Trabalhando

Trabalhando
Sessão da Câmara Municipal

sábado, 13 de abril de 2019

José de Alencar (O Guarani)




JOSÉ DE ALENCAR: José de Alencar nasceu em Mecejana, no Ceará, em 1829, e morreu no Rio de Janeiro, em 1877. O pai e a mãe eram primos, sendo que o pai era padre e político. A família toda era de revolucionários, mas José de Alencar não seguiu a tradição familiar. Foi várias vezes eleito deputado. Desistiu da política e passou a se dedicar só à literatura. Foi o primeiro grande romancista brasileiro, influenciando os escritores futuros. Seus livros faziam parte de um ambicioso projeto pessoal de unificar o Brasil pela literatura. Para isso, escreveu sobre acontecimentos da História do Brasil, como em A Guerra dos mascates; sobre os índios, como em O Guarani (romance publicado em 1857), Iracema e Ubirajara; sobre os tipos humanos das diversas regiões do Brasil, como em O gaúcho e O Sertanejo; e sobre a vida na capital brasileira no tempo do Império, Rio de Janeiro. Além de histórias sentimentais, como Viuvinha e Encarnação, escreveu obras polêmicas: Senhora, que denuncia o casamento por interesse, e Lucíola, que mostra o preconceito contra a prostituição. Também escreveu para o teatro: O demônio familiar, por exemplo, apresenta um garoto escravo que cria uma grande confusão doméstica por se intrometer na vida de seus amos. Tudo isso em apenas 48 anos de vida.
            Destacou-se na carreira literária com a publicação do romance "O Guarani", em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro, onde alcançou enorme sucesso. Seu romance "O Guarani" serviu de inspiração ao músico Carlos Gomes que compôs a ópera O Guarani. Foi escolhido por Machado de Assis para patrono da Cadeira nº23 da Academia Brasileira de Letras.


            O Guarani
         A história contada por José de Alencar se passa no início do século XVII, na Serra dos Órgãos, interior do Estado do Rio de Janeiro, em uma fazenda as margens do rio Paquequer. A história toda transcorre na Floresta do Vale do rio Paraíba, numa região isolada entre São Paulo e o Rio de Janeiro.
            Narrado em terceira pessoa, o romance é dividido em quatro partes (Os aventureiros, Peri, Os aimorés e A Catástrofe). Profundamente descritivo, o narrador procura pintar cada detalhe da região, da casa e dos personagens. 
Personagens principais
OS HERÓIS:
Peri: jovem cacique guarani da tribo goitacá. Belo, forte, corajoso, arqueiro infalível e guerreiro invencível, ele adora Cecília (a quem chama de Ceci) e é capaz das proezas mais extraordinárias apenas para ver a moça sorrir, O pai dele se chamava Ararê. É o herói da história. 
Ceci (Cecília): É a heroína da história. Típica representante do romantismo. Cecília é filha do casal D. Antônio de Mariz e D. Lauriana. Jovem portuguesa, loira, delicada e gentil. Cecília tem bom coração e cativa a todos, em especial o aventureiro Álvaro e o frade renegado Loredano. No início, ela vê em Peri apenas um escravo, depois um amigo, e no fim do romance descobre que ama o índio.
D. Antônio de Mariz: Pai de Cecília, D. Diogo e Isabel. Fidalgo português que se estabelece com a família em uma fazenda as margens do rio Paquequer, interior do Estado do Rio de Janeiro. Fiel à sua pátria. Lutou em várias guerras e põe a honra e a fidelidade acima de tudo.
D. Lauriana: Mãe de Cecília e D. Diogo, esposa de D. Antônio de Mariz. É uma portuguesa de meia-idade, religiosa demais e muito preconceituosa. Gosta de humilhar os outros, especialmente a enteada Isabel.
D. Diogo: Irmão de Cecília e meio irmão de Isabel, D. Diogo é filho do casal D. Antônio e D. Lauriana. Jovem corajoso.
Isabel: Filha bastarda de D. Antônio com uma índia (passa por sobrinha dele), é uma morena sensual que vive com a família Mariz. É apaixonada por Álvaro de Sá. Sofre com o preconceito, com o desprezo da madrasta, com o não reconhecimento pelo pai e principalmente com a paixão por seu amado.
Álvaro de Sá: Amigo de longa data da família Mariz, Álvaro de Sá nutre uma paixão não correspondida por Cecília. A meia irmã de Ceci, Isabel, por sua vez, é apaixonada por Álvaro de Sá.
Aires Gomes: Escudeiro de Dom Antônio, serve ao fidalgo há trinta anos. Honesto, corajoso e fiel como um cão, às vezes exagera na pose militar e passa por situações ridículas.
OS VILÕES
Loredano: Empregado da fazenda de D. Antônio de Mariz, Loredano é um vilão por excelência. Planeja usurpar o patrimônio do patrão e raptar Ceci. Antes de se apaixonar por Cecília e triar a confiança de Com Antônio, era o frade capuchinho italiano Ângelo di Luca, que abandonou a religião para se tornar um ambicioso aventureiro quando recebe do moribundo Fernão Aines o roteiro das minas de prata.
Bento Simões: Comparsa de Loredano, é covarde e muito supersticioso.
Rui Soeiro: Principal comparsa de Loredano, é inteligente e traiçoeiro, mas também um pouco supersticioso.
Martim Vaz: Depois da morte de Bento simões e Rui Soiro, assume o lugar de braço-direito de Loredano, mas abandona o vilão no final.
OS AIMORÉS
Tribo: índios primitivos e canibais, muito ferozes, fortes e vingativos, que atacam a casa de Dom Antônio de Mariz para vingar a morte acidental de uma moça, atingida por tiro de Dom Diogo.
Jovem índia: Correndo atrás de seu cachorrinho, ela surge no caminho do tiro de Dom Diogo, numa caçada.
Dois guerreiros: Tentam vingar a jovem morta por Dom Diogo matando Cecília, mas são mortos por Peri.
Mãe: Convoca os aimorés para vingar a morte da filha e dos dois guerreiros.
Velho Cacique: Um velho índio gigantesco e fortíssimo que lidera o ataque dos aimorés e é morto por Álvaro antes que consiga matar Peri.
Filha do cacique: Destinada pelo pai a satisfazer as últimas vontades do prisioneiro Peri antes de ele ser devorado, ela se apaixona pelo índio, mas é repelida. Mesmo assim, morre para salvar a vida dele.
OUTROS PERSONAGENS:
Aventureiros: Quarenta homens corajosos contratados por Dom Antônio de Mariz para defender a casa do Paquerer e procurar pedras preciosas. São enganados por Laredano, mas no final queimam o vilão na fogueira.
Mestre Nunes: Amigo de Aires Gomes, é o dono da pousada na floresta onde Frei Ângelo di Luca se apodera do mapa das minas de prata.
João Feio: Rapaz corajoso que se deixa levar pelas intrigas de Laredano, mas é um homem leal e bom cristão, que no final se reconcilia com Dom Antônio.
Fernão Aines: Assassino arrependido que na hora da morte pede a Frei Ângelo que devolva o roteiro das minas de prata à viúva do verdadeiro dono.
Mãe de Peri: Não quer que o filho fique com os brancos, mas respeita a vontade dele.
Os vizinhos: Moradores das proximidades da casa de Dom Antônio, costuma se abrigar ali quando os índios atacam.
O índio catequizado: Amigo de Frei Ângelo, é morto pelo frade canalha para não revelar a localização do roteiro das minas nem a identidade do vilão.
Síntese da trama
            A história se passa na época da colonização do Brasil, nos anos de 1603 e 1604. Peri é um jovem índio guarani, da tribo goitacá, que salva a vida da jovem Cecília e se torna amigo da moça. Ela mora numa casa construída no alto de um rochedo, no Vale do Paraíba. Peri descobre a traição do aventureiro Loredano, um frade carmelita renegado, que pretende raptar Cecília e matar o resto da família. Peri e Álvaro, comandante dos aventureiros a serviço do pai de Cecília, Dom Antônio de Mariz, enfrentam a revolta, mas a propriedade é atacada pelos canibais da tribo aimoré, que querem vingança porque o irmão de Cecília matou acidentalmente uma índia da tribo. Álvaro amava Cecília, mas se apaixona pela prima dela, Isabel, mestiça que é na verdade irmã natural da moça, filha de Dom Antônio com uma índia. Álvaro morre, Isabel se mata, e Loredano é descoberto e queimado na fogueira pelos próprios companheiros de revolta. Quando os aimorés vão tomar a casa, Peri foge com Cecília numa canoa, e Dom Antônio explode a casa e o rochedo, morrendo junto com a família, os aventureiros e todos os inimigos.
            Durante dias eles rumam a um destino incerto e são surpreendidos por uma forte tempestade, que inunda o Rio Paraíba, transformando-se num dilúvio. Peri luta contra a própria natureza para desprender uma palmeira do solo, a fim de salvar Cecília. Abrigados no topo da palmeira, Cecília espera pela morte, mas o índio, confiante, conta-lhe a lenda de Tamandaré, segundo a qual ele e sua esposa salvaram-se de um dilúvio abrigando-se no topo duma palmeira desprendida da terra, alimentando-se dos frutos. Ao término da enchente, ambos desceram da palmeira e povoaram a terra. O dilúvio foi uma forma de apagar o passado dos dois jovens, superando-se as relações de “escravo” e “senhora” existente entre ambos, bem como se superam as diferenças raciais e culturais. A água, símbolo de purificação e renovação, ao mesmo tempo em que desabriga o casal, iguala-os. Já não são mais o selvagem e o civilizado: são apenas homem e mulher, livres da convenção social, prontos para “habitar o paraíso americano” e viver a “vida natural” idealizada por Rousseau. Assim, supõe-se que, ao invés de morrer, o casal repetirá a lenda de Tamandaré.
José de Alencar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de dezembro de 1877.
Obras de José de Alencar
Cinco Minutos, romance, 1856;
Cartas Sobre a Confederação dos Tamoios, crítica, 1856;
O Guarani, romance, 1857;
Verso e Reverso, teatro, 1857;
A Viuvinha, romance, 1860;
Lucíola, romance, 1862;
As Minas de Prata, romance, 1862-1864-1865;
Diva, romance, 1864;
Iracema, romance, 1865;
Cartas de Erasmo, crítica, 1865;
O Juízo de Deus, crítica, 1867;
O Gaúcho, romance, 1870;
A Pata da Gazela, romance, 1870;
O Tronco do Ipê, romance, 1871;
Sonhos d'Ouro, romance, 1872;
Til, romance, 1872;
Alfarrábios, romance, 1873;
A Guerra dos Mascate, romance, 1873-1874;
Ao Correr da Pena, crônica, 1874;
Senhora, romance, 1875;
O Sertanejo, romance, 1875.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Pedro Mentira



               Numa cidadezinha do interior de São Paulo, existia um sujeito mentiroso, engraçado e de meia idade. Gostava de inventar lorotas, enganar os outros. Era a mentira em pessoa! Por isso, perdeu seu nome de batismo e foi apelidado pela população de Pedro Mentira.
              Certa vez, ele chegou à Subprefeitura, o pessoal estava tomando o cafezinho da manhã, quando o funcionário de primeiro escalão, Luis Manco perguntou-lhe:
              - Qual a mentira dessa vez Pedro Mentira?
              Pedro Mentira ficou cabisbaixo, triste, e respondeu-lhe:
              - Hoje me recuso a contar uma, estou chateado.
              - Ah!... Conta uma mentirinha, nem que seja bem pequenininha, conta! Só para não perder a força do hábito.
              - Não! Hoje meu coração está de luto.
              - Por quê? O que houve?!
              - Um velho amigo faleceu agora a pouco.
              - Quem?!
              - O mais ilustre dos cidadãos da nossa cidade, o meu compadre e pioneiro, Neném Baiano.
              - Sério? Meu Deus!
              Luis Manco correu para o telefone e avisou o prefeito. Fez-se um alvoroço... Foi decretado luto oficial por três dias, imediatamente. Os funcionários foram dispensados. O comércio baixou as portas. O badalo da Igreja anunciou o acontecido. O povo colocou tarja preta no ombro em sinal de luto. A lamentação tomou conta daquele lugar.
              Luis pegou a família, pôs no seu carro e partiu para o Distrito rumo à casa do falecido. Formou-se um comboio. O ônibus da prefeitura, lotado, partiu pra lá também. Quem não tinha carro ou carona foi do jeito que pôde.
              O Distrito ficava a uns seis quilômetros. A cidade partiu pra lá. O choro tomou conta do comboio.
              Luis Manco, que puxava a fila, ao se aproximar da casa do morto, observou que não havia movimento algum nela.
              O povo do Distrito ficou assustado com tantos carros e visitantes. Luis Manco gritou para o Zitão que estava sentado à beira da porta:
              - Onde é o velório!
              - Sei não sinhô!
              Luis, manco, fez a volta e foi até a pracinha, centro do Distrito, e percebeu que os truqueiros (Jogadores de truque) estavam em silêncio, e ao se aproximar, desmaiou... Quando acordou, notou que estava no quarto do Hospital Municipal, e assustado, rodeado de muita gente, gritou:
              - Que aconteceu! Que estou fazendo aqui?!
              Observou dentre a multidão a presença de Pedro Mentira, e irado, gritou:
              - Pedro Mentira, seu desgraçado! Você quase me matou! Por que fez isso?!
               Pedro Mentira meio embananado, respondeu-lhe:
              - Ué, você não me pediu para contar uma mentirinha!... Contei.



Prof Osmar Fernandes em 08/03/2009
Código do texto: T1475030