos
mistérios, do pão do sacrifício e do vinho da Salvação.
6 Após abençoado por Melchizedek, e recebidos os santos mistérios,
Deus falou a Abrão, dizendo-lhe: "Grande é o teu prêmio; recebeste agora
a bênção de Melchizedek e a comunhão do pão e do vinho. Eu também agora
desejo abençoar-te e fazer com que seja numerosa a tua descendência".
7 Quando Abrão tinha oitenta e seis anos de idade, nasceu-lhe Ismael,
de Agar. O faraó tinha dado Agar a Sarai por serva. Sarai porém era
irmã de Abrão por parte de pai; pois Tharé havia desposado duas
mulheres.
8 Quando Jauna, a mãe de Abrão, morreu, Tharé tomou outra mulher e
chamou-a Naharjath; desta nasceu Sarai. Por isso é que ele disse: "Ela é
minha irmã, filha do meu pai, mas não filha de minha mãe".
Capítulo 28
O Sacrifício de Isaac
1 Abraão tinha noventa e nove anos de idade quando Deus entrou em sua
casa e deu a Sara um filho. Cem anos tinha Abraão quando nasceu-lhe
Isaac. Isaac contava vinte e dois anos, quando o seu pai o levou consigo
ao monte Jebus, junto de Melchizedek, o servo do Deus Altíssimo.
2 O monte Jebus situa-se de fato nas montanhas dos amoreus, e sobre
esse lugar foi erigida a Cruz do Messias. Ali brotou uma árvore, que
carregou o cordeiro que salvou Isaac. Esse lugar é o ponto central da
terra, a sepultura de Adão, o Altar de Melchizedek, Gólgota, Calvário,
Sábata.
3 Lá Davi viu o Anjo que portava a espada de fogo, e lá Abraão levou o
seu filho Isaac, para imolá-lo; ele viu a Cruz do Messias e a redenção
do nosso Pai Adão. A árvore era o prenúncio da Cruz de Nosso Senhor, o
Messias, e o cordeiro nos seus ramos representava o mistério da
Encarnação do Verbo único.
4 Por isso Paulo exclamou, dizendo: "Se eles tivessem tido
entendimento, não teriam crucificado o Rei da Glória". Cale-se a boca
dos hereges, que em seu delírio atribuem sofrimentos Aquele que é
eterno! Quando o Messias tinha oito dias de idade, José, esposo de
Maria, decidiu circuncidar o menino, segundo a Lei; circuncidou-o, de
acordo com os usos da Lei. E assim também Abraão levou o seu filho para o
sacrifício, representando com isso a morte na Cruz do Messias.
5 Por isso é que o Messias anunciou abertamente diante dos judeus
reunidos: "Abraão, vosso Pai, desejou ardentemente presenciar os meus
dias; ele os viu e alegrou-se com isso". Lá revelou-se a Abraão o dia da
redenção de Adão; ele o viu e alegrou-se profundamente; e foi-lhe
mostrado também que o Messias sofreria em lugar de Adão.
Capítulo 29
A Fundação de Jerusalém
1 No mesmo ano em que Abraão levou o seu filho para a imolação,
Jerusalém foi fundada. O início da edificação começou da seguinte forma:
quando Melchizedek apareceu e se mostrou aos homens, vieram ter com ele
Abimelech, rei de Gedar, Arnraphel, rei de Sinear, Arioch, rei de
Delassar,
Kedor Laomer, rei de Elam. Tarel, rei dos geleus, Bera, rei de
Sodoma, Birsa, rei de Gomorra, Sineag, rei de Dama, Gemair, rei de
Seboim, Salach. rei de Bela, Tabik, rei de Darfos, e Baktor, rei do
Deserto.
2 Esses doze reis chegaram a Melchizedek, rei de Salém e servo do
Deus Altíssimo, e quando eles viram a sua figura e ouviram as suas
palavras, suplicaram-lhe que fosse junto com eles. Ele respondeu-lhes:
"Não tenho permissão de afastar-me daqui para um outro lugar".
3 Então apressaram-se em mútuas consultas para a decisão de
construir-lhe uma cidade, enquanto comentavam entre si: "Ele é na
realidade o rei de toda a terra e pai de todos os reis". Assim, eles
edificaram-lhe uma cidade e constituíram Melchizedek seu rei, e ele
chamou-a Jerusalém.
4 Quando Magog, o rei do Sul, ouviu falar disso, veio ter com ele,
admirou o seu porte, conversou com ele e fez-lhe oferendas e deu-lhe
presentes. Dessa forma, Melchizedek era honrado por todos os povos e
chamado de "pai dos reis".
5 E isso que foi dito pelo Apóstolo: "Os seus dias não têm começo e
não têm fim". Aos néscios todavia pareceu que ele não foi um homem, e
dele afirmaram erroneamente que era Deus.
6 Absolutamente não! Mas os seus dias não têm nem começo, nem fim,
pois, não é dita uma palavra sobre como ele foi levado da casa dos seus
pais por Sem, filho de Noé, nem sobre sua idade quando partiu para o
Oriente, nem sobre os seus anos quando partiu deste mundo.
7 Por ter sido ele o filho de Malach e neto de Arpachsad, filho de
Sem, e não o filho de um dos Patriarcas, diz o Apóstolo que nenhum homem
da estirpe de seu pai serviu diante do Altar. O nome do seu pai não
está consignado no registro das gerações, porque os evangelistas Mateus e
Lucas só mencionaram os Patriarcas. Por isso também é que os nomes do
seu pai e de sua mãe são desconhecidos.
8 O Apóstolo contudo não diz que ele não tinha pais, mas tão-somente
que no registro genealógico de Mateus e Lucas os seus nomes não constam.
9 No centésimo ano de Abraão, apareceu no Oriente um rei por nome
Kurnros. Este construiu Somosata e Caludias, segundo o nome da sua filha
Kalod, e Perre, segundo o nome do seu filho Poron. No qüinquagésimo ano
de Regus, Nirnrod subiu e construiu Nísibe e Edessa.
10 Cercou Haran, que é Edessa, com o muro de Haranith, mulher de
Dasan, o sacerdote da montanha. Os habitantes de Haran erigiram para ela
uma estátua e passaram a venerá-la. Baltin foi entregue a Tammuz; mas
porque Beelschemin a amava, Tammuz fugiu dele. Então ela ateou o fogo e
Haran ardeu.
Capítulo 30
Isaac
1 Quando morreu Sara, mulher de Abraão, este tomou por esposa a
Cetura, filha de Baktor, rei do Deserto. Dela nasceram-lhe Simron,
Jaksan, Medan e Midian, Jesbak e Suach. Destes procederam aos árabes.
2 Quando Isaac chegou aos quarenta anos de idade, Eliezer, um dos
descendentes de Abraão, foi ao Oriente buscar Rebecca; Isaac então
tomou-a por esposa. Quando Abraão morreu, Isaac sepultou-o ao lado de
Sara. Quando Isaac tinha sessenta anos, Rebecca ficou grávida de Esaú e
Jacó.
3 Nas suas angústias antes do parto, ela foi procurar Melchizedek.
Este rezou por ela, e depois disse: "Dois povos estão no teu ventre, e
duas nações serão segregadas das tuas coxas, isto é, procederão do teu
corpo; e uma será mais forte do que a outra, e a mais velha deverá ser
submetida a mais nova", isto é, Esaú deverá servir a Jacó.
4 Quando Isaac tinha sessenta e sete anos de idade, foi construída
Jericó por obra de sete reis, a saber, o rei dos hititas, o rei dos
amoreus, o rei dos gergestitas, o rei dos jebuseus, o rei dos cananeus, o
rei dos hititas e o rei dos fereseus.
5 Cada um deles ergueu um muro ao redor da cidade. Anteriormente
porém já o filho do rei do Egito, Mesrin, havia fundado a cidade de
Jericó. No deserto, Ismael converteu o moinho manual em moinho de
trabalho escravo.
6 No centésimo ano de vida de Isaac, este abençoou a Jacó, que
contava quarenta anos de idade. Depois de recebida essa bênção do seu
pai, ele desceu ao Oriente. Quando certo dia ele foi ao deserto de
Beerseba, ali pegou no sono; ao adormecer, tomou de uma pedra para
servir-lhe de encosto para a cabeça.
7 Então em sonho ele presenciou uma visão: da terra partia uma escada
e a sua extremidade alcançava o céu. Os Anjos de Deus desciam e subiam
por ela, e no alto dela estava o Senhor. Então Jacó acordou do seu sono e
disse: "Em verdade, esta é a morada de Deus".
8 Depois tomou a pedra que lhe servira de encosto, ergueu um altar,
ungiu-o com óleo, fez uma promessa, dizendo: "De tudo o que possuo
oferecerei uma décima parte a esta pedra".
9 Para os que entendem, é evidente: a escada vista por Jacó
representa a Cruz do Redentor; os Anjos que por ela subiam e desciam são
os servidores, como Zacarias, Maria, os Magos e os Pastores. O Senhor
postado no alto da escada é o Messias, que pende do alto da Cruz, para
depois descer ao mundo inferior e redimir-nos.
10 Depois de haver Deus mostrado ao piedoso Jacó a Cruz do Messias,
através da escada e dos Anjos, bem como sua descida aos infernos para a
nossa salvação, a Igreja, a casa de Deus, e o altar da pedra, a oferta
dos dízimos e a unção pelo óleo, Jacó seguiu o seu caminho para o
Oriente, e lá Deus mostrou-lhe o Batismo, pois ele viu três rebanhos que
estavam junto a um poço.
11 Uma grande pedra estava colocada na abertura do poço; Jacó foi lá e
removeu a pedra, dando de beber às ovelhas do irmão de sua mãe. Depois
de haver! dado de beber às ovelhas, ele tomou Rachel e beijou-a.
12 O "poço" era o Batismo, que ficara oculto às gerações e às
estirpes. O piedoso Jacó e os três rebanhos de ovelhas dão-nos a imagem
das três subdivisões do Batismo, o dos homens, o das mulheres e o das
crianças.
13 O fato de Jacó ter visto Rachel, que vinha com as ovelhas, mas não
havê-la abraçado e beijado antes de ter removido a pedra da boca do
poço e dado de beber às ovelhas, indica a lei dos membros da Igreja,
segundo a qual só abraçam e beijam as ovelhas do Messias após o Batismo,
depois de terem imergido e se revestido da força da água; só então
abraçam e beijam os filhos da Igreja.
14 Durante sete anos Jacob serviu a Labão, e só então lhe foi
concedida aquela que ele amava; isto significa que aos judeus, que
prestaram servidão ao faraó, rei do Egito, e depois saíram desse país,
não foi concedido o testamento da Igreja esposa do Messias, mas somente o
velho testamento, gasto e deteriorado.
15 Isso representa a primeira filha recebida por Jacob: os seus
olhos eram feios, enquanto que os olhos de Rachel eram bonitos e o seu
rosto brilhante. Sobre o primeiro testa-mento fora estendido um véu, de
sorte que os filhos de Israel não puderam ver a sua beleza; o segundo
testamento, porém, é pura luz.
Capítulo 31
Jacó e seus Filhos
1 Jacó tinha setenta e sete anos de idade quando recebeu a bênção de
seu pai. Na idade de oitenta e nove anos, gerou de Lia o seu
primogênito, Ruben. São os seguintes os filhos de Jacob: Ruben, Simeão,
Levi, Judá, Issacar e Zebulon; esses foram gerados por Lia: José e
Benjamim são os filhos de Rachel; Dan e Naphtali são de BaIla, escrava
de Rachel.
2 Passados vinte anos, Jacó tomou para junto do seu pai Isaac. A vida
toda de Isaac alcançou cento e oitenta anos, tendo Levi trinta e um
anos de idade; faleceu quando Jacó contava cento e vinte anos. Vinte e
três anos após a volta de Jacó de Haran, José foi vendido aos
madianitas; isso aconteceu em vida de Isaac, e todos deploraram
profundamente.
3 Quando Isaac morreu, Jacó e Esaú, e seus outros filhos,
sepultaram-no junto de Abraão e Sara. Sete anos mais tarde, faleceu
Rebecca, e foi enterrada junto de Abraão, lsaac e Sara. Rachel também
morreu e foi sepultada junto deles.
4 Judá, filho de Jacó, casou-se com a Cananéia Batsua; seu pai. Jacó,
entristeceu-se por ter ele tomado uma mulher da estirpe de Canaã. Falou
então Jacó a Judá: "Não permita o Deus dos nossos pais Abraão e Isaac
que a geração de Canaã se misture com os meus descendentes!"
5 Da Cananéia Batsua nasceram-lhe Her, Onan e Sela. Judá escolheu
Thamar para seu primogênito Her, como esposa; mas por este viver em
coito sodomita com ela, Deus o fez morrer.
6 Então Judá entregou Thamar a Onan; mas cada vez que este tinha o
seu sêmen quente, a ponto de introduzi-lo em Thamar, lançava-o fora;
então Deus fê-lo morrer também. Assim, Deus não permitiu que a estirpe
de Canaã se misturas-se com a estirpe de Jacó; pois este havia suplicado
ao Senhor que a geração de Canaã, primogênito de Cam, "o impudico", não
se mesclasse com os descendentes do tronco dos Pais.
7 Deus fez com que Thamar fosse para a rua; então Judá deitou-se com
ela de maneira impura. Ela engravidou e deu à luz Farés e Zeracho Jacó,
com todos os seus descendentes, desceu ao Egito, para junto de José, e
lá permaneceu por dezessete anos.
8 Morreu aos cento e quarenta e sete anos de idade; José tinha
cinqüenta e seis anos quando o seu pai morreu, noduodécimo ano de Kahat.
Os médicos sábios do Faraó embalsamaram-no e José levou-o de volta,
sepultando-o junto de Abraão e do seu pai lsaac.
Capítulo 32
Os Troncos de Jacó
1 Existem escritores que afirmam que, a partir da morte de Jacó, as
estirpes se intercalaram e misturaram-se entre si; mas assim não procede
à luz da verdade, pois há dois ramos de gerações: uma "das estirpes" e
outra "dos filhos de Israel".
2 Quando saíram do Egito, Judá gerou Farés, este gerou Hesron, este
Aram, Aram gerou Aminadab, e este Nahasson, que foi príncipe em Judá.
Aminadab deu a irmã de Nahasson a Eleazar, o filho do sacerdote Aarão;
dela nasceu o sumo sacerdote Piuechas; este, com a sua oração, manteve
afastada a peste.
3 Mostrei-te, portanto, que de Aminadab, pela irmã de Nahasson,
procedeu o sacerdócio dos filhos de Israel, e do irmão dela, Nahasson, a
realeza. Dessa forma, o sacerdócio e a realeza dos filhos de Israel são
oriundos de Judá.
4 Nahasson gerou Selia, e Selia gerou Boaz. Observa agora como a
realeza procedeu de Boaz e da moabita Ruth, pois Boaz, já velho,
casou-se com Ruth, para que Lot, sobrinho de Abraão, pudesse participar
do ramo da realeza!
5 Assim, Deus não recusou ao justo Lot a recompensa pelo seu
trabalho; pois sacrificara-se em terra estrangeira. juntamente com
Abraão, e acolhera em paz o Anjo do Senhor. Lot. o justo, também não foi
censurado por ter deitado com suas filhas.
6 Deus concedeu à semente desses dois, que dela se originasse o ramo
dos reis. Dessa forma, o Messias nasceu da semente de Lot e de Abraão,
pois, da moabita Ruth nasceu Obed, de Obed nasceu Isai, de Isai Davi, e
de Davi, Salomão. Estes procedem da linhagem da moabita Ruth, filha de
Lot.
7 Da amonita Naema, outra das filhas de Lot, que Salomão tomou por
mulher, nasceu Jeroboão, que foi re: depois de Salomão. Salomão teve
muitas mulheres, setecentas por casamento e trezentas como concubinas;
porém, das mil mulheres que tomou não gerou filhos, a não ser da amonita
Naema.
8 Por que Deus não lhe concedeu nenhum filho das outras` Para que a
má semente dos cananeus, jebuseus, amoreus heteus, gergeseus, e de
outros povos repudiados por Deus, não se misturasse à linhagem
genealógica do Messias.
Capítulo 33
Moisés
1 Os ramos de gerações do: filhos de Israel são os seguintes: Levi,
Amram, Moisés Josué, filho de Nun, e Caleb filho de Jephunne. Estes
nasceram no Egito.
2 Quando Moisés nasceu foi colocado no rio. Então a egípcia Sipor,
filha do Faraó, recolheu-o, e ele permaneceu na casa do Faraó por
quarenta anos. Depois disso, ele matou o egípcio Phetkom, chefe dos
padeiros do Faraó.
3 Quando a corte do Faraó ficou sabendo, e como Makri, a filha do
Faraó conhecida por "a trombeta do Egito" que havia criado Moisés já
tivesse morrido, ele teve medo e fugiu para Madian, para junto do
cushita Reguei, sacerdote de Madian.
4 Desposou a cushita Sipora, filha do sacerdote; dela nasceram dois
filhos, Gerson e Eliezer, e quando Moisés contava cinqüenta e dois anos
de idade, nasceu no Egito Josué, filho de Nun. Moisés estava com oitenta
anos quando Deus falou-lhe da sarça ardente, e de temor diante d'Ele a
sua língua ficou presa. Por isso ele disse a Deus: "Vê, meu Senhor!
Desde o dia em que me dirigiste a palavra, fiquei gago".
5 Ele permaneceu quarenta anos no Egito; quarenta anos na casa do
sacerdote de Madian; e outros quarenta como condutor do povo. Morreu com
a idade de cento e vinte anos, sobre o monte Nebo. Josué, filho de Nun,
foi condutor dos filhos de Israel durante vinte e sete anos.
6 Depois da morte de Josué, Cusan, o cruel, assumiu o comando dos
filhos de Israel durante oitenta anos. Depois, pelo período de quarenta
anos, Israel foi conduzido por Athniel, filho de Cena e irmão de Caleb,
filho de Jephunne.
7 Depois, por dezoito anos, os filhos de Israel ficaram submetidos
aos moabitas. Em seguida, Ehud, filho de Gera, dirigiu os israelitas
pelo espaço de oitenta anos, e quando Ehud chegou aos vinte seis anos de
idade, o quarto milênio terminou.
Capítulo 34
Os Juizes, Davi e Salomão
1 Nabin, o estéril, deteve então o poder por vinte anos; Deborah e
Barak por quarenta anos. Depois, os israelitas ficaram submetidos aos
madianitas por sete anos, e Deus os libertou por meio de Gedeão; este os
conduziu durante quarenta anos.
2 Em seguida, reinaram seu filho Abimelech durante três anos; Thola,
filho de Pua, durante vinte e três anos; e o gileadita Jair durante
vinte e dois anos. Depois, uma vez mais, os israelitas foram subjugados
pelos amonitas, durante dezoito anos. Deus libertou-os por intermédio de
Jephta, que sacrificou sua filha; ele os conduziu por seis anos.
3 Ebzan, que é Nahasson, conduziu-os depois por sete anos; Elon, que
procedia de Zebulon, por dez anos; e Adbon por oito. Em seguida, os
israelitas foram submetidos pelos filisteus, por quarenta anos; Deus
libertou-os por obra de Sansão, que depois os conduziu durante vinte
anos.
4 Após isso, passaram dezoito anos sem um chefe; em seguida
apresentou-se o sacerdote Heli, que os dirigiu durante quarenta anos.
Depois veio Samuel, e conduziu-os por vinte anos; nos dias de Samuel, os
israelitas provocaram a ira de Deus, que os havia libertado da
escravidão do Egito.
5 Escolheram Saul, filho de Cis, como seu rei, e ele reinou quarenta
anos. No tempo de Saul vivia Golias, o gigante dos filisteus;
apresentava-se com arrogância, ofendendo Israel e blasfemando contra
Deus.
6 Então ele foi morto por Davi, filho de Isai, e por causa disso, ele
foi glorificado pelas filhas de Israel, e sucedeu Saul. Saul foi morto
pelos filisteus, porque abandonou Deus, buscando refúgio junto aos
demônios.
7 Davi reinou quarenta anos sobre os israelitas, e depois dele
Salomão, igualmente por quarenta anos. Salomão realizou grandes
maravilhas. Também mandou buscar o ouro das montanhas auríferas de
Ophir; o transporte em navios durou trinta e seis meses.
8 Edificou Tadmor, no deserto, e lá executou obras portentosas e
magníficas. Quando Salomão chegou nos limites das montanhas de Seir,
encontrou o altar que Pirozakar, Pioraza e Jazdod haviam erguido. Estes
haviam sido mandados pelo gigante Nirnrod junto ao sacerdote da montanha
Seir, Bileam, pois ouvira dizer que este escrutava as constelações.
9 Quando chegaram nos confins de Seir, ergueram lá um altar ao sol.
Salomão, depois de ver esse altar, mandou construir ali uma cidade e
chamou-a de Heliópolis, isto é, cidade do sol. Edificou também Aradus,
no meio do mar.
10 Ele era famoso e enaltecido, e a fama de sua sabedoria alcançou
todos os cantos da terra. E a rainha de Sabá foi procurá-lo. Salomão
tinha especial consideração pelo rei de Tiro, Hiram.
11 Hiram reinou quinhentos anos em Tiro, desde os dias do reinado de
Davi até os de Sedecias e de todos os reis israelitas, e chegando a
esquecer que era um homem, blasfemou e disse: "Eu sou Deus, e sentou no
trono de Deus no meio do mar". Foi morto pelo rei Nabucodonosor.
Capítulo 35
O Esplendor de Salomão
1 Nos dias de Hiram foi estabeleci da a púrpura como a vestimenta dos
reis. Isso porque um dia, um cachorro passeava na beira do mar e viu um
molusco purpúreo que saía da água. Mordeu-o, e imediatamente o seu
focinho ficou tinto do sangue do molusco.
2 Isso foi presenciado por um pastor, que pegou lã e limpou o focinho
do cachorro. Com essa lã ele confeccionou para si uma coroa e colocou-a
sobre a sua cabeça. Enquanto ele passeava ao sol, todos que o viam
acreditavam que de sua cabeça faiscavam raios de fogo.
3 Quando Hiram ouviu falar disso, mandou buscá-lo: ao ver aquela lã,
ficou pasmado e admirado. Reuniram-se então todos os tintureiros e
admiraram-se com o fato; saíram para pesquisar o assunto, encontraram
tais moluscos e ficaram muito contentes; Salomão entusiasmou-se
sobremaneira.
4 A comida da mesa de Salomão constava diariamente de quarenta bois,
cem ovelhas, cento e trinta medidas de farinha de trigo, sessenta
medidas de outra farinha e trezentos cântaros de vinho, afora os veados,
corças, gamos e o produto da caça do campo.
5 Ele se tornou ousado, transgrediu a Lei e deixou de observar os
mandamentos do seu pai. Tomou mil mulheres, de todos os povos odiados
por Deus.
6 Na sua velhice, entregou o seu coração às mulheres, que com isso se
divertiam; escutava as suas palavras, atendia às suas vontades e
renegou o Deus do seu pai Davi. Ergueu altares aos demônios, oferecia
sacrifícios a ídolos e imagens e adorava a obra das mãos humanas.
7 Deus então desviou dele a Sua face, e ele morreu. Reinou em
Jerusalém pelo período de quarenta e um anos; depois dele subiu ao trono
o seu filho Roboão.
Capítulo 36
Roboão e os seus Sucessores
1 Este chegou ao reinado aos quarenta e um anos de idade. Levou a
infâmia a Jerusalém com seu despudor, com altares aos demônios.
2 Riram reinou quinhentos anos em Tiro, desde os dias do reinado de
Davi até os de Sedecias e de todos os reis israelitas, e chegando a
esquecer que era um homem, blasfemou e disse: "Eu sou Deus, e sento no
trono de Deus no meio do mar". Foi morto pelo rei Nabucodonosor.
Capítulo 37
O Esplendor de Salomão
1 Nos dias de Riram foi estabeleci da a púrpura como a vestimenta dos
reis. Isso porque um dia, um cachorro passeava na beira do mar e viu um
molusco purpúreo que saía da água. Mordeu-o, e imediatamente o seu
focinho ficou tinto do sangue do molusco.
2 Isso foi presenciado por um pastor, que pegou lã e limpou o focinho
do cachorro. Com essa lã ele confeccionou para si uma coroa e colocou-a
sobre a sua cabeça. Enquanto ele passeava ao sol, todos que o viam
acreditavam que de sua cabeça faiscavam raios de fogo.
3 Quando Riram ouviu falar disso, mandou buscá-lo; ao ver aquela lã,
ficou pasmado e admirado. Reuniram-se então todos os tintureiros e
admiraram-se com o fato; saíram para pesquisar o assunto, encontraram
tais moluscos e ficaram muito contentes; Salomão entusiasmou-se
sobre-maneira.
4 A comida da mesa de Salomão constava diariamente de quarenta bois,
cem ovelhas,cento e trinta medidas de farinha de trigo, sessenta medidas
de outra farinha e trezentos cântaros de vinho, afora os veados,
corças, gamos e o produto da caça do campo.
5 Ele se tomou ousado, transgrediu a Lei e deixou de observar os
mandamentos do seu pai. Tomou mil mulheres, de todos os povos odiados
por Deus.
6 Na sua velhice, entregou o seu coração às mulheres, que com isso se
divertiam; escutava as suas palavras, atendia às suas vontades e
renegou o Deus do seu pai Davi. Ergueu altares aos demônios, oferecia
sacrifícios a ídolos e imagens e adorava a obra das mãos humanas.
7 Deus então desviou dele a Sua face, e ele morreu. Reinou em
Jerusalém pelo período de quarenta e um anos; depois dele subiu ao trono
o seu filho Roboão.
Capítulo 38
Roboão e os seus Sucessores
1 Este chegou ao reinado aos quarenta e um anos de idade. Levou a
infâmia a Jerusalém com seu despudor, com altares aos demônios e com o
cheiro do paganismo. E o reino de Davi foi partido.
2 No quinto ano do seu governo, o rei do Egito, Sisak, marchou contra
Jerusalém e saqueou todos os tesouros do serviço do Templo do Senhor,
bem corno todos os tesouros reais de Davi e Salomão, os vasos de ouro e
de prata, enquanto se vangloriava e dizia: "Eu não tiro a vossa
propriedade, mas somente as riquezas que os vossos pais levaram do
Egito".
3 Roboão morreu na impiedade do seu pai Salomão; depois dele reinou o
seu filho Abias. Ele arruinou Jerusalém com a impureza e impiedade,
porque a filha de Absalão, Maecha, era sua mãe. Morreu na impiedade do
seu pai.
4 Depois dele, reinou em Jerusalém o seu filho Asa, por quarenta
anos. Ele fez o que agradava aos olhos do Senhor, baniu de Jerusalém a
impudicícia e manteve o seu povo afastado da impiedade; pois ele era
observante dos Mandamentos de Deus.
5 Expurgou o seu reino da impiedade e dela zombava diante de todo o
povo, por causa dos sacrifícios oferecidos a ídolos. Zerach levantou-se
contra ele; mas Deus humilhou-o diante de Asa. Asa morreu na sua
retidão, como o seu antepassado Davi.
6 Depois dele, subiu ao trono o seu filho Josaphat. Este andou nos
caminhos do seu pai Asa e agiu de acordo com o que era agradável a Deus.
Entretanto, Deus irou-se com ele, porque amava a casa de Achab; por
isso, não lhe foi concedido por Deus buscar o ouro de Ophir.
7 Ele construiu navios, na intenção de expedi-los; mas elegi se
despedaçaram em Asiongaber. Quando subiu ao trono ele tinha trinta e
dois anos; sua mãe foi Asuba, filha de Silchis. Josaphat morreu na sua
retidão; depois dele reinou o seu filho Jorão.
8 Tinha trinta e dois anos quando chegou ao poder, e reinou em
Jerusalém durante oito anos; não fez o que era agradável aos olhos de
Deus. Fazia sacrifícios nos altares do diabo, e morreu na impiedade.
9 Depois dele reinou o seu filho Ocozias; chegou ao poder com a idade
de vinte e dois anos, e ficou um ano em Jerusalém. Nesse único ano
obrou grandes males diante do Senhor. Por causa do exercício da maldade e
impiedade, Deus entregou-o nas mãos dos seus inimigos, que o mataram.
10 Depois da sua morte, sua mãe mandou matar todos os filhos da casa
real de Davi; pensava poder assim extirpar a realeza dos judeus. Não
deixou vivo nenhum rebento da casa real, a não ser Joás, que Joseba,
filha de Jorão e neta de Josaphat, havia salvo secretamente e escondido
em sua própria casa.
11 Assim, a irmã de Achab reinou sete anos em Jerusalém, e
conspurcou-a de impudicícia, pois ordenou que as mulheres praticassem a
formicação abertamente e sem receio, e que os homens cometessem o
adultério com as mulheres do seu próximo, porque nenhuma culpa lhes
seria imputada.
12 Ela agiu em Jerusalém com todo o despudor de Jezabel e com a impiedade da casa de Achab.
Capítulo 39
Joás e seus Sucessores
1 Depois de sete anos, os habitantes de Jerusalém começaram a pensar
quem escolheriam como rei. Quando o sacerdote Jojada ouviu falar disso,
reuniu todo o povo na Casa do Senhor, no Templo edificado por Salomão.
2 Quando todos estavam reunidos, falou-lhes o sacerdote Jojada da
seguinte maneira: "Quem pensais que deve ser rei e assentar-se no trono
de Davi, a não ser um rei e filho de rei?" Quando ele lhes apontou o
próprio, alegraram-se profundamente, e então os chefes de cem e os
chefes de mil encaminharam-se até lá.
3 Os ordenanças e soldados da guarda conduziram o rei à Casa do
Senhor, cercado de todos os corpos militares de armas em guarda. então o
sacerdote Jojada fê-lo assentar-se sobre o trono do seu pai Davi.
4 Ele tinha sete anos de idade quando foi proclamado rei. Reinou por
quarenta anos em Jerusalém; sua mãe era Sibea, de Beerseba; mas Atalja
havia sido assassinada. Joás, todavia, afastou-se do agir correto que o
sacerdote Jojada lhe havia recomendado; depois que este morreu, derramou
o sangue inocente dos seus filhos.
5 Joás morreu, e depois dele reinou o seu filho Amasias. Ele tinha
vinte e cinco anos quando chegou ao poder, e reinou vinte e nove anos em
Jerusalém; sua mãe chamava-se Joadan. Quando Amasias morreu,
sucedeu-lhe o seu filho Ozias (Azarias).
6 Ele tinha dezesseis anos quando chegou ao trono, e reinou durante
cinqüenta anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Jechalja. Ele praticou o
bem diante do Senhor. Foi porém muito audacioso, penetrou no Santo dos
Santos, tomou o turíbulo das mãos do sacerdote de Deus e passou a
incensar o Templo do Senhor.
7 Por ter feito isso, o seu corpo ficou coberto de lepra. E ao
Profeta Isaías foi retirado o dom da profecia, por não havê-lo exortado;
depois azias morreu. Depois dele, reinou o seu filho Jothan; contava
vinte e cinco anos quando chegou ao poder, e reinou dezesseis anos em
Jerusalém; sua mãe foi Jerusa, filha de Zadok. Ele praticou o bem diante
do Senhor.
8 Jothan morreu, e depois dele reinou o seu filho Acaz; tinha vinte
anos quando subiu ao trono. Reinou dezesseis anos em Jerusalém; sua mãe
era Aphin, filha de Levi. Ele praticou o mal diante do Senhor, e fazia
sacrifícios aos demônios.
9 Contra ele levantou-se o rei da Assíria, Tiglatpilesar. O próprio
Acaz, em um escrito, declarou-se seu servo, e assim o assírio o
subjugou. Mandou ao rei da Assíria ouro e prata retirados da Casa do
Senhor; durante o seu reinado, os israelitas foram levados ao cativeiro.
10 E o rei mandou que o povo de Babel ocupasse aquela terra, em lugar
dos israelitas: então leões ameaçavam matá-los. Por isso, o rei da
Assíria enviou-lhes o sacerdote Uri, que lhes ensinou leis.
Capítulo 40
Ezequias
1 Acaz morreu, e depois dele reinou o seu filho Ezequias. Ezequias
tinha vinte e cinco anos quando chegou ao poder. Reinou vinte e nove
anos em Jerusalém; sua mãe foi Abi, filha de Zacarias. Ele praticou a
retidão diante do Senhor, derrubou os altares e quebrou a serpente de
bronze que Moisés havia feito no deserto, pois os israelitas a adoravam,
e baniu de Jerusalém a impiedade.
2 No seu quarto ano, o rei dos assírios, Salmanassar, invadiu
Jerusalém e levou para o cativeiro o resto de Israel; arrastou-os para
Madian, além da Babilônia. No vigésimo ano de Ezequias, irrompeu
Senaquerib, rei dos assírios, e apossou-se de todas as cidades e
povoados de Judá; somente Jerusalém foi poupada, por causa da oração de
Ezequias.
3 Ele porém ficou mortal-mente doente; estava profunda-mente triste e
chorava muito. Existem pessoas que o censuram; mas não procuram saber
qual era o motivo da sua profunda tristeza. A razão do abatimento de
Ezequias era que ele não tinha nenhum filho que pudesse sucedê-lo, no
momento em que se sentia à morte.
4 Quando com os olhos da sua alma percebeu que não tinha nenhum filho
que pudesse reinar depois dele, entristeceu-se profundamente, e
chorando disse: "Ai de mim! Morrerei sem filhos: e aquela bênção que
possuíamos ao longo de quarenta e seis gerações ser-me-á tirada hoje, e
por meu intermédio extinguir-se-á a realeza de Davi. Comigo encerra-se
hoje o ramo das gerações dos reis de Judá".
5 Era essa a tristeza de Ezequias. Depois de ficar restabelecido da
sua enfermidade, decorreram mais quatorze anos, quando então nasceu-lhe
Manassés. Ezequias morreu em grande sossego. por deixar um filho que se
assentaria sobre o trono de seu pai Davi.
Capítulo 41
Manassés e seus Sucessores
1 Manassés tinha doze anos de idade quando chegou ao poder, e reinou
vinte e cinco anos em Jerusalém: sua mãe chamava-se Hephsiba. Ele foi
pior e mais ímpio que todos os seus antecessores; ergueu altares aos
diabos, fazia sacrifícios aos ídolos, encheu Jerusalém de sacrilégios e
provocou a ira de Deus.
2 Ao ser advertido pelo Profeta Isaías, perseguiu-o e mandou atrás
dele pessoas perversas. Essas serraram o profeta Isaías com um serrote,
da cabeça aos pés, sobre um cepo. Ele tinha cento e vinte anos quando o
serraram, e durante noventa anos foi profeta de Deus.
3 Mas Manassés arrependeu-se por ter mandado matar lsaías: vestiu uma
roupa de penitência, impôs-se um jejum, e durante o resto da sua vida
comeu o pão com lágrimas, por ter praticado o mal e ter matado o
Profeta. Manassés morreu, e o seu filho Amon passou a ser o rei.
4 Este tinha vinte e dois anos quando subiu ao poder, e reinou dois
anos em Jerusalém: sua mãe foi Mesulemeth. Amon praticou o mal diante do
Senhor, e mandou os seus filhos caminharem sobre o fogo. Morreu, e
depois dele reinou o seu filho Josias, que contava oito anos quando
subiu ao trono, e reinou trinta e um anos em Jerusalém; sua mãe era
Jedida, a filha de Adaja de Baskat.
5 Ele praticou o bem diante do Senhor, e caminhou nas sendas do seu
pai Davi; não se desviava nem à esquerda, nem à direita. Foi morto pelo
Faraó, o Coxo, e depois da sua morte, reinou o seu filho Joacaz.
6 Tinha vinte e dois anos quando chegou ao poder, e reinou por três
meses em Jerusalém; sua mãe era Amital, a filha de Jeremias de Libna.
Ele praticou o mal diante do Senhor, como o fizera Manassés. O rei do
Egito, Faraó o Coxo, fê-lo prisioneiro em Riblat, terra de Hemat, ainda
quando era rei em Jerusalém, e impôs ao país um tributo de cem talentos
de prata e dez talentos de ouro.
7 Em seguida Faraó, o Coxo, estabeleceu como rei a Eliachim, filho de
Josias, ao invés do seu pai, e deu-lhe o nome de Joiakim. Quanto a
JoAcaz, levou-o embora; chegou ao Egito, e lá morreu. Joiakim deu ao
Faraó ouro e prata; mas por ordem do Faraó, distribuiu o tributo por
todo o país. Assim, cada pessoa da terra trazia ouro e prata, conforme
suas posses, segundo determinação do Faraó, o Coxo.
Capítulo 42
A Queda de Jerusalém
1 Joiakim tinha vinte e cinco anos quando foi colocado no poder, e
reinou por onze anos em Jerusalém; sua mãe era Zebida, filha de Fadaías
de Ruma. Praticou o mal diante do Senhor, como o fizeram seus pais.
2 No seu tempo, Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu Jerusalém.
Joiakim permaneceu três anos submetido a ele. Depois se rebelou e
levantou-se contra ele. Então Deus, por causa dos seus delitos, permitiu
que marchassem contra ele legiões de soldados.
3 Depois Joiakim morreu e foi para junto dos seus pais; depois dele
reinou o seu filho Jojakin. O rei do Egito, porém, nunca mais saiu dos
limites do seu país, pois o rei da Babilônia tirou-lhe tudo o que
possuía, desde o rio do Egito até o rio Eufrates.
4 Jojakin tinha dezoito anos quando chegou ao poder, e reinou três
meses em Jerusalém: sua mãe foi Nechusta, filha de Elnatan de Jerusalém.
Praticou o mal diante do Senhor, como o fizera seu pai. Nesse tempo,
Nabucodonosor, rei da Babilônia, marchou contra Jerusalém.
5 E esse rei arrastou o seu povo ao cativeiro, no ano oitavo do seu
reinado. Saqueou também todo o tesouro do Templo do Senhor bem como os
tesouros do palácio real. Levou para a Babilônia toda Jerusalém,
Jojakin, sua mãe, suas mulheres, seus principais e todos os guerreiros
válidos; a todos levou à Babilônia, como prisioneiros.
6 Então o rei da Babilônia estabeleceu em seu lugar o tio dele,
Matanias, como rei; e deu-lhe o nome de Sedecias. Sedecias tinha vinte
anos quando foi colocado no poder, e reinou onze anos em Jerusalém; sua
mãe foi Amital, filha de Jeremias, de Libna.
7 Praticou o mal diante do Senhor, como havia feito Jojakin. Assim,
fez recair a ira do Senhor sobre Jerusalém. E Sedecias rebelou-se contra
o rei da Babilônia. Então, no nono ano do seu reinado, Nabucodonosor,
rei da Babilônia, irrompeu contra Jerusalém.
8 A cidade foi então fechada e sitiada, até o undécimo ano do
reinado de Sedecias. Quando depois foi invadida, todos os seus
defensores fugiram, de noite, na direção dos campos rasos. Mas a legião
dos caldeus perseguiu o rei e rendeu-o na planície de Jericó.
9 Então ele foi apartado de toda a sua corte e. como prisioneiro, foi
arrastado à presença do rei da Babilônia, em Riblat; e ali foi
sentenciado. Os filhos do rei Sedecias, por ordem do rei caldeu, foram
trucidados sob os seus olhos. Depois o rei vazou os olhos do próprio
Sedecias, acorrentou-o e levou-o para a Babilônia.
Capítulo 43
Ciro
1 Então Simeão, o sumo sacerdote, fez um pedido ao chefe militar,
pois este lhe assegurava a liberdade de palavra. Devolveu-lhe então
todos os livros das escrituras sagradas, e não os queimou. A seguir
Simeão, o sumo sacerdote, amarrou-os todos juntos e atirou-os numa
cisterna.
2 Jerusalém foi depois destruída e completamente devastada, e ninguém
mais sobrou dentro dela a não ser o Profeta Jeremias, que ali morava, e
que durante vinte anos proferiu lamentações sobre ela. Passado esse
tempo, o Profeta Jeremias morreu, na Samaria; foi enterrado pelo
sacerdote ar em Jerusalém, cumprindo juramento que o Profeta lhe
solicitara.
3 Até a última destruição de Jerusalém, os escribas hebreus, gregos e
sírios detiveram a verdade e reuniram condições de apresentar o
registro das gerações dos troncos e dos povos. Mas, a partir dessa
destruição, não houve mais nenhuma verdade nos seus escritos;
assinalaram apenas os Patriarcas das tribos e não mostraram de onde
procedia a linhagem dos sacerdotes.
4 Jojakin ficou prisioneiro durante trinta e sete anos; após a sua
libertação, casou-se com Gulith, filha de Eliachim, e dela gerou
Salatiel, na Babilônia. Jojakin morreu; e Salatiel casou-se depois com
Hetbath, filha de Helkana, e dela gerou Zorobabel.
5 Zorobabel casou com Malkat, filha do escriba Esdras; mas não chegou
a gerar dela nenhum filho, na Babilônia, pois nos dias de Zorobabel,
príncipe de Judá, reinava na Babilônia Ciro, o persa. Ciro casou-se com a
filha de Salatiel, e irmã de Zorobabel, segundo a lei persa, e fé-la
rainha.
6 Então ela pediu a Ciro que permitisse o retomo dos israelitas.
Zorobabel era seu irmão; por isso ela estava tão zelosa. e preocupada
com a volta do cativeiro. Ciro amava sua mulher como a si mesmo, e
cumpriu sua vontade.
7 Despachou arautos por toda a terra da Babilônia, anunciando que
todos os israelitas se ajuntassem. Quando estavam reunidos, falou Ciro a
Zorobabel, irmão de sua mulher: "Prepara-te para conduzir de volta os
filhos do teu povo! Torna em paz a Jerusalém! Reconstrói a cidade dos
teus Pais; habita nela e sejas o seu rei!"
8 Por ter Ciro possibilitado o retorno dos israelitas, Deus disse:
"Eu inscrevi o meu servo Ciro entre os justos". E Ciro foi denominado
"Meu pastor, o ungido do Senhor", porque sua semente, através de
Mesainat, irmã de Zorobabel, foi incorporada à semente de Davi.
9 Os israelitas partiram então da Babilônia, sendo Zorobabel o seu
rei, e sendo sumo sacerdote Josué, filhos de Josadak, um descendente de
Aarão, segundo o Anjo indicou ao Profeta, dizendo-lhe: "Estes são filhos
da unção". Quando saíram do cativeiro, no segundo ano de Ciro, chegava
ao fim o quinto milênio.
Capítulo 44
Esdras e Zorobabel
1 Ao partirem, eles não possuíam mais nenhum escrito dos profetas.
Então o escriba Esdras dirigiu-se àquela cisterna e lá encontrou um
fumigador ardendo, e dele emanava uma fumaça perfumada.
2 Tomou então por três vezes daquela cinza dos livros sagrados, e
levou-a à boca. De imediato foi-lhe concedido por Deus o espírito da
profecia, e assim ele pôde restabelecer todos os escritos dos profetas. A
luz que se encontrava naquela cisterna era a luz da santidade do Templo
do Senhor.
3 Zorobabel era o rei em Jerusalém, Josué, filho de Josadak, o sumo
sacerdote, e Esdras, o escriba do Pentateuco e dos Profetas. Quando os
israelitas saíram da Babilônia, celebraram uma Páscoa. Os israelitas
celebraram durante sua vida as três seguintes Páscoas: uma no Egito, nos
tempos de Moisés; outra, sob o reinado de Josias; e a terceira, quando
foram libertados da Babilônia.
4 Depois a Páscoa foi-lhes abolida por toda a eternidade. Desde o
primeiro cativeiro de Jerusalém, em que Daniel foi lançado à prisão, até
o reinado do persa Ciro, decorreram setenta anos, segundo a profecia de
Jeremias.
5 Os israelitas iniciaram a reconstrução do Templo nos dias de
Zorobabel, de Josué, filho de Josadak, e do escriba Esdras. A
reconstrução durou quarenta e seis anos, como está escrito no santo
Evangelho. Mas a linhagem das sucessivas gerações uma vez mais foi
perdida de vista pelos escribas; não conseguiram mostrar-nos de quem os
cabeças das estirpes tomaram as suas mulheres, nem de onde estas
procederam.
6 Eu, porém, conservei a série verdadeira, e a todos posso mostrar a
realidade dos fatos: No tempo em que os israelitas retomaram da
Babilônia, Zorobabel gerou Abiud, de Malkat, filha do escriba Esdras.
Abiud casou com Sakiat, filha do sacerdote Josué, que foi filho de
Josadak, e dela gerou Eliachim.
7 Eliachim casou com Halab, filha de Domib, e dela gerou Azor; Azor
casou com Jalpat, filha de Hasor, e dela gerou Zadok; Zadok casou com
Celtin, filha de Domim, e dela gerou Achin; Achin casou com Heskat,
filha de Tail, e dela gerou Eliud; Eliud casou com Bestin, filha de
Hasol, e dela gerou Eleazar.
8 Eleazar casou com Dihat, filha de Tola, e dela gerou Matthan;
Matthan casou com Sabrat, filha de Pinechas, e dela gerou dois filhos
gêmeos, Jacó e Joaquim; Jacó casou com Hadbit, filha de Eleazar, e dela
gerou José; Joaquim casou com Dina, filha de Pachod, e dela gerou Maria,
da qual nasceu o Messias.
Capítulo 45
Registro das Gerações após o Exílio
1 Já que nenhum dos escribas antigos encontrou os ramos das gerações
dos descendentes de seus Pais, os judeus instaram junto aos filhos da
Igreja para que comprovassem que os pais da bem-aventura — da Maria
fazem parte daquelas gerações.
2 Insistiram para que os filhos da Igreja pesquisassem a linhagem dos
Pais, para comprovar a verdade dos fatos; pois eles diziam que Maria
era filha adulterina. Agora. porém, calar-se-á a boca dos judeus, e eles
deverão admitir que Maria procede da casa de Davi e de Abraão.
3 Os judeus não possuem o registro das gerações, que lhes
proporcionaria a verdade sobre a linhagem masculina dos seus pais,
porque por três vezes os seus escritos foram queimados pelo fogo: a
primeira vez ocorreu nos dias de Antíoco, que promoveu uma perseguição
contra eles, profanou o Templo do Senhor e obrigou-os a fazer
sacrifícios aos ídolos; a segunda vez, nos dias a terceira vez, nos dias
de Herodes, quando Jerusalém foi arrasada.
4 Os judeus estavam em grande aflição, pois não possuíam nenhum ramo
verdadeiro da geração dos descendentes dos seus pais. Procuravam com
grande empenho descobrir a verdade dos fatos, mas não conseguiram.
5 Muitos eram os seus escribas, mas cada um escrevia à sua maneira.
Não chegavam a um acordo, por não terem como apoiar-se nas bases da
verdade. Mas os nossos escribas, os filhos da Igreja, também não tinham
condições de mostrar-nos a verdade segura e indiscutível, nem mesmo em
relação à maneira como o corpo de Adão fora transportado até o Gólgota,
nem quanto à identidade dos pais de Melchizedek, e nem quanto à
procedência dos pais da bem-aventurada Maria.
6 Quando os israelitas, pressionados pela Igreja, não conseguiram
encontrar a verdade, apressaram-se a escrever erros e fantasias, e isso
[...] para nós [...] essa série de sessenta e três gerações; ela começa
com Abraão e chega até o Messias. Mas onde cada um deles foi buscar sua
mulher e de quem ela era filha, isso nem os escribas gregos, nem
hebreus, nem sírios conseguiram mostrar.
7 Mas assim como cada um dos mestres divinos da Igreja pôde
estabelecer uma verdade que servisse de fundamento — e ofereceram aos
fiéis uma arma com a qual pudessem lutar e combater os seus inimigos —
assim também o Messias concedeu-nos a graça de poder esclarecer, no seu
rico tesouro, aquilo que para eles era impossível.
8 Empenhamo-nos com todo zelo em fazer aquilo que para eles era
impossível, acompanhando o diligente esforço do nosso irmão Nemésio,
ilustre no Messias.
9 Embora tivesse eu sido prejudicado por minha própria inconstância,
tu não te afastastes um momento sequer do amor pelo ensino, mas com
certeza pela benévola simpatia que manifestas para comigo, esforcei-me
sinceramente no cumprimento da incumbência que me deste, e assim posso
dar-te notícia por escrito do resultado.
10 Escuta, meu irmão Nemésio! Esses ramos de gerações que te
transcrevo não foram ainda descobertos por nenhum dos outros mestres. As
mencionadas sessenta e três gerações, das quais deriva a humanidade do
Messias, conheceram a seguinte sucessão:
11 Adão gerou Seth. Seth casou-se com Celimat, que nasceu junto com
Abel, e dela gerou Enos. Enos casou-se com Anna, filha de Jobal e neta
de Choch, filha de Seth, e dela gerou Cainan. Cainan casou com Perjat,
filha de Kotim e neta de Jarbal, e dela gerou Mahalaleel. Este casou-se
com Sechatpar, filha de Enos, e dela gerou Jared. Jared casou-se com
Sebida, filha de Kuchlone neta de Cainan, e dela gerou Enoque.
12 Enoque casou-se com Sadkin, filha de Topich e neta de Mahalaleel, e
dela gerou Matusalém. Este casou-se com Sakut, filha de Sokin e neta de
Enoque, e dela gerou Lamech. Lamech casou-se com Cipa, filha de Tautab e
neta de Matusalém, e dela gerou Noé. Este casou-se com Haikal, filha de
Namos, e dela gerou Sem, Cam e Japhet. Sem gerou Arpachsad, este Salé,
este Heber, este Peleg, este Regu, este Serog, que gerou Tharé.
13 Tharé casou-se com duas mulheres, Jona e Salmut; de Jona gerou
Abraão e de Salmut, Sara. Abraão casou-se com Sara e gerou Isaac. lsaac
casou-se com Rebecca e gerou Jacó, que se casou com Lia e gerou Judá.
Judá gerou Farés, de Thamar. Farés gerou Hesron.
14 Hesron gerou Aram, este Aminadab, este Nahasson, este Salmon, e
Salmon gerou Boaz, de Rahab. Boaz casou-se com Ruth, a filha de Lot, e
gerou Obed. Obed gerou Isai, e este gerou o rei Davi, que se casou com
Betsabá e dela gerou Salomão. Salomão gerou Roboão, este Abias, este
Asa, este Josaphat, este Jorão, este Ocozias, este Joás, este Amasias,
este azias, este Jotham, este Acaz, este Ezequias, este Manassés, este
Amon, este Josias, este Joiakim, este Jeconias, este Salatiel, este
Redabja, este Zorobabel, este Abiud, este Eliachim, este Azor, este
Zadok, este Achim, este Eliud, este Eleazar, este Matthan, e este a
Sibrat, filho de Pinechas; ele gerou Jacó e Joaquim.
15 Jacó casou-se com Hadbit, filha de Eleazar, e gerou José, noivo de
Maria. Joaquim casou-se com Dina, que vem a ser Anna, filha de Pachod;
sessenta anos depois de casados, ela deu à luz Maria, da qual nasceu o
Messias. Sendo José filho do tio de Maria, a ele foi ela entregue por
ordem divina para que ficasse sob os seus cuidados, pois Deus sabia que
Maria seria perseguida pelos judeus.
16 Vês agora, irmão Nemésio, como os pais da bem-aventurada Maria
procederam da linhagem genealógica dos descendentes de Davi? Vê!
Situei-te agora sobre os fundamentos da verdade, a que nenhum dos outros
escribas conseguiu chegar. Podes constatar como essas sessenta e três
gerações se sucedem, desde Adão até o nascimento do Messias! Também para
os judeus é uma satisfação poder averiguar a descendência das estirpes
dos seus Pais.
17 Vês, irmão Nemésio, que foi nos dias de Ciro que chegou ao fim o
quinto milênio? De Ciro até a Paixão de nosso Salvador transcorreram
quinhentos anos, segundo a previsão de Daniel, que profetizou — e disse:
"Após sessenta e duas semanas, o Messias será morto". Essas semanas
correspondem aos quinhentos anos.
18 Vês por que deve calar-se a boca dos judeus, pois ousaram dizer
que o Messias até hoje ainda não veio, então devem eles necessariamente
escolher de duas uma: ou aceitam a profecia de Daniel, ou rejeitam-na. A
sua profecia, na realidade, cumpriu-se, e as semanas transcorreram; o
Messias foi morto e a Cidade Santa foi destruída por obra de Vespasiano.
Capítulo 46
O Messias
1 Vês agora, nosso irmão Nemésio, amante do saber, que no
quadragésimo segundo ano do Império de Augusto nasceu o Messias, em
Belém de Judá, como está escrito no santo Evangelho. Dois anos antes do
nascimento do Messias apareceu a estrela aos Magos; viram no firmamento
uma estrela que brilhava mais do que todas as outras.
2 No meio dela havia uma jovem, que trazia no colo um menino, e este
tinha uma coroa na sua cabeça. Era costume dos reis antigos e dos magos
caldeus escrutar nas constelações tudo quanto iria ocorrer.
3 Quando eles viram a estrela, turbaram-se grandemente e se encheram
de temor, e a Pérsia toda entrou em alvoroço. Os reis, os magos, os
sábios caldeus e persas ficaram abalados, encheram-se de temor em face
do sinal que presenciavam, e disseram: "Teria o rei de Nínive declarado
guerra ao país de Nimrod?"
4 Os magos e os caldeus apressaram-se em ler os seus livros de
sabedoria; pela força da sabedoria dos seus escritos conseguiram o seu
objetivo e chegaram a uma conclusão que se apoiava no chão firme da
verdade. Efetivamente, pois, os magos caldeus, através do curso daquela
estrela, que reputavam um sinal zodiacal, leram a verdade dos fatos,
antes mesmo de conhecê-los pessoalmente.
5 Também os natuas detêm esse conhecimento, de tal sorte que, antes
da vinda de um tufão ou da armação de uma tempestade, reconhecem pelo
curso das estrelas o perigo que os ameaça. Quando então os Magos leram
os oráculos de Nimrod, encontraram neles que em Judá haveria de nascer
um rei. E assim, foi-lhes revelado todo o curso do plano de Salvação do
Messias.
6 Imediatamente eles partiram do Oriente, segundo as tradições que
herdaram dos seus pais; subiram na direção das montanhas de Nod, que se
encontram no Norte e que abrem o caminho para o Ocidente, e lá tomaram
ouro, mirra e incenso.
7 Daí podes reconhecer, irmão Nemésio, que eles conheceram antes todo
o mistério do plano de Salvação do nosso Redentor, o que se revela
pelos presentes que traziam: o ouro para um rei, a mirra para um médico e
o incenso para um sacerdote.
8 Eles tiveram ciência da sua natureza, e reconheceram que era ao
mesmo tempo rei, médico e sacerdote, pois quando o filho do rei de Sabá
era ainda menino, seu pai levou-o a um rabino, e ele então entendeu o
livro dos hebreus melhor do que todos os seus comandados e concidadãos.
9 Ele disse aos seus servidores que também em todos os livros
jubilares estava escrito que o Rei haveria de nascer em Belém. Foram os
seguintes os que ofereceram presentes ao Rei; eram reis e filhos de
reis: Hormizd de Makozdi, rei da Pérsia, chamado o "rei dos reis", e que
residia lá abaixo, em Adhorgin; Jazdegerd, rei de Sabá; e Peroz, rei de
Seba, que se localiza no Oriente.
10 Quando eles se dispuseram a partir, o reino dos gigantes, um
exército forte, ficou agitado e intranqüilo; igualmente, todas as
cidades do Oriente ficaram em alvoroço por causa da atitude deles.
Também Jerusalém e Herodes espantaram-se com a chegada deles. Herodes,
por seu lado, recomendou-lhes: "Ide em paz e procurai diligentemente o
menino, e quando o tiverdes encontrado, vinde a mim e dizei-me, para que
eu também possa ir até lá e adorá-lo!" Ele, porém, apenas guardava
astúcia no seu coração, e suas palavras apenas fingiam uma intenção de
venerá-la.
Capítulo 47
Os Três Magos
1 Quando os Magos se puseram a caminho, havia em Judá uma grande
movimentação por causa do édito de César Augusto, ordenando que cada
homem se recenseasse em sua terra e em sua cidade de origem. Por isso é
que Herodes ficou tão preocupado. e disse aos magos: "Ide e informai-vos
bem!"
2 Eles se chamavam Magos por causa dos trajes que todos os reis
pagãos portavam; quando faziam sacrifícios e traziam oferendas aos seus
deuses, vestiam uma vestimenta dupla, por baixo a da realeza e por cima a
da magia. Assim também eles, quando chegaram até o Messias, portavam os
dois trajes, para poderem oferecer os seus presentes.
3 Quando se afastaram de Jerusalém e de Herodes, apareceu-lhes a
estrela, que era o guia a indicar-lhes o caminho, e alegraram-se
profundamente. A estrela ia adiante deles. até que chegaram a uma gruta:
então eles viram o Menino envolto em panos e depositado numa
manjedoura.
4 Enquanto subiam, imaginavam consigo pelo caminho que presenciariam
um espetáculo grandioso ao lá chegarem, a pompa real e as instalações de
um palácio de governo. Pois nascido o Rei, assim pensavam, encontrariam
no país de Israel uma corte real, aposentos lavrados em ouro, o Rei e o
filho do Rei vestidos de púrpura, divisões do exército e corpos de
guarda obedientemente às ordens do Rei, e no palácio a presença dos
grandes da terra que o honravam com seus presentes, a mesa real
preparada com finos manjares, com ser-vos e servas reverentemente a
postos.
5 E isso que os Magos pensavam encontrar. Mas nada disso encontraram,
ao contrário, viram algo de muito mais grandioso. tão logo entraram na
gruta. Viram José ali sentado cheio de admiração e Maria de olhos
contemplativos. Mas não havia instalações luxuosas preparadas para eles,
nenhuma mesa posta e sinal algum de pompa real à mostra.
6 Apesar de toda essa humildade e pobreza, não tiveram nenhuma dúvida
em seus corações; aproximaram-se com reverência, adoraram-no e mandaram
trazer os seus presentes: ouro, incenso e mirra. Maria e José ficaram
muito constrangidos por nada terem a oferecer-lhes; mas os magos
alimentaram-se das suas provisões de viagem.
7 O Messias havia completado oito dias quando os Magos Lhe trouxeram
os presentes. Ao mesmo tempo em que José circuncidava o Menino, Maria
recebia os presentes. José circuncidara-o de fato segundo a Lei.
8 E chamou isso de circuncisão, embora nada fosse subtraído ao
Menino, pois assim como um ferro que penetra uma chama de fogo, separa-a
mas não a corta, assim também foi a circuncisão do Messias, sem que
nada Lhe fosse tirado.
9 Nos três dias em que os Magos permaneceram junto d'Ele, viram as
Potestades celestes subindo e descendo junto ao Messias, e ouviam o coro
dos Anjos, que louvavam dizendo: "Santo, santo, santo é o Senhor, Deus
Todo-Poderoso; o céu e a terra estão cheios de sua Glória". Foram
possuídos então de grande temor, acreditaram verdadeiramente no Messias e
disseram: "Este é o Rei que desceu do céu e se fez Homem".
10 E Peroz disse-lhes: "Agora eu sei que a profecia de Isaias é
verdadeira; pois, quando eu estava na escola dos hebreus, li Isaías e lá
encontrei o seguinte: `Um menino nos nasceu; um filho nos foi dado; o
seu nome é Admirável, Conselho, Deus, Eterno, Herói'.
11 "Em outro lugar está escrito: Vede, uma virgem ficará grávida e
dará à luz um filho, e o seu nome é Emmanuel, isto é, Deus conosco. Mas
sendo Ele como um homem, e os Anjos do céu descendo até junto d'Ele,
isso mostra que na realidade Ele é o Senhor dos Anjos e dos homens."
12 E todos os Magos creram e disseram: "Este é verdadeiramente Deus;
pois, sobre a terra já nos nasceram tantas vezes reis, heróis e filhos
de heróis; mas nunca ouviu-se dizer que os Anjos desceram até eles." Em
seguida levantaram-se e adoraram-na como Senhor e Rei de todo o mundo.
Prepararam depois as suas provisões e voltaram para sua terra, pelo
caminho do deserto.
Capítulo 48
Herodes
1 Há pessoas que discutem sobre onde estava o Messias quando foram
assassinados os meninos. Mas está escrito que Ele não se encontraria na
terra de Judá. Por isso Ele foi para o Egito, para que se cumprisse a
Escritura: "Do Egito eu chamei o meu Filho".
2 Saibais! Quando o Messias chegou ao Egito, os ídolos daquela terra
foram derrubados, caíram ao chão e quebraram-se, para que se cumprisse a
Escritura: "Vede, o Senhor caminhou sobre nuvens ligeiras e chegou ao
Egito e os deuses egípcios tremeram diante dele". Ele não voltou do
Egito, mas lá permaneceu até a morte de Herodes; depois deste, subiu ao
trono o seu filho Arquelau.
3 Lembra-te, irmão Nemésio, de que eu disse que todos os homens,
súditos de Herodes, estavam num recenseamento! Este foi completado no
prazo de cinqüenta dias. Antes que o recenseamento fosse terminado e
concluído, e antes que Herodes o tivesse lacrado e enviado a Roma, a
César Augusto, Herodes não procedeu à busca do Messias, e até aquele
momento não haviam sido assassinadas as crianças; foi no decurso daquela
movimentação do censo que o Messias nasceu.
4 Passados quarenta dias depois do seu nascimento, Ele chegou ao
Templo do Senhor, onde o ancião Simeão, filho de Josué e neto de
Josadak, O tomou nos braços. Nos dias de Simeão ocorreu a volta dos
prisioneiros da Babilônia; ele tinha quinhentos anos quando segurou nos
seus braços o Messias.
5 Então falou o Anjo a José: "Levanta-te, toma o Menino e sua mãe, e
foge para o Egito!" Quando terminou o recenseamento, os judeus foram
liberados, de sorte que cada um pôde voltar para a sua região e lugar de
domicílio. Então Herodes indagou sobre os Magos e foi-lhe dito: "Eles
voltaram para suas terras".
7 Diante disso, ficou profundamente irritado e mandou de imediato
seus emissários com a ordem de matar todos os meninos de Belém e das
vilas circunvizinhas. Ao inspecionar as crianças, e não encontrando
entre elas João, filho de Zacarias, disse: "Realmente, o filho dele
reinará em Israel." Pois ele tinha ouvido algo do que fora dito pelo
Anjo a Zacarias, quando lhe prometera João.
8 Assim, ele mandou um emissário a Zacarias, com a ordem de
dizer-lhe: "Traze-me João!" Zacarias respondeu: "Eu sou sacerdote e
sirvo no Templo do Senhor; não sei onde estão o menino e sua mãe". Por
esse motivo, Zacarias foi morto entre os degraus e o Altar.
9 Izabel tomou consigo João e foi para o deserto. Herodes foi
imediatamente atingido pelo castigo de Deus, sem compaixão; caiu doente.
Seu hálito era pestilento e seu corpo estava sendo devorado pelos
vermes; assim, ele foi castigado com um tormento indizível, a ponto de
as pessoas não conseguirem mais aproximar-se dele por causa do seu
cheiro horrível.
10 Nesse cruel sofrimento, sua alma foi descansar nas trevas
exteriores. Mas ainda antes de morrer conseguiu praticar grande maldade,
pois ordenara ao seu filho Arquelau e à sua irmã Salomé: "Tão logo eu
estiver morto, sejam eliminados todos aqueles que eu mandei colocar na
prisão!"
11 Na realidade, ele havia separado uma pessoa de cada casa e posto
na cadeia, dizendo: "Eu sei muito bem que os judeus alegrar-se-ão
imensamente com a minha morte. Mas para que eles não exultem enquanto
estareis tristes e em pranto, todos os encarcerados deverão ser mortos,
para que após a minha morte todos guardem luto, embora não o queiram !"
12 As suas ordens foram cumpridas. Isso feito, não houve uma única
casa em toda Judá onde não reinasse o luto, como aconteceu no Egito no
tempo de Moisés.
Capítulo 49
Batismo, Vida Pública e Morte do Messias
1 Quando Herodes morreu e José recebeu a notícia da sua morte, voltou
para a Galiléia. Chegando aos seus trinta anos, o Messias foi batizado
por João, que esteve toda a sua vida no deserto, alimentando-se de uma
raiz, chamada Camus, e que era mel silvestre.
2 No duodécimo ano do Império de Tibério, o Messias padeceu. Como
podes reconhecer agora, irmão Nemésio, nos dias de Jared, no seu
quadragésimo ano, chegou ao fim o primeiro milênio; no sexcentésimo ano
de Noé, o fim do segundo milênio; no septuagésimo quarto ano de Regu, o
fim cio terceiro milênio; no vigésimo sexto ano de Eliud, o fim do
quarto milênio; no segundo ano de Ciro, o fim do quinto milênio; e no
ano quinhentos do sexto milênio padeceu o Messias na sua Humanidade!
3 Saibas também que o Messias em Nazaré viveu no seio de Maria, que
nasceu em Belém e foi depositado numa manjedoura, que Simeão segurou-o
nos seus braços no Templo de Salomão, que foi criado na Galiléia, e que
foi ungido por Maria Magdalena! Celebrou a Páscoa na casa de Nicodemos,
irmão de José de Arimatéia; foi preso na casa de Anás; na casa de Caifás
foi açoitado com uma cana.
4 Abraçado às colunas do Pretório de Pilatos foi flagelado com um
açoite. Na primeira sexta-feira, no décimo quarto dia de Nisan, nosso
Salvador padeceu. Na primeira hora de sexta-feira, Deus formou Adão do
barro, e na primeira hora de sexta-feira o Messias recebeu a cusparada
dos filhos de Adão.
5 Na segunda hora de sexta-feira, reuniram-se os animais selvagens,
os animais domésticos e os pássaros ao redor de Adão, e ele deu-lhes o
nome, enquanto eles curvavam a cabeça; e na segunda hora de sexta-feira,
congregaram-se os judeus contra o Messias, rangendo os dentes contra
Ele,segundo a palavra do piedoso Davi: "Touros grandes me rodearam, bois
gordos me cercaram".
6 Na terceira hora de sexta-feira, foi colocada a coroa da Glória na
cabeça de Adão: e na terceira hora de sexta-feira foi colocada a coroa
de espinhos sobre a cabeça do Messias. Três horas esteve Adão no
Paraíso, em esplendor e glória; três horas esteve o Messias no Foro,
quando foi chicoteado com um açoite.
7 Na sexta hora Eva subiu à árvore da transgressão do Mandamento; na
sexta hora o Salvador subiu à Cruz, a Árvore da Vida. Na sexta hora Eva
deu a Adão o fruto da morte amarga; na sexta hora a turba ímpia deu ao
Messias vinagre e fel.
8 Por três horas Adão esteve sob a árvore da sua vergonha, nu por
três horas o Messias esteve na haste da Cruz, nu. Do flanco direito de
Adão procedeu Eva, a mãe cujo filho era mortal; do flanco direito do
Messias procedeu o Batismo, cujos filhos são imortais.
9 Numa sexta-feira Adão e Eva pecaram; numa sexta-feira o seu pecado
foi redimido. Numa sexta-feira Adão e Eva morreram; numa sexta-feira
eles reviveram. Numa sexta-feira a morte assumiu o poder sobre eles;
numa sexta-feira foram libertados do seu poderio.
10 Numa sexta-feira Adão e Eva saíram do Paraíso; numa sexta-feira
nosso Senhor desceu à sepultura. Numa sexta-feira foram desnudadas as
vergonhas de Adão e Eva: numa sexta-feira o Messias fez com que
voltassem a se vestir.
11 Numa sexta-feira Satanás revelou as vergonhas dos dois; numa
sexta-feira o Messias desnudou Satanás e todas as forças, cobrindo-os
publicamente de vergonha. Numa sexta-feira as portas do Paraíso foram
fechadas; numa sexta-feira elas foram abertas, e por elas entrou o bom
ladrão.
12 Numa sexta-feira foi entregue ao Querubim a espada de dois gumes;
numa sexta-feira o Messias triunfou pela lança e quebrou o fio da
espada. Numa sexta-feira foram dados a Adão o sacerdócio, a realeza e a
profecia; numa sexta-feira o sacerdócio, a realeza e a profecia foram
subtraídos aos judeus.
13 Na hora nona de sexta-feira Adão desceu das alturas do Paraíso
para as terras planas; na hora nona de sexta-feira o Messias desceu do
alto da Cruz para as regiões inferiores da terra, junto àqueles que
jaziam no pó.
Capítulo 50
O Gólgota
1 Como vês, o Messias foi em tudo semelhante a Adão, como está
escrito. No lugar em que Melchizedek servia como sacerdote, em que
Abraão levou seu filho Isaac para imolá-lo, lá foi plantada a haste da
Cruz. Esse lugar é o ponto central da terra, e lá é o ponto de encontro
de suas quatro partes.
2 Pois, quando Deus criou a terra, irradiou de Si a sua força, e a
terra preencheu-se dessa força. Lá no alto do Gólgota permaneceu a força
de Deus, e ficou em repouso, e lá juntaram-se os quatro cantos do
mundo; esse lugar representa as extremidades da terra.
3 Quando Sem transportou o corpo de Adão para lá, aquele lugar era o
portão da terra; ele abriu-se. Depois que Sem e Melchizedek haviam
depositado o corpo de Adão no ponto central da terra, as suas quatro
partes abriram-se e o cobriram.
4 E fechou-se novamente o portão, de sorte que nenhum dos filhos de
Adão pudesse abri-lo. Quando sobre ele foi erguida a Cruz do Messias, a
Cruz do Redentor de Adão e de sua descendência, abriram-se as portas
daquele lugar por sobre Adão.
5 E estando plantada sobre ele a haste da Cruz, e o Messias através
da lança alcançou a vitória, fluiu do seu lado sangue e água,
derramando-se abaixo na boca de Adão, e assim representando para ele o
Batismo; por essa forma, ele foi batizado.
6 Depois que os judeus pregaram o Messias no lenho da Cruz,
repartiram entre si, aos pés dela, as suas vestes, segundo está escrito.
Sua túnica era de púrpura, vestimenta de um rei. Quando o cobriram com o
manto da realeza, Pilatos não permitiu que fosse uma veste simples, mas
sim uma vestimenta real, de púrpura ou escarlate.
7 Tanto por uma quanto por outra, foi manifestada a sua realeza, pois
nenhum outro homem, a não ser um rei, pode vestir-se de púrpura. Diz um
dos evangelistas: "Vestiram-na com um manto de púrpura"; essa palavra é
verdadeira e inteiramente digna de crédito.
8 Outro diz que era' de escarlate; também este disse a verdade. "A de
escarlate" representa para nós o sangue, e "a de púrpura", a água; a
vermelha era como o sangue, a purpúrea, pálida como a água. "A de
escarlate" anuncia-nos a natureza feliz e imortal; "a de púrpura", a
humanidade triste e mortal.
9 Observa bem, irmão Nemésio, que o escarlate simboliza a vida!
Diziam os clientes da prostituta Rahab: "Deixa dependurada a corda
escarlate janela abaixo"; precisamente a corda pela qual haviam de
descer, após terem sido alegremente recebidos por ela. Isso representa
uma imagem de nosso Senhor, o Messias, e a corda escarlate é a imagem do
seu sangue precioso e vital.
Capítulo 51
A Redenção
1 Teceram uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a sua cabeça e
vestiram-na com um manto real; mas não tinham consciência do que estavam
fazendo. Dobravam os joelhos, adoravam-na, e sem serem coagidos por
ninguém diziam com a sua boca: "Salve, Rei dos judeus!"
2 E nota bem, meu irmão! Nem depois da sua morte Ele foi privado das
prerrogativas reais. Os judeus e os soldados. os guardas de Herodes e de
Pilatos discutiam sobre como cortar a túnica do Messias e reparti-la
entre si, porque a beleza dela a todos agradava.
3 Igualmente o centurião, que montava a guarda junto à Cruz,
testemunhou e disse diante de todos os presentes: "Verdadeiramente, este
Homem é o Filho de Deus". Disse-lhes também: "As leis não permitem
cortar a túnica real. Lançai as sortes sobre ela, para ver a quem toca!"
4 Quando os judeus e os servos do rei lançaram os dados, a sorte
recaiu para um sol-dado, guerreiro de Pilatos. A túnica de Nosso Senhor
não tinha costuras, tecida integralmente de alto a baixo.
5 Quando, no lugar em que estava depositada e guardada, havia falta
de chuva, traziam-na ao céu limpo, e na mesma hora em que era erguida ao
céu, chovia copiosamente. Igualmente o próprio soldado, a quem ela
coube pela sorte, sempre que a cidade necessitava de chuva, trazia-a
para fora e ela operava o milagre.
6 Por isso, ela lhe foi tirada à força por Pilatos, e este a mandou
ao imperador Tibério. Essa túnica simboliza para nós a fé verdadeira,
que povo algum pode cindir. Três dádivas muito preciosas foram
antigamente concedidas aos judeus: a realeza, o sacerdócio e a profecia.
7 A profecia através de Moisés, o sacerdócio através de Aarão, e a
realeza através de Davi. Esses três dons, de que as gerações e estirpes
dos israelitas se beneficiaram durante um longo período, foram-lhes
subtraídos num só dia.
8 As três coisas se acabaram e tornaram-se alheias a eles: a profecia
pela Cruz, o sacerdócio pela intenção de rasgar a túnica e a realeza
pela coroa de espinhos. Também o Espírito da Reconciliação, que habitava
no Santo dos Santos do Templo, abandonou-os, afastou-se e rasgou o véu
do Santo em duas partes. Igualmente a Páscoa desvaneceu-se e os
abandonou; não tinham mais Páscoa a festejar.
9 Saibas, irmão! Quando Pilatos quis impeli-los a entrar no palácio
oficial, eles retrucaram-lhe: "Nós não podemos pisar no Pretório, porque
ainda não celebramos a Páscoa". Ao obterem a permissão de Pilatos
quanto à execução de nosso Senhor, eles correram rapidamente ao
Santuário e de lá retiraram as Tábuas e a Arca da Aliança, e com elas
construíram a Cruz para o Messias.
10 Em verdade, convinha que as mesmas tábuas que carregaram o
Testamento carregassem também o Senhor do Testamento. A Cruz do Messias
compunha-se de duas hastes, ambas da mesma altura, profundidade,
comprimento e largura.
11 O apóstolo Paulo esforçou-se com razão para mostra aos povos a
força da Cruz, e soubessem todos que sua altura, sua profundidade, sua
largura e seu comprimento abrangiam toda a terra. Quando eles ergueram o
Messias, Luz brilhante de toda a terra, e O colocaram na luminária da
Cruz, apagou-se e escurece a luz do sol, e um manto de trevas
estendeu-se sobre toda a terra.
12 Três cravos foram pregados no corpo do nosso Salvador, dois em
suas mãos e um em ambos os pés. Os cravos dos ladrões eram dois, um na
mão direita e outro na mão esquerda.
Capítulo 52
A Culpa dos Judeus
1 Ofereceram-lhe vinagre e fel numa esponja. Pelo vinagre que Lhe
deram, ficava indicado que a antiga vontade deles modificara-se,
passando do caminho reto para o caminho da maldade; e através do fel
indicava-se o amargor da ser-pente obstinada, que neles habitava.
2 Comprovaram que também eles Lhe pertenceram, a Ele, que é a vinha
boa da qual os Profetas, os Reis e os Sacerdotes beberam o vinho que
alegra os corações. Mas, por serem maus herdeiros, não quiseram
trabalhar na "vinha do meu amor".
3 Em vez de uvas, produziram abrolhos; e o vinho que espremeram dos
abrolhos era azedo. Quando pregaram o Herdeiro na Cruz, misturaram para
Ele essa borra com o seu vinho ruim, e deram-lhe de beber do vinho da
videira dos povos; mas Ele recusou. "Dai-me da vinha que o meu Pai
trouxe do Egito!"
3 O Messias sabia que n'Ele haveria de realizar-se a profecia de
Moisés, que dizia-lhe respeito: "Vossas uvas são uvas amargas, e os seus
bagos são fel; vosso veneno é o veneno dos dragões e a vossa cabeça é a
de uma víbora; é isso que retribuís ao Senhor".
4 Vês, irmão Nemésio, como o piedoso Moisés previu com os olhos do
espírito o que no futuro haveria de acontecer ao Messias: "E isso que
retribuís ao Senhor". A vinha era um espinheiro, a saber, a comunidade
dos crucificadores; suas filhas eram as uvas amargas e seus filhos os
frutos azedos.
5 Caifás, seu chefe, a víbora traiçoeira; todos eles maus, cheios do
veneno de Satanás, que é o dragão monstruoso. Ao invés da água da rocha
que eles beberam no deserto, deram-lhe vinagre por bebida; em lugar do
maná e das codornas, fel.
6 Mas não lhe deram de beber numa taça, e sim numa esponja, indicando
assim que a bênção dos seus pais se afastara deles. Isso está a
significar o seguinte: quando um receptáculo está vazio e tendo acabado o
seu vinho, ele é lavado e purificado com uma esponja. Assim também
quando os judeus crucificaram o Messias, Ele esvaziou sua realeza, seu
sacerdócio e sua profecia, bem como a messianidade, e retirou-os deles.
Dessa maneira, restaram apenas os vasos dos seus corpos, espoliados e
vazios.
7 Quando se cumpriu a Lei e o tempo dos Profetas, e quando Adão foi
despertado e viu a vertente de água viva que lhe fora derramada do alto
para a sua salvação, o Messias triunfou pela lança, e do seu flanco
escorreram sangue e água. Mas estes não estavam misturados.
8 Por que verteu primeiro o sangue e depois a água? Por duas razões:
primeiro, porque através do sangue seria dada a vida a Adão, e depois,
após a vida e a Ressurreição, viria a água para o seu Batismo; em
segundo lugar, Ele mostrou com isso que pelo sangue, existe a
imortalidade, mas que pela água, é a mortalidade passível de sofrimento.
9 O sangue e a água fluíram para a boca de Adão, e assim ele foi
redimido e revestiu-se das vestes da Glória. O Messias escreveu-lhe a
carta da redenção com o seu próprio sangue e colocou-a nas mãos do
ladrão.
Capítulo 53
De Adão até o Messias
1 Quando tudo se havia consumado, foi escrita à Comunidade uma carta
de divórcio; ela foi repudiada e despojada das suas vestes de glória,
como dela já havia dito Davi, pelo Espírito Santo: "Até as quatro quinas
do Altar; até ali vigorarão as Festas dos Judeus".
2 "Até as quinas do Altar", isto é, até a Cruz do Messias. A saber:
de Adão e Seth, de Seth a Enos, de Enos a Cainan, de Cainan a
Mahalaleel, de Mahalaleel a Jared, de Jared a Enoque, de Enoque a
Matusalém, de Matusalém a Lamech, de Lamech a Noé, de Noé a Sem, de Sem a
Arpachsad, de Arpachsad a Salé, de Salé a Heber, de Heber a Peleg, de
Peleg a Regu, de Regu a Serug, de Serug a Nachor, de Nachor a Tharé, de
Tharé a Abraão, de Abraão a Isaac, de Isaac a Jacó, de Jacó a Judá, de
Judá a Farés, de Farés a Hesron, de Hesron a Aram, de Aram a Aminadab,
de Aminadab a Nahasson, de Nahasson a Salmon, de Salmon a Boaz, de Boaz a
Obed, de Obed a Isai, de Isai a Davi, de Davi a Salomão, de Salomão a
Jeroboão, de Jeroboão, a Abia, de Abia a Asa, de Asa a Josaphat, de
Josaphat a Jorão, de Jorão a Ocozias, de Ocozias a Joás, de Joás a
Amazias, de Amazias a azias, de azias a Jotham, de Jotham a Acaz, de
Acaz a Ezequias, de Ezequias a Manassés, de Manassés a Amon, de Amon a
Josias, de Josias, a JoAcaz, de JoAcaz a Joiakim, de Joiakim a Jojakin,
de Jojakin a Salatiel, de Salatiel a Zorobabel, de Zorobabel a Abiud, de
Abiud a Eliachim, de Eliachim a Azor, de Azor a Zadok, de Zadok a
Achin, de Achin a Eliud, de Eliud a Eleazar, de Eleazar a Matthan, de
Matthan a Jacó e Joaquim, de Joaquim a Maria, de Maria ao Presépio, do
Presépio à Circuncisão, da Circuncisão ao Templo, do Templo ao Egito, do
Egito à Galiléia, da Galiléia a Jerusalém, de Jerusalém ao Jordão, do
Jordão ao Deserto, do Deserto à Judéia, da Judéia à Pregação, da
Pregação ao Cenáculo, do Cenáculo à Páscoa, da Páscoa ao Pretório, do
Pretório à Cruz, da Cruz ao Sepulcro, do Sepulcro ao Cenáculo, do
Cenáculo ao Céu, e do Céu ao Trono, onde se assenta à direita de seu
Pai.
3 Vês, irmão Nemésio, como se sucedem as gerações e estirpes? De Adão
até os judeus, e dos judeus, uma após outra, até à morte na Cruz do
Messias. A partir desse momento, cessaram as Festas dos judeus, segundo
Davi já havia profetizado sobre elas: "Ligai as Festas com cadeias, até
as pontas do Altar".
7 As cadeias são as estirpes, que se conectam umas às outras; o Altar
é a Cruz do Messias. Até a Cruz do Messias, as Festas dos judeus eram
realizadas com Sacerdócio, Realeza, Profecia e Páscoa.
8 A partir da morte na Cruz do Messias, todas elas foram subtraídas
aos judeus, como dito acima, e para eles no futuro não haverá mais Rei,
Sacerdote, Profeta e Páscoa, segundo a profecia de Daniel: "Após
sessenta e duas semanas o Messias será morto, e a Cidade Santa ficará
destruída até o fim da guerra," isto é, por todos os séculos dos
séculos.
Capítulo 54
O Sepultamento do Messias
1 Cumprida a Lei e cumprido o tempo dos Profetas, e o Messias morto
na Cruz, José, irmão de Nicodemos e de Cléofas, foi ter com Pilatos;
pois ele era Conselheiro, possuía o selo de Pilatos e tinha grande
liberdade de palavra junto dele. Pediu o corpo do nosso Salvador;
Pilatos então ordenou que lhe fosse entregue.
2 Depois de haver retirado o corpo, Pilatos ordenou também que lhe
fosse destinado o horto onde se encontrava o sepulcro de nosso Salvador.
O horto na realidade era propriedade de José, tendo-lhe cabido por
herança, pelo levita Pinechas, primo de José.
3 José era de Jerusalém, mas fora nomeado Conselheiro em Arimatéia;
todas as correspondências emitidas durante o governo de Pilatos eram
carimbadas com o selo que estava em poder dele. Quando o corpo de Nosso
Senhor foi descido da Cruz, os judeus correram até lá, pegaram a Cruz e
levaram-na ao Templo, porque ela era feita das tábuas da Arca da
Aliança.
4 Nicodemos preparou o corpo de Nosso Senhor; José envolveu-o num
pano de linho novo e puro, e depositou-o num sepulcro nunca antes usado,
que fora construído para o sepultamento de Josué, filho de Nun. Este,
todavia, tendo visto com os olhos do espírito, e tendo intuído o curso
do plano de Salvação do Messias, tomara a pedra que acompanhou os
israelitas no deserto e colocou-a na entrada da sepultura; por isso é
que ele mesmo não foi enterrado ali.
5 Depois que José, Nicodemo e Cléofas sepultaram o Messias, colocaram
essa pedra na entrada do sepulcro. Vieram então os sumos sacerdotes e a
comitiva de Pilatos e lacraram a sepultura e a pedra.
6 Agora, irmão Nemésio, admira e louva a Deus por isso: as traves da
Cruz do Messias foram incorporadas às tábuas da Arca do culto divino e
ao recinto do Santuário da Reconciliação! Trata-se daquilo que Deus
havia ordenado a Moisés. Devia fazer um corselete do julgamento e da
paz: de julgamento, para os judeus que O crucificaram; de paz, para os
que n'Ele acreditam.
7 A sua Cruz era da madeira do Santuário, e seu sepulcro era novo,
destinado que fora para a sepultura de Josué, filho de Nun. A rocha, que
é o Messias, distribuiu água no deserto para seiscentas mil pessoas;
agora ela é um Altar que dá vida a todos os homens. Essa palavra do
Apóstolo, dizendo que aquela pedra era o Messias, é verdadeira e muito
digna de crédito.
8 José fora nomeado Conselheiro em Arimatéia, Nicodemo, Doutor da Lei
em Jerusalém, e Cléofas, Escriba dos Judeus em Emaús. Nicodemo havia
preparado para o Messias no Cenáculo tudo o que era necessário para a
Páscoa.
9 José envolveu-O e sepultou-O na sua herança, e Cléofas recebeu-O em
sua casa. Quando Ele ressurgiu do reino dos mortos, esses eram para Ele
como irmãos na verdade e na pureza.
10 Quando José O desprendeu da Cruz, destacou também o letreiro que
estava afixado por sobre a sua cabeça, isto é, no alto da Cruz do
Messias; fora redigido por Pilatos em grego, latim e hebraico. Por que
Pilatos não escreveu nenhuma palavra em siríaco?
11 Porque os sírios não tinham nenhuma participação no sangue do
Messias, e porque Pilatos era um homem sábio e amante da verdade. Ele
não quis escrever nenhuma mentira, como fazem os maus juizes; agiu muito
mais de acordo com o que está na lei de Moisés: "Aqueles que condenam
os justos..."
12 Na qualidade de assassinos de Deus, ali deveriam constar os seus
nomes. E Pilatos escreveu isso, afixando a inscrição por sobre o
Messias, que foi morto por Herodes, o grego, por Caifás, o judeu, e por
Pilatos, o romano. Mas os sírios não tiveram nenhuma parte na sua morte;
disso é testemunha Abgaro, o rei de Edessa. Ele quis marchar contra
Jerusalém e destruí-la, por haver os judeus crucificado o Messias.
Capítulo 55
A Descida de Cristo aos Infernos e sua Ressurreição
1 A descida do Messias ao inundo inferior não foi em vão, mas ao
contrário, foi a causa de muitos benefícios para a nossa geração. A sua
descida aos lugares inferiores da terra eliminou o poder da morte e
distribuiu o perdão àqueles que haviam pecado sem conhecerem a Lei.
2 Ela destruiu o mundo inferior, exterminou o pecado, envergonhou
Satanás, perturbou os demônios, removeu os altares dos sacrifícios e
holocaustos, preparou a volta de Adão e esvaziou as Festas dos judeus.
Quando no terceiro dia ressurgiu do sepulcro, Ele apareceu a Cefas e a
João.
3 Quando o Messias ainda estava no sepulcro, e os guardas sentados ao
seu redor, Simão Cefas decidiu em seu coração oferecer vinho aos
guardas, para que se embebedassem e caíssem no sono; ele queria depois
abrir o sepulcro e retirar o corpo do Messias, sem danificar o lacre,
para que os judeus não pudessem dizer: "Os seus discípulos o roubaram."
4 Enquanto os guardas comiam e bebiam, o Messias ressuscitou e
mostrou-se a Cefas, que acreditou verdadeiramente que Ele era o Messias,
o Rei do céu e da terra. Cefas, porém, não se aproximou do sepulcro.
Depois disso, Ele apareceu abertamente aos guardas; dirigiu-se aos seus
discípulos no Cenáculo; e ali foi tocado por Tomé.
5 Depois apareceu-lhes também sobre o mar. Por tê-la Simão Cefas
negado três vezes diante dos judeus, Ele o confirmou por três vezes
diante dos discípulos. Entregou nas suas mãos e confiou-lhe todo o seu
rebanho, dizendo-lhe na presença dos seus discípulos: "Apascenta os meus
cordeiros, as minhas ovelhas, os meus cordeirinhos!" Trata-se dos
homens, das mulheres e das crianças.
6 Quarenta dias após a Ressurreição, Ele confiou aos Apóstolos a
imposição de mãos do sacerdócio, subiu ao céu e assentou-se à direita de
seu Pai. Em seguida, os Apóstolos se reuniram e foram ao Cenáculo com
Maria, a Virgem Santa.
7 Simão Cefas batizou Maria e João, o jovem, e levou-a para sua casa.
Decidiram jejuar, até receberem todos juntos o Espírito, o Paráclito,
no dia de Pentecostes, ali mesmo onde estavam reunidos. Foram-lhes
distribuídas línguas, e cada um partiu para ensinar os povos, de acordo
com a língua que lhes fora dada; e assim não houve desentendimento entre
eles por toda a eternidade.
8 Fim da escrita do presente livro sobre o ordenamento e a seqüência
das gerações, desde Adão até o Messias. Ele se chama "Caverna dos
Tesouros".
9 Honra seja dada a Deus por toda a eternidade! Amém.